Fase sete - aniversário

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O aniversário de Tsukishima foi dois dias depois da derrota da Karasuno, o que sem sombra de dúvidas deixou um clima estranho na festa, mas a mãe do garoto não permitiu que todos ficassem tristes.
A festa aconteceu no apartamento da família de Kei durante o fim da tarde, porque no dia seguinte eles teriam aula. Nenhum dos amigos do aniversariante conseguiu conter o riso ao ver o bolo.
    — Isso são dinossauros? — Kenma indaga para Kageyama.
    — São — o moreno assente. — ele tem um péssimo gosto para temas de festa, no ano passado a festa foi do Twice.
    — Kageyama, eu ouvi isso — Tsukishima fuzila o levantador com os olhos enquanto sai da cozinha.
    — Que bom, isso significa que sua audição é boa!
    — Por que eu te convidei? — revira os olhos, entregando pratos e garfos descartáveis para a mãe.
    — Porque você ama os seus amiguinhos, Kei — a mãe dele responde. — Falando nisso, onde está aquele ruivo alegrinho?
    — Ele tá gripado, então achou melhor não vir — Tsukishima responde.
    — É uma pena, vou separar um pedaço de bolo para você levar para ele.
    O padrasto de Tsukishima sai da cozinha trazendo duas velas, uma em formato do número um e a outra do número oito. As duas se encaixam sobre o bolo e são acesas antes que todos comecem a cantar parabéns.
    Todos os terceiranistas da Karasuno estão presentes, com exceção de Hinata. A família Tsukishima está em volta da mesa com o aniversariante, Yachi e o cunhado de Kei estão um pouco afastados.
    Pelo o que Kenma observou desde que chegou, Tsukishima está tentando ser um pouco mais simpático com a irmã postiça, o que parece estranho para todos, inclusive para eles dois. Mais cedo, na hora da troca de presentes, ele até mesmo abraçou Hitoka ao ganhar uma camiseta de Boku no hero dela. 
    Foi o abraço mais estranho que Kenma já viu.
    Depois do parabéns, Tsukishima distribuiu seus três primeiros pedaços de bolo, o primeiro para a mãe, o segundo para o irmão e o terceiro para o padrasto e Yachi. 
    — Talvez ele esteja com febre — Kageyama murmura para Kenma. — Acho que pegou a gripe do Hinata.
    Tsukishima fuzila Kageyama com os olhos enquanto se afasta da mesa, ele cortou os três primeiros pedaços de um jeito torto e nada proporcional, então a mãe dele decidiu assumir a tarefa. 
    Em cinco minutos, todos já tem um pedaço de bolo. O de Kenma tem o focinho de um dinossauro verde e isso faz ele se perguntar se é errado comer aquilo sendo vegetariano. Ele espera que não, porque o bolo é de coco e esse é seu sabor favorito.
    — Ei, vocês vão se formar esse ano — Akiteru, o irmão de Tsukishima lembra. —  já tem um par para o baile de formatura?
    Todos estão sentados na sala, espalhados pelo sofá e por cadeiras trazidas da cozinha. Kenma está no sofá menor, com Kageyama e Yachi.
    — Eu queria ter um, mas provavelmente vou sozinha — Yachi é a primeira a responder. 
    — Por quê? Vários garotos da escola gostariam de ir com você — Kageyama diz, o que é verdade. Yachi é como um deusa para os garotos que curtem meninas fofas.
    — Sim, mas a pessoa que eu queria convidar já tem alguém — ela conta com um sorriso meio triste. — eu vou sozinha mesmo. 
    Do outro lado da sala, Yamaguchi parece querer dizer algo, mas ele permanece em silêncio. Isso não passa despercebido por Kenma, muito menos por Tsukishima, que está ao lado dele. 
    — Eu acho essa coisa de baile tão cafona — Tsukishima comenta, mastigando um pedaço de bolo, ele está com a pata do dinossauro. — pra mim é coisa de estadunidense hétero.
