II - O piano.

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Nos dias atuais


Ao subir uma enorme escadaria, eles avistaram uma grande residência logo a frente. Flores e árvores contornavam a mesma, dando um ar de aconchego do local. A casa em si era extremamente grande, com telhados azuis e grandes paredes revestidas de um cinza fosco. Da chaminé saía fumaça, e das janelas emanava uma luz fraca, afirmando a presença de pessoas em algum cômodo da casa. Do lado de era possível ouvir uma suave melodia, algo parecido com uma canção de ninar mais acelerada. Era um piano. O toque era calmo e repetitivo, mas mesmo assim, lindo.

***

"Mãe, eles chegaram!"

Lily caminhou até a janela do segundo andar, e olhou pelos vãos. Na porta da frente, encolhidos de frio, estavam um homem e uma mulher vestidos com roupas brancas estampadas com uma sigla na frente. Ela observou enquanto o homem colocava uma maleta prateada no chão, conversava algo com sua parceira, e virava-se para encarar o quintal, enquanto a mulher esfregava seus braços e aguardava a porta ser aberta. 

A hora tinha chegado. Os doutores estavam ali.

John estava dormindo em seu quarto, e Lily estava aflita com toda a situação, mas também feliz com que finalmente ele possa realizar o seu sonho.

"Já estou indo!"

***

"... Lugar legal para se aposentar, né?" diz Eva, esfregando as mãos e colocando-as no bolso enquanto observava Neil colocar o equipamento no chão e aproximar-se dela.

"O meu será mais." Diz ele com um sorriso. "Turno da madrugada; amá-lo ou odiá-lo?"

"Pergunta retórica, sua coruja." Ela responde, com um sorriso.

"Sabe, provavelmente vamos virar mais uma noite."

"Eu sei."

"E duvido que tenham algum café..."

"Cala a boca."

Neil vira-se para o quintal e encara o céu.

"... E as ondas do mar cantarão canções de ninar..."

"Que ninguém vai ouvir porque você não para de falar."

"... E suas pálpebras vão-"

A porta é aberta, e pode-se ouvir um 'Entre!' ressoar do fundo do cômodo. Eva vira-se para Neil, fazendo sinal para que ele a acompanhe.

"Não esqueça o equipamento, idiota!"

Neil pega mais uma vez a enorme mala e encara a lua acima de sua cabeça, suspirando pesadamente, enquanto acompanha Eva até dentro do cômodo.

"... Eu não recebo o suficiente para isso."

ATO 1

"Eu nunca contei para ninguém, mas... Eu sempre pensei que fossem faróis."


"Dr. Watts e Dra. Rosalene, presumo." Disse uma mulher com uma camiseta laranja e uma longa saia roxa. Ela parecia jovem, e estava com uma expressão de alívio. Atrás dela encontrava-se um enorme piano marrom, que dava um ar retrô ao cômodo. "Obrigada por virem tão em cima da hora."

"Tudo bem, também costumo ser péssimo em prever mortes." Sussurra Neil enquanto admira o local à sua volta.

"Você é a filha do paciente?" pergunta Eva, ignorando o comentário de seu companheiro.

"Ah, não, sou apenas a governanta da casa. Meu nome é Lily."

Escuta-se, então, o barulho de passos desesperados no cômodo superior. Duas crianças, um menino e uma menina, descem correndo a escada, olham para a governanta, sorrindo para ela, e correm para longe.

"... E esses são meus filhos, Sarah e Tommy. O Johnny deixa a gente morar aqui, já que não é um trabalho das nove às cinco."

"Imagino que esse 'Johnny seja o nosso paciente."

"Johnny?" Neil encara as duas mulheres. "Olha, se o paciente for uma criança, acho melhor chamar outras pessoas."

"Não, não. Ele só prefere ser chamado assim." Lily caminha até a escada e para em seu primeiro degrau, lançando um olhar convidativo para os dois jovens. "Venham! Ele está lá em cima com a doutora." E então, sobe, fazendo seus saltos estalarem na madeira, causando um som irritante.

"Ande Neil, pegue a caixa e vamos subir."

"... Quando minha coluna quebrar, o processo vai pra você."

TO THE MOON - Para a LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora