— Se você não parar com isso, eu vou fazer você engolir a próxima – Anelise olhou para Pedro que estava sentado na cadeira atrás dela pronto para atirar uma nova bolinha de papel.
Embora o loiro não tivesse coragem de fazer isso durante as aulas de física, assim que o professor de filosofia entrou na sala na terceira aula, ele havia começado a atirar bolinhas de papel na ruiva, quando viu que suas tentativas de chama-la e bater em seu ombro não surtiram efeito.
— Fala comigo então – Pedro respondeu no mesmo tom baixo, tentando não alertar o professor Wagner que tentava explicar as diferentes definições de amor dentro da filosofia grega.
— Falar o que? Que eu tô puta? É claro que eu tô puta. Eu tô sempre puta. – A garota respondeu rápido antes de voltar seu olhar para o professor.
— É, mas você nunca fica puta com o Rafael – Pedro se dobrou sobre a carteira para conseguir falar mais perto do ouvido de Ane.
— Isso porque o Rafa nunca foi idiota assim comigo antes. – A ruiva disse em um tom baixo e ainda assim suficiente para Pedro ouvir.
— Ele devia saber melhor do que falar da sua família conhecendo a história do seu pai. – O rapaz insistiu, tentando fazer Anelise falar sobre o que estava a incomodando desde a discussão com seu melhor amigo mais cedo.
— Isso não tem nada a ver com o filho da puta do meu pai – Anelise realmente se virou para encarar o loiro dessa vez.
Sua resposta não era uma mentira completa. Apesar da pontada de mágoa que havia sentido quando Rafael falou sobre sua família, o que mais a havia abalado era que o moreno quase havia falado sobre os sentimentos dela por Pedro na frente do rapaz.
Rafael era a única pessoa para quem ela realmente havia admitido esses sentimentos, embora fosse um acidente, e mesmo que ele tivesse dito que a notícia não era segredo para ninguém – além do próprio Pedro – ver seu melhor amigo prestes a falar sobre sua paixonite na frente do loiro a encheu com um misto de mágoa e raiva.
— É sobre a outra coisa então? – Pedro adivinhou, ele não queria falar de qualquer que fosse o interesse amoroso da ruiva, ainda que parte dele estivesse curioso para saber quem era o cara (filho da puta) que havia conseguido fazer Ane se apaixonar.
— Não é nada, OK? E é melhor você parar de me cutucar. – Ela fez um gesto na direção de Flávia que parecia prestes a cair da cadeira na fileira ao lado enquanto se inclinava o máximo possível para ouvir o que eles diziam – Sua namorada está quase surtando de ciúmes.
— Ela sabe que a gente é só amigo – O loiro continuou a olhar para Ane.
— E desde quando gente idiota tem bom senso? – Anelise fez questão de dizer isso alto o suficiente para que a morena ouvisse.
— Você ainda está puta com ela por causa da semana passada? – Pedro perguntou depois de lançar um olhar apologético para a namorada.
— Por ela foder com a melhor coisa que teria acontecido nessa bosta de sala? Imagina. – Ela viu um sorriso bobo se formar no rosto de Pedro e ficou confusa. – Por que você está sorrindo?
— Fazer o trabalho de sociologia comigo ia ser a melhor coisa que já aconteceu? – O loiro perguntou ainda sorrindo.
— Não é como se tivesse muita coisa boa acontecendo aqui para comparação – Anelise tentou parecer indiferente.
Ela estava prestes a acrescentar mais alguma coisa quando o professor apareceu do nada e bateu a apostila que estava segurando com força na carteira de Pedro, fazendo ele e Ane se assustarem e o resto da sala – exceto Flávia – rir.
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Um (quase) conto de fadas
Teen FictionUm rapaz rico, uma madrasta malvada e um baile de máscaras... Você já ouviu essa história antes, não é? Mas essa não é a história da Cinderela. Essa é a história de Rafael Garcia, um garoto gay de 17 anos que mora em Tabaréu no interior de São Paulo...