    — Bailes não são cafonas, eles são mágicos! — Akiteru contra argumenta. — você sabia que o nosso primeiro beijo foi no baile de formatura? — segura a mão de Tenma, seu namorado. 
    — Sabia, você conta isso toda vez que bebe demais.
    — Porque foi mágico! — sorri. — esse é o poder dos bailes. Você devia ir, quem sabe assim  você encontra um garoto bonitão para se apaixonar — cutuca o irmão.
    Tsukishima revira os olhos para o irmão e depois se vira para Yamaguchi, que está quieto bebendo refrigerante.
    — Você vai no baile? — Kei indaga ao ficante.
    Yamaguchi olha para Tsukishima e depois para Yachi, que também o olha. O capitão parece em um impasse, Kenma consegue sentir a tensão vindo dele.
    — Alguém quer mais refrigerante? — a mãe de Tsukishima diz. Ela entra na sala e mostra a garrafa da bebida gaseificada.
    — Não — o aniversariante responde, em um tom meio seco. Ele ainda está olhando Yamaguchi. — obrigada, mãe — desvia o olhar do esverdeado e olha para a mãe, que parece ter percebido o clima estranho entre os jovens.
    — Tudo bem, vou deixar a garrafa aqui — ela sorri. A garrafa fica sobre a mesinha de centro e a adulta volta para a cozinha, onde está com o pai de Yachi.
    — E vocês dois? — Akiteru pergunta, se dirigindo para Kenma e Kageyama. 
    — Eu já me formei, mas vou no baile com o meu namorado — Kenma responde.
    — Eu também não gosto de bailes, mas vou pelas fofocas — Kageyama diz.
    — Essa é a melhor parte — Tenma comenta. — lembra que na nossa formatura a professora de biologia ficou bêbada e se declarou para a professora de geografia?
    — Lembro! — Akiteru ri. — isso foi tão épico!
    — E o que a professora de geografia disse? — Yachi pergunta, parecendo curiosa.
    — Nada, depois disso a professora de biologia vomitou no meio da pista de dança — Tenma conta. — mas hoje em dia as duas são casadas. Ouvi falar que estão esperando um bebê.
    — Que fofo! — Yachi sorri.
    A festa de Tsukishima é tomada por perguntas para puxar assunto, feitas em sua maioria por Akiteru e Tenma, que parecem ter se encarregado da tarefa de animar aqueles adolescentes meio desanimados. Eles falam sobre vontade de ter filhos, casamento, faculdade e beijos.
    — Como foi o último beijo de vocês? — Tenma indaga. 
    — Estranho, o cara parecia querer enfiar a língua na minha garganta — Kozume responde sem pensar muito.
    — O Hinata beija tão mal assim? — Kageyama franze o cenho.
    Kenma arregala os olhos. Como ele pode se esquecer que tecnicamente o último cara que beijou foi Hinata? Quer dizer, eles nunca se beijaram, mas todos devem achar que sim.
    — Meu último beijo não foi com o Hinata — Kenma se apressa para consertar a situação, isso só piora tudo. — Quer dizer, eu não traí ele. É só que a gente… nós nunca-
    — Alguém traz água pra esse menino — Akiteru pede.
    — Tá tudo bem, Kenma. Não precisa falar se não se sentir à vontade — Yachi o conforta. — meu último beijo ainda não aconteceu. Eu sou BV.
    Isso tira a atenção sobre Kenma, o que o alivia.
    — O meu foi bom — Kageyama responde. 
    — Então o Oikawa beija bem? — Tsukishima provoca.
    — Sim, muito bem — assente, o que faz todos rirem. 
    — Eu não lembro como foi meu último beijo. Pode me ajudar, amor? — Akiteru diz, se esticando na direção do namorado.
    — É claro, amor.
