Healdsburg, Califórnia. 24 de Dezembro de 2022.
O vento gelado era fácil de se sentir. A queda lenta do flocos de neve. A extensão branca que cobria a paisagem. A tranquilidade da noite onde todo barulho do homem e da natureza é silenciado. A alegria e os sorrisos das crianças durante os dias de dezembro. Xícaras fumegantes de chá ou chocolate, suéteres de lã coloridos e casas decoradas. Era véspera de Natal e todos estavam em suas respectivas casas com sua família para celebrar, a não ser por mim. Que estava em um dos pequenos restaurantes que existira em Healdsburg. Desacompanhada, sozinha. Em plena véspera de Natal.
Pessoas ao redor caminhavam depressa. Talvez atrasadas, talvez apenas cansadas e ansiosas para chegarem em suas casas e apenas aproveitar o calor de seus edredons. Deixei-me a atenção que depositava na rua, agora para o garçom. Ele andava de um lado para o outro com sua bandeija e pedidos sobre ela. Parecia cansado do trabalho, mas ainda sim parecia feliz por tê-lo. Alto, moreno, olhos escuros e um belo corpo -na minha visão era perfeitamente desenhado-. Bom, não poderia deixar de elogiá-lo.
Coloquei minha atenção agora, sobre meu capuccino. Segurei com tanta delicadeza à pequena xícara enquanto a levava a boca. Estava perfeito. Seu gosto levemente adocicado, mas não amargo. Do jeito que eu amava. Continuei com leves goles da minha bebida até chegar ao fim dela. Olhei para a parede, 23:41h. Era oque marcava naquele relógio de madeira. Faltavam um pouco menos de vinte minutos para o tão esperado 25 de dezembro.
Levantei-me de minha mesa para ir ao caixa pagar pela bebida e, com muita vontade, pagar por um doce da vitrine em cima do pequeno balcão. Uma rosquinha de chocolate com cobertura de chantily e brigadeiro.
"Boa noite, senhorita...?" - Falou ele, o garçom. Que, agora, estava no caixa para atender e recolher os pagamentos. Ele parecia ser multi funções nesse estabelecimento. Seu rosto exalava educação e gentileza. Um sorriso enorme e muito cativante.
"Boa noite, gostaria de uma rosquinha de chocolate, por favor. Acrescente o valor de meu capuccino." - Respondi. Prontamente ele começou arrumar oque pedi. - "Deve estar sendo difícil trabalhar até tarde em plena véspera. Enquanto tomava meu capuccino, não pude deixar de observá-lo servindo à mesa próxima da minha. Parecia com vontade de ir embora para casa." - Comentei.
"Sim. Mas estou apenas cansado, não terei ninguém em casa me esperando para comemorar. Faz pouco tempo que mudei-me para Healdsburg" - Respondeu ele. Continha sinceridade em seu tom de voz.
"Compreendo. Uma pena. Eu acho." - Respondi.
"Aqui está. O valor ficou em $5 dólares." - Entregou me a rosquinha dentro de uma sacola de papel. Impedindo de que esfrie. Coloquei o dinheiro em cima do balcão e ia arrumar-me para sair do local, virando as costas um pouco para o balcão.
"E você? Ansiosa para chegar em casa?" - Perguntou o garçom. Ainda de costas, respondi.
"Não tenho ninguém me esperando em casa."
"Meu expediente terminará dentro de cinco minutos. Se a moça bonita quiser alguém para conversar, estarei a disposição." - Disse ele. Com isso, virei-me de volta para ele. Seu rosto exalava um ar de "preocupação" talvez por pensar que tivesse ido longe demais em convidar ou apenas estivesse com vergonha. Ou apenas era sua reação normal.
"Estarei ao lado de fora esperando algum garçom vir para alcançar-me outra rosquinha. Se estiver a disposição." - Brinquei na última frase e saí.
Avistei um sofá avermelhado em baixo da área da cafeteria. Havia uma fogueira a sua frente. Sentei-me e fiquei a sua espera, admirando a rua, faltando apenas dez minutos para o Natal. Minhas últimas lembranças natalina não foram das melhores, e eu não há um dia em que eu não me lembre do ocorrido.
"Eu nunca mais quero olhar na sua cara." Essas foram as últimas palavras dele para mim, e como doeu. Doeu e ainda dói, mesmo que tenha passado 7 anos o peso dessas palavras nunca foram esquecidas por mim.
"Parece pensativa. Família?" Disse o homem multi funções, sentando-se ao meu lado com uma embalagem em mãos.
"Lembranças de natal." Olhei para a embalagem em suas mãos. "Acho que terá que me acompanhar, ainda não provei nenhum pedaço da minha." Falei e sorrimos um para o outro.
"Faz quanto tempo que está morando em Healdsburg? Disse que tinha se mudado a pouco tempo." Perguntei enquanto mordia um pedaço da rosquinha, estava deliciosamente perfeita.
"Quatro meses e meio. Vim por motivos familiares, mas eles acabaram se mudando e eu acabei ficando. Healdsburg é melhor que Duskwood." Falou sorrindo e dando de ombros. Mas sua última palavra, foi um choque em mim.
"Duskwood? Você é de Duskwood?" Perguntei.
Ele olhou-me estranho e desconfiado pelo meu nervosismo repentino e então respondeu-me: "Sim, nasci em Duskwood e criei-me lá. Você conhece a cidade?"
"Sim, eu... tinha amigos lá." Respondi.
"Amigos? Uau, talvez você conheça meus primos então? A cidade é pequena, quase todo mundo se conhece lá." Falou empolgado, parecia gostar de seus primos.
"Qual o nome deles?"
"Jake, Lilly e Hannah Donfort."
Não, não pode ser...
Continua?
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O Segredo nas Sombras | Duskwood
Misterio / Suspenso"Oque aconteceu no dia 18 de dezembro de 2015?" Inspirado no jogo DUSKWOOD.