Confronto - Parte 1

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Eric está sozinho na Sala de Dança da Escola Ruth Goulart, com as portas da entrada e da saída bem fechadas, fones postos confortavelmente em cada ouvido para não fazer muito barulho nas dependências nem para chamar atenção dos outros alunos que estão do lado de fora. O garoto está ensaiando passos de uma coreografia que veio na sua cabeça assim que pisou fora de casa. Ele quer dominá-la para postar na sua conta do Instagram e TikTok ainda hoje. Se for possível, é claro.

Quando o garoto vai fazer um novo passo para a direita que requer um certo esforço a mais para finalizá-lo e que já lhe custou uns bons dez minutos, ele escuta um barulhão vindo do interior da sala. Ele para no ato e fica imóvel, olhando assustado para todas as direções para encontrar quem o interrompeu num momento tão importante como aquele.

Passado menos de três segundos, Eric ouve algo como um cavalo vindo atrás de si. Não há tempo nem de se virar e entender o que está acontecendo direito, pois ele ver logo a mão enorme de João puxar a gola da sua camisa e, após um curto período de tempo se fitando-o, o outro lhe dá uma cabeçada que faz o garoto ver estrelas.

- Quem disse que tu vai ser o príncipe da Poliana na festa de quinze anos dela, cara de jumento? - diz o cacheado, puto da vida, cuspindo (literalmente) as palavras na cara do rival. - Qualquer um, menos um merda como tu, entendeu?! Eu não vou aceitar isso nem que me paguem, seu filho duma rapariga!

Eric, que ainda ver algumas estrelas enormes circulando os cabelos de João, tenta se desvencilhar do mesmo.

- Que diabos cê tá falando, cara? Eu... ai, me solta, porra! - o empurra com força, mesmo sabendo que não irá conseguir o efeito desejado com isso. A cabeçada que João lhe dera ainda está provocando dores na testa. Está se sentindo meio tonto também - Eu não sei do que você está falando, seu bruto! Me solta agora, ou...

João, que está fora de si, dá uma risada debochada que faz Eric tremer.

- Ou o quê? Vai chamar a mamãe, hum?! - explode, apontando o dedo para fora do cômodo em desafio. Eric sente o bafo de café recém tomado entrar nas suas narinas. - Não quer resolver isso como homem, não? Ah, desculpe, me desculpe! Tu é um moleque mesmo, né? Sempre me esqueço disso!

Raiva surgi no peito de Eric pela ofensa. Mas, ao invés de rebater, o jovem trinca os dentes para se segurar e não fazzer o mesmo que oseu agressor. Ele quer primeiro ser solto pelo outro para poder fazer algo que irá lhe causar muita dor. Porém, conclui que deve esperar um pouco mais, pois enquanto estiver preso nas mãos de João, ele sabe que saiŕa bem mais machucado.

Eric olha por cima do ombro de João, para ver se alguém vem socorrê-lo depois de ter escutado a confusão ou algo nesse sentido. Infelizmente, as portas continuam fechadas e ninguém vem ao encontro dos dois. A única coisa que ele escuta é o som da respiração do cacheado, que está bastante vermelho.

- Não vai falar nada, não? - João questiona, com um olhar intenso. - Não adianta ficar mudo! Fala logo, senão de dou outra cabeçada!

Eric engole em seco, sem entender nada do que o outro fala. Ele toca no braço de João e puxa o membro, fazendo outra tentativa de se desvencilhar.

- Não posso dizer algo que nem mesmo eu sei, mano! - retruca, nervoso. - Eu juro: não faço ideia do que cê tá falando, caipira!

João faz cara de desdém. Ele não acredita nas palavras de Eric. Nenhum pouco.

- Não pense que sou besta, Eric. Eu não sou isso! Pensa que não sei que tu tá gostando da Poliana?

Eric sente o sangue subir pelo pescoço e vira o rosto, subitamente envergonhado.

Jogo do Contente (Joric)Onde histórias criam vida. Descubra agora