Oh, father, tell me Oh pai, me diga
Do we get what we deserve? Nós recebemos o que merecemos?
And way down we go Ladeira abaixo nós vamos
(Way Down We Go - Kaleo)
- Não precisava, David. – sua avó murmurou com a voz embargada, recebendo nas mãos a suculenta de folhas verdes e gordinhas.
- É a única coisa que você não briga por eu dar a você, vó. – ele beijou a testa suada dela.
- Porque você já me dá muito, meu filho. Ó esse treco daqui – ela apontou para o canto direito da sala, onde do lado da estante da televisão havia um umidificador de ar, que ele havia a presenteado num dia qualquer. – Eu nem sei pra quê serve!
- A senhora tem problema respiratório. Isso ajuda a manter o ar úmido e facilitar a respiração. – tentou a explicação mais simples possível.
Dona Maria aparou a plantinha na mesa ao lado, e colocou as duas mãos na cintura, meneando a cabeça pensativa.
- Hum... melhora a respiração. Acho que Zilda vai gostar.
- Vó, isso é seu. Pra você.
- Mas eu não preciso, e nem sei como se usa. Já Zilda é mais velha que eu, teve pneumonia mês passado, e esse... qual o nome desse troço mesmo, meu filho? – a vó não esperou pela resposta, fazendo um gesto com uma das mãos como se não tivesse importância. – Depois você me ensina como que usa que vou explicar certinho pra ela, e dizer que ajuda na respiração.
Dodô suspirou, recebendo um olhar duro de sua avó.
- Eu já tenho o que preciso aqui, David.
- Não tem, vó.
Os olhos dele percorreram o casebre situado na encosta do morro da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro. A vó morava ali desde que se entendia por gente, e mesmo quando a mãe dele morreu de overdose e o pai fora preso há anos, ela o pegara de outro barraco, e dera um jeito de fazer um quarto estreito ao lado do dela para ele.
As paredes eram somente embolsas e sem cor. O banheiro tinha o chão de cimento, e o vidro da sala conservava o furo de uma bala perdida.
Dona Maria passou por ele, indo checar o fogão, onde uma rabada estava sendo preparada. O cheiro de carne ensopada exalava no ar, trazendo a nostalgia de sua infância.
A que ela fizera boa de se viver, mesmo para um menino favelado e sem pais.
- Saber que você está bem e seguindo a vida fora das drogas e do crime é tudo o que preciso. – ela murmurou, mexendo a panela com uma colher de pau.
Dodô riu, indo até a vó com um sentimento gigante de gratidão, e depositando um beijo no topo da cabeça dela.
- Você merece o mundo, Dona Maria.
- Tá quase pronto. – ela revirou os olhos e secou as mãos no vestido florido de lycra que revestia o corpo redondo. Depois afagou o rosto dele por um segundo, se virando para dar atenção à louça que estava na pia. – E Sarah?
- Está bem. – ele foi até a panela, pegando um garfo para pescar um pedaço da carne – Ela disse que dá próxima vez que vier aqui, vai pegar a senhora para morar com a gente.
Dona maria meneou a cabeça, discordando.
- Já disse pra vocês que esse é meu lar, David. – os olhos negros o miraram. – Ficaria muito mais feliz se me dessem netinhos. – ela parou o ensaboar de um copo, e apontou a esponja para ele. – E a gente que mora em comunidade, é assim: sai da favela, mas a favela não sai da gente.
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O Amor Entre Nós
RomantikPrestes a terminar a faculdade de psicologia, Guilherme aceita uma oportunidade para seguir seu sonho de ser jogador de futebol. Ele já estava pronto para fazer as malas quando conheceu Sarah, uma monitora - irresistível - que não o suportava e sonh...