Controle

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Estava perdido. Já não sabia mais o que fazer, dera um fora na matilha -literal e figurativamente- e com os rumores pela escola não sentia-se preparado para enfrentar novos maus olhares e o pior, o perigo de seu segredo ser revelado. 

Com o coração à mil, corria os olhos pelo quarto em desespero, procurando alguma coisa, qualquer coisa, que acalmasse os pensamentos errantes. Sem notar, sua respiração se tornou rápida e entrecortada. Um ataque de pânico.

Cambaleante, levantou da cama e correu para debaixo da escrivaninha. De alguma forma, se esconder melhorava mesmo que mínimamente o problema. Encolhido, ocultou o rosto entre os joelhos ossudos e simplesmente esperou.

Não era a primeira vez e certamente não seria a última vez a ter um ataque. Conhecia os sintomas como a palma da mão, mas desta vez, faltavam bons pensamentos para afastar o pânico.

***

Quanto John chegou, mesmo que tarde da noite, encontrou Stiles à sua espera no sofá, oculto na escuridão a não ser o rosto cuja luz da Televisão iluminava. Seja pelo instinto de policial ou de pai, sentia que algo estava errado. 

"Stiles?" ao levantar o rosto para o dito pai, permitiu que pudesse ver uma expressão abatida em seu rosto ainda marcado pelas lágrimas de algum tempo atrás. 

— Pai. — respondeu fracamente. Quieto, deixou que o silêncio tomasse conta enquanto organizava seus pensamentos. Havia tanto a dizer mas ao mesmo tempo, não conseguia transformar os sentimentos em frase alguma. —O que eu fiz de errado?

"Ah Stiles..." sob o lamurio do pai, permitiu-se continuar com suas divagações antes que desistisse. — Eu tentei, juro. Eu tentei ser um bom amigo, uma boa pessoa. Então por que tem que doer? 

A dor nos olhos âmbar atingiu John com severidade, tratou então de abraça-lo, deixando que afogasse as mágoas num gesto de carinho. "Eu não sei Stiles. Juro que queria saber, queria poder te ajudar nisso, fazer parar de doer. Mas eu não posso."

Nos braços de John permitia-se relaxar lentamente, deixando as lágrimas seguradas voltarem com força total, desta vez sem o pânico anterior no entanto. "Sei que soa clichê, mas no fim tudo te torna mais forte. E eu sei que parece tão mais fácil desistir de tudo, mas no meio de todos os problemas tem aqueles momentos, aqueles pequenos e breves momentos que fazem valer à pena."

Stiles pode sentir a mão acariciando seus cabelos, tornando a dor mais suportável. "Só lembra que quem te ama vai sempre estar do seu lado, independente do quão difíceis esses momentos forem."

Sentindo-se um pouco aliviado, nem mesmo notou quando as lágrimas se acabaram, deixando para trás apenas o grande cansaço do dia que reivindicou-o num sono profundo.

Quando acordou no dia seguinte em seu quarto, pensou por um momento que tudo tivesse sido um sonho ruim, muito ruim. Ao ver um bilhete com a letra do pai em seu criado mudo, no entanto, constatou que mais uma vez a sorte estava contra si.

Fui para o trabalho, tem comida na geladeira e remédio de dor de cabeça se precisar. Ps: desliguei o alarme, não precisa ir pra escola hoje, descansa.

Suspirou aliviado, no mínimo de um dos males havia escapado. 

***

Discutia consigo mesmo numa séria discussão mental, totalmente inclinado a passar o dia todo na cama comendo tudo o que visse pela frente. Para grande infelicidade, no entanto, a parte coerente ganhou e sem muita opção resolveu sair para esfriar a cabeça, quem sabe comer um belo balde de batatas fritas sozinho?

Mas claro, para Stiles Stilinski a chance de algo dar certo é de uma em um milhão.

No meio do caminho para sua lanchonete preferida avistou, na outra rua, Travis que caminháva na companhia de um garoto qualquer da escola -de certo algum de seus contatinhos-. Tentando manter-se oculto vestiu o capuz do moletom largo que vestia e virou o rosto para o lado contrário, o passo já mais apurado. 

Sua audição, todavia, apurou-se ainda mais inconscientemente, com o foco completo na conversa dos garotos. "Maluco." "Doido", inúmeros outros adjetivos surgiam na conversa e por mais incrível que pareça, Stiles sentia-se aliviado com isso. Travis e Goyle teriam tido o senso de manterem seu secredo em troca de boa fama?

