III - O Desejo.

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Nos dias atuais

"Quem chegar primeiro toca a melodia!" Antes mesmo de ouvir o quê sua irmã tinha para falar, Tommy saiu correndo da biblioteca e se sentou em frente ao piano. Ficou sorrindo para Sarah até ela se aproximar dele.

"Não vale, você me empurrou." Ela disse, e sentou-se emburrada.

"Empurrei não!"

"Você que sabe, vai ficar com as duas notas chatas."

***

"Eles são muito bons para essa idade!" disse Eva ao ouvir o som da melodia que ecoava do piano.

"Ei, não foi você que disse que não tínhamos tempo? E veja só, sou eu que estou carregando o peso de um asteróide." murmurou Neil, encarando Eva com uma expressão brava.

"Tá, tá, vamos então."

Eva abriu a porta e se deu de cara com um enorme quarto. Havia uma pequena estante de madeira cheia de livros, uma escrivaninha com um abajur azul de porcelana, e no meio delas, uma enorme cama de casal, e nela, encontra-se um homem. Ele aparentava estar com mais de 80 anos. Seu rosto estava coberto por algumas manchas, e seus olhos estavam com marcas de expressões de quem já viu e ouviu muito, mas aparentava estar feliz.

"Ele parou de responder, mas ao que tudo indica, ainda está consciente." Disse a doutora, enquanto examinava os batimentos cardíacos do homem. "É difícil estimar quanto tempo vocês terão, mas eu me apressaria."

"Tudo bem, então, afastem-se enquanto montamos o equipamento."

***

"... Tem certeza de que uma tomada comum é o suficiente?" perguntou Lily.

"Não se preocupe, somos os experts!" respondeu Neil, colocando as mãos na cintura e sorrindo para a governanta.

No mesmo momento, a luz do quarto se apaga, e volta segundos depois.

"Procedimento padrão... Foi só para dar um susto!" continuou o jovem, sem graça, enquanto se sentava na máquina em que acabou de montar.

Eva aproximou-se da cama, olhando calmamente para Johnny. Ele respirava com dificuldade. Suas mãos estavam em cima de sua barriga, deixando visível o anel de casamento em seu dedo.

"Como ele está?"

"Não muito bem. Se fosse para estimar, diria que só tem mais um ou dois dias."

"É tempo o bastante."

"... Então, vocês podem realizar qualquer desejo, é?" perguntou Lily, temerosa.

"Podemos tentar, ao menos."

"Mas sempre conseguimos, porque somos demais." Gritou Neil de dentro do equipamento.

"Mas, então... Qual o desejo?"

Lily caminhou até a cama, e se sentou na beirada. Ela pegou a mão de Johnny, e a acariciou algumas vezes.

"A lua."

"A lua?"

"A lua... Ele quer ir para a lua."

"... Esses velhotes estão cada vez mais malucos, hein?" gritou Neil, novamente.

"E então, é possível?" perguntou Lily, encarando Eva. Nota-se que os olhos da governanta estavam marejados, e ela parecia estar fazendo força para não chorar.

"Depende... Por que não nos conta sobre o nosso cliente?"

"Sobre ele... Eu não sei muita coisa. Johnny é um homem estranho. Durante os dois anos em que trabalhei aqui, quase nunca conversamos. Sei que trabalhou como artesão boa parte da vida, e que sua esposa faleceu há dois anos... Eu realmente não sei muitos detalhes."

"Pelo amor! Até se eu fosse o entregador de jornais saberia mais!" murmurou Neil.

"Calado, faça o seu trabalho!" Disse Eva, lançando um olhar irritado para Neil.

"Bem... Se vocês derem uma olhada pela casa, encontrarão mais informações. Penso que o Johnny não se importaria, já que contratou vocês dois."

"Tudo bem, você quer ir, Neil?"

"Agradeço a oferta, mas estou ocupado deixando uma impressão da minha bunda na cadeira."

"Certo. Por favor, continue."

"O Tommy e a Sarah podem te mostrar a sala. Eles estão lá embaixo, no piano." Disse Lily, timidamente.

Eva afastou-se e caminhou até a porta, mas quando foi mover a maçaneta, a Doutora a chamou e pediu para que ela se aproximasse.

"Aqui, fique com isto." Eva recebeu um aparelho pequeno de metal. Um monitor remoto. Em sua tela é possível ver umas linhas pretas, subindo e descendo. "É para informá-los sobre o estado de Johnny."

"... Obrigada."

TO THE MOON - Para a LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora