Capítulo I

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A obra contem um prólogo que deve ser lido antes deste capítulo. Se caso ele não estiver na ordem certa, por algum erro do Wattpad, peço que pare de ler aqui, procure o prólogo na lista de capítulos e após lê-lo, volte para o capítulo 1.
Atenciosamente, a Autora.

Maria sentou-se debaixo da árvore, ajeitando a saia do vestido simples e encardido sobre as pernas dobradas

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Maria sentou-se debaixo da árvore, ajeitando a saia do vestido simples e encardido sobre as pernas dobradas. O sol surgia timidamente no horizonte, os raios quentes e preguiçosos cortando a fraca neblina pela fazenda. Os dedos estavam gelados e duros, castigados pelo frio da manhã, mas ela se acostumara, e o frio não se comparava a vida árdua dos escravos do senhor Afonso.

Ela balançou a cabeça, espantando os pensamentos, mas os olhos focaram em um monte trêmulo perto do tronco erguido no meio do terreiro. Escondido pela neblina, e nas condições em que estava parecia apenas um animal, mas era um homem, e tremia sem parar. Aos poucos a neblina se dissipava dando uma visão melhor do homem jogado ao chão, acorrentado ao tronco, o sangue escorria das costas em carne viva, a poeira grudada na pele de ébano.

Um sopro sofrido saiu da boca da jovem ao perceber que o homem parou de tremer, os olhos estavam vidrados em algo como se pedisse ajuda, sem vida. As chibatadas não foram suficientes para satisfazer os capangas, a boca ensanguentada e sem dentes, e os dedos decepados jogado ao lado do corpo mostrava a brutalidade na qual os negros eram obrigados a viver.

Maria sentiu o peso da morte e a decepção assolar o peito.
Conhecia pouco sobre Nilo, mas o que tinha para conhecer sobre o outro na vida medíocre de escravos que levavam? De longe assistiu a rebelião do homem contra o patrão e seus capangas e, de perto era obrigada a assistir a sua punição. Era a forma que Afonso encontrou para intimidar todos os outros mostrando o devido lugar dos escravos. Mesmo ela e os pais não sendo escravos, eles precisavam seguir ordens do patrão, afinal, a cor da pele determinava a sua posição na sociedade.

No fim, o corpo de Nilo estava jogado ao relento, sem dó e nem piedade. Não era o primeiro escravo a ser deixado no tronco para morrer e, nem seria o último.

Uma lágrima desceu pelo rosto de Maria, o momento de luto teria durado mais alguns minutos, se não fosse a mão áspera e cheia de calos que a puxou com brusquidão, a fazendo levantar e tropicar com os pés descalços sobre o chão de terra batida.

- Encontrei uma neguinha fujona - O sorriso cínico e amarelo do capataz se alargou ao encarar Maria, as mãos dele apertavam os braços dela, machucando-os. Ela se debateu com o pânico instalando-se no peito, olhou para os lados na esperança de ver alguém, mas só estavam os dois ali e, se gritasse, a situação poderia ser pior. Ele sabia que ela não era escrava. Todos na fazenda sabiam que ela era a filha do italiano do armazém, mas poderia alegar que não a reconheceu.

- Solte-me! - ela grunhiu, tentando não demonstrar medo.

Os avisos do seu pai sempre foram claros, de que ela não era escrava e nem estava disponível para ser objeto de cortejo para os capatazes de Afonso, mas eles não perdiam a oportunidade de assediá-la.
Aos vinte e três anos ainda era moça intocada, e mesmo que tenha em algum momento tido interesse por algum jovem escravo aqui ou ali, não tinha sido nada que a fizesse dar um passo a frente e entregar a sua pureza, arriscando inclusive a sua liberdade.

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