"Olhos vermelhos."

Parece que não.

Devia ter imaginado. Como poderia achar que perderiam tal oportunidade?

No ritmo mantido, não tardou a chegar à tão desejada lanchonete, mas àquele ponto sequer interessava-se nas batatas, a mente ainda presa na tão recente conversa escutada. Talvez tivesse confundido tudo, ele pode ter falado de outra coisa parecida, certo? Tentava inutilmente convencer a si mesmo.

Quando, ao soar de um sininho, viu a dupla de rapazes cruzar a porta de entrada desistiu dos argumentos internos. Quem queria enganar afinal, é claro que teria contado aos outros. 

Como se seus sentidos fossem ofuscados, ignorou a tudo e todos. Sequer ligava para as pessoas ao redor, ou para a conversa que ainda continuava entre os dois. Diferente do dia anterior, não era a tristeza ou ansiedade a dominá-lo mas sim a mais pura raiva.

O calor queimava em seu interior. Como... como ele pôde? Caminhava na direção dos dois, o passo firme e decidido. Não deixaria isso assim, não depois do que acontecera na noite anterior. Eu ainda dei uma chance 'pra esse babaca. A energia era quase palpável, seus olhos já adquiriam uma chama anormal que qualquer um podia ver e sabia que no momento em que colocasse as mãos em Travis, pessoa alguma poderia impedi-lo de cometer um crime.

Foi então que o jogar virou o rosto, fazendo contato visual. Pôde enxergar naqueles olhos sua própria aparência, um louco encapuzado com olhos brilhantes e uma expressão mortal. Com a audição apurada voltando ao foco, escutou os batimentos cardiácos errantes, tão altos que ecoavam em sua cabeça.

Era aquilo que provocava nos outros? Medo?

Num curto lapso de raciocínio girou nos calcanhares, saiu porta a fora e então correu.

Correu sem direção, em um estante normal e então rápido como um raio. A vista dos prédios do centro se distanciou e em segundos viu-se tropeçando nos ramos de árvore da propriedade Hale. 

Os pensamentos gritavam, como pudera ter fantasiado com algo tão ruim quanto aquilo? Quase estragou todo o esforço de sua mãe para escondê-lo em troca de vingança. Quase...

Os delírios tornaram-se tantos que o pouco de razão que ainda podia ter desapareceu. Precisava de silêncio, de descanso. Mas tudo estava tão alto.

Seus sentidos pareciam incontroláveis. Escutava tudo, desde as folhas e animais até carros na estrada próxima. A cada piscada podia enxergar mesmo as raizes afundadas no chão, a luz tão forte que parecia cegar. 

Não sabia o que fazer. Naquele momento, precisava de paz. Ele só queria que tudo parasse.

E foi então que gritou. 

Um grito de desespero, de cansaço que pôs para fora tudo o que sentia.

Com a respiração acelerada, se deixou escorrer pelo tronco de uma árvore até o chão. Silêncio.

Aliviado, deixou-se aproveitar da quietude quebrada apenas pelo vôo dos pássaros assustados. Se sentia no controle novamente, as emoções tão intensas no passar dos dias finalmente amenizadas. Os pensamentos já não pareciam prestes a explodir sua cabeça.

Expirando calmamente, abriu os olhos lentamente para ter a visão de uma árvore com um buraco no meio, qual fizera sem perceber no frenesi de emoções. Ao lado, uma cena conhecida o perturbava profundamente. Um tronco antigo cortado pela base. O nemeton.

Apesar dos problemas em que sabia ter se metido, sorria ao fechar novamente os olhos. Nem mesmo aquilo perturbaria sua paz momentânea.

 — Eu 'tô perdendo o controle. — constatou em voz alta, rindo para a ironia da vida. 


----Notas

Eu terminei esse daí correndo porque tenho aula amanhã, então qualquer erro relevem.

O que será que vai acontecer com nosso querido Stiles? E o que o Nemeton tem haver com isso? 

Só digo uma coisa: Se liguem hein, fiquem ligados

𝐌𝐢𝐞𝐜𝐳𝐲𝐬𝐥𝐚𝐰 𝐆𝐚𝐧𝐝 𝐙𝐨𝐫-𝐄𝐥 - 𝐓𝐞𝐞𝐧 𝐖𝐨𝐥𝐟Onde histórias criam vida. Descubra agora