Allegro Moderato: verum de nebula;

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Boa leitura, nos vemos nas notas finais!

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Kim Taehyung estava morto.

Sua pele era gélida como se em meio ao verão fosse possível um beijo frio do inverno, seu cabelo perdera o brilho e lhes parecia apenas espirais de um marrom cinzento, assim como seus olhos castanhos imploravam que a secura não o cegasse de vez. Kim Taehyung era apenas um corpo imóvel do outro lado do espelho, um alguém que nada tinha nessa vida a não ser a própria estrutura física, o abandono e marcas de queimaduras em suas costas.

E quem sobreviveria assim? Quem em tão fraco corpo conseguiria mais do que o próprio ar para sobreviver? Sua vida durou muito pouco, não mais do que dezessete anos na verdade, portanto a morte logo chegaria com suas roupas escuras, ausência de fisionomia e um convite para o descanso eterno. 

E pela primeira vez ele foi quisto, escolhido, mesmo que fosse para o seu próprio fim. 

Kim Taehyung estava morto, mas o cadáver era mais vivo que qualquer outro com ar em seus pulmões e sonhos brilhantes diante dos olhos.

Agarrou-se a sua roupa gasta pela péssima qualidade tentando proteger-se do frio. Nunca esteve no mar, sequer sabia que era tão infinito. Via pela escotilha do navio a mesma paisagem repetir-se por longos momentos, a noite havia chegado e somente a quase inteira escuridão poderia estar consigo. 

Olhou-se mais uma vez naquele reflexo deplorável e nunca sentiu-se tão ínfimo.

Enquanto esteve com crianças sujas e maltrapilhas como si mesmo, nunca houvera qualquer importância, afinal, evitava espelhos desde que sua mãe partira. A vaidade já havia levado embora um sangue Kim e acreditava na própria crença que entregar-se à ela era ser o próximo.

Kim Taehyung havia morrido, mas o que mais queria era viver.

O balançar do mar deixava-o enjoado, por vezes segurou o que queria deixar seu estômago por vergonha de simplesmente pedir por um balde, já tinha demais ali e não queria abusar de sua sorte. Colocou as mãos na boca mais uma vez e resolveu deitar-se novamente, o sono não chegava, havia culpa e medo demais para simplesmente entregar-se à um descanso que para si não era em nada merecido. 

Tão diferente era aquele que dormia na mesma cama, com olhos cerrados e boca entreaberta desfrutando do luxo que era poder descansar em um lugar onde não machucaria suas costas. Por um momento permitiu que um sorriso enfeitasse seus lábios secos, era bom saber que não estava sozinho, pois mesmo vivendo boa parte de sua história em um lugar com tantas pessoas sentia-se isolado. Apenas fazia o que lhe pediam, era gentil com os que precisavam e agradecia por ter um lugar para ficar. Isso lhe bastava.

— Com licença. — uma voz feminina o retirou de seus densos pensamentos. — Ainda acordado?

— Sim. — respondeu timidamente encolhendo-se pela lufada de vento que recebera. 

— Perdão querido. — a mulher mais velha sorriu encostando a porta e abrindo o saco grande e fofo que estava em seus braços. — Sabia que o frio não os agradaria, mas havia esquecido os cobertores. — depositou o saco no chão retirando dois lençóis muito grossos, estendendo o primeiro sobre Hoseok profundamente adormecido. — Também trouxe roupas novas e que os aquecerão, pela manhã haverá água quente para o banho.

Quando fez menção de cobrir Taehyung ele rapidamente o fez, não ousaria dar qualquer trabalho, não quando dessa vez alguém o escolheu. Não queria provocar arrependimentos, não para a sua nova vida.

Santcliffe | myg + jhs + kthOnde histórias criam vida. Descubra agora