Um

1.1K 120 248
                                    

      Fazia um frio de dezessete graus, e mesmo estando abaixo de cinco edredons extremamente fofos de um material quente feito por encomenda, Shinsou não conseguia parar de tremer enquanto se encolhia até o próprio corpo parecer pequeno. 

Por deus, odiava o clima gélido junto ao barulho da garoa pesada caindo lá fora, desde criança era aquele pesadelo onde até em dias extremamente quentes o arroxeado sentia um frio severo que parecia ter sido soterrado por duzentos quilos de neve. Entraria numa temporada turbulenta com baixas temperaturas, e sinceramente tal acontecimento lhe impediria de regredir pois estava sempre sozinho.

Com dificuldade devido os dedos trêmulos, alcançou o celular conectado ao carregador, até o aparelho estava frio a seu ver, e parecera ainda mais difícil buscar um contato em especial.

Abraçou o travesseiro macio e colocou o aparelho sobre a orelha, três da madrugada, ele já deveria estar dormindo e lá estava Shinsou perturbando seu sono, contudo já não sabia o que fazer sem ser ligar para o melhor amigo.

E na quarta chamada, o coração do rapaz palpitou em ansiedade quando foi atendido.

— Den…?

— Shin? — A voz baixa e com traços sonolentos de Kaminari soou preocupada. — O que aconteceu?

—  Estou… Com muito frio. — Sussurra, como se somente em dizer tais palavras uma onda gelada quase cortada  atravessou seu corpo. — Desculpa por ter te acordado…

— Tudo bem, eu estava desenhando uns projetos e cai no sono a uns… Cinco segundos. — Havia certeza em sua voz, Denki trabalhava até a madrugada com seus desenhos de arquitetura, enquanto Shinsou ainda estava na faculdade… Ele certamente tinha mais o que fazer. — Eu vou passar aí, ok?

— Não, está chovendo!

— Shinsou, moramos no mesmo condomínio e minha casa é ao lado da sua.

— Mesmo assim, eu vou ficar bem. — Respira fundo, a vontade de espirrar fazendo a pontinha do nariz coçar e sua garganta arranhar. Aparentemente Denki ouviu dos pigarros e o tremor na voz do arroxeado, pois no outro lado fez-se barulhos de rápida movimentação que provocou um suspiro derrotado de Shinsou. — Tá bem, Traz um remédio pra resfriado, por favor…

— Chego em um minuto.

Não foi preciso ter tocado a campainha pois ele possuía uma chave reserva da casa para situações de emergência. Denki deixou as pressas o guarda chuva num canto e correu sobre as escadas enquanto segurava a sacola carregada por alguns remédios e utensílios de sobrevivência. Quando a sobrevivência do loiro era um enorme copo de café e maratonas de Doutor House, a opção do arroxeado se baseava em Oniguiri com chá gelado numa garrafa rosa.

O que não fazia pelo "Melhor amigo."

Abriu a porta do quarto de Shinsou devagarzinho, e viu o que já temia. Um amontoado de edredons numa cama de casal parecendo grande demais para aquele pequeno ser escondido dentre os tecidos. Deixou o quarto fechado e aumentou a temperatura do aquecedor. Foi em direção até Shinsou, e antes mesmo de chegar a encostar no colchão, ouviu uma voz baixa ressoando por debaixo dos edredons. Eram resmungos, Denki conseguia ouvir o som do queixo de Hitoshi batendo pelo frio, aquilo lhe partiu o coração.

— Hey… Estou aqui. — Sussurra com calma, os braços cobertos por diversas tatuagens envolvendo o corpo momentaneamente frágil conforme se deitava na cama. Talvez pelos inúmeros edredons, demorou cerca de alguns segundos até Shinsou conseguir debaixo dos tecidos e deixar somente os olhos roxinhos com olheiras suaves. Denki sorriu mesmo o momento não sendo apropriado, era inevitável pois cada batida do coração acelerava quando Hitoshi surgia. — Seu nariz está vermelho como as renas do Papai Noel.

Quando o frio acabar Onde histórias criam vida. Descubra agora