    Os dois se beijam. Tsukishima finge vomitar e Yachi diz que eles são fofos, o que mostra que aquela família é bem diversa. 
    — E vocês — Tenma diz depois do beijo, se dirigindo a Tsukishima e Yamaguchi. — como foi o último beijo de vocês?
    Ele obviamente não sabe da história de Yamaguchi com Tsukishima e Yachi, do contrário não teria feito essa pergunta.
    — Meu último beijo foi bom — Tadashi responde sorrindo, tem um pontinha de tristeza naquele sorriso. — Muito bom, mas eu sinto que não mereci esse e nem os que vieram antes. 
    — Por que não? — Akiteru quer saber.
    — Eu só… não fui completamente sincero com a pessoa — nega com a cabeça. 
    Ao lado dele, Tsukishima encara o chão e respira calmamente. Ele parece estar contendo um surto.
    — Vamos desconsiderar a última pessoa que eu beijei — Kei começa. — A penúltima pessoa que eu beijei foi inusitada, mas boa. Foi interessante.
    Todos ficam em silêncio, com exceção dos pais de Kei e Hitoka, que estão rindo na cozinha e não tem ideia da situação na sala. 
    Kenma olha ao redor, Akiteru e Tenma parecem ter ligado os pontos, a alegria de Yachi evaporou, Kageyama parece chocado e os dois restantes estão encarando o chão.
    — Eu tenho que ir — Yamaguchi diz antes de se levantar. — me desculpem o incomodo. 
    Akiteru vai levar Yamaguchi até a porta enquanto Tsukishima se levanta e sai da sala. Nessa hora, a mãe dele aparece novamente.
    — Tudo bem por aqui, crianças? — ela indaga olhando ao redor com o cenho franzido. 
    — Mais ou menos — Yachi murmura.
    Kenma e Yachi ajudam a senhora Tsukishima a levar os pratos e copos sujos para a cozinha, lá o pai de Hitoka oferece vinho para Kenma, que já é quase maior de idade. O garoto aceita, mesmo que não seja 100% fã de bebida, ele gosta do gosto de uva do vinho.
    A sala agora está vazia, a festa mudou- se para o quarto de Tsukishima, onde o garoto se deitou na cama em meio a várias embalagens de presente. Os presentes de Kenma e Yachi, um chaveiro de dinossauros e uma camiseta, estão nos pés da cama, os mangás que Kageyama deu estão sobre a escrivaninha e o pijama dado por Yamaguchi está no chão, todo amarrotado.
    — Eu achei que vocês fossem só melhores amigos — Akiteru diz, acariciando os cabelos loiros do irmão.
    — As coisas mudaram um pouco desde que você saiu de casa — Kei conta, a cabeça repousando no travesseiro. — nós éramos amigos, mas eu sempre gostei dele. Me apaixonei por aquele idiota com 14 e depois não consegui mais esquecê-lo.
    Kenma imagina que não deve ser uma sensação boa. Tsukishima passou 4 anos apaixonado por um cara com quem ficou junto por semanas antes das coisas começarem a dar errado.
— Eu não devia ter me deixado levar — Kei continua. — No começo do campeonato eu notei que ele parecia gostar de mim também, ele parecia estar deixando pistas para mim seguir e eu segui até estar com a minha boca colada na dele.
— Depois do segundo jogo do campeonato — Kenma lembra. Ele está sentado na cadeira da escrivaninha.
— É, mas mesmo naquele dia eu já sentia que tinha alguma coisa errada — murmura com amargura. Os olhos castanhos se viram para Yachi por um segundo, mas logo voltam para o chão do quarto. — eu não devia ter seguido as pistas dele.
    — Nada disso é culpa sua, maninho — Akiteru o consola. — Você não tinha como saber o que passava na cabeça dele.
    — Eu sempre soube, Akiteru. Sempre soube que ele gostava de outra pessoa!
    — E quem é essa outra pessoa?
    — Sou eu.
    A voz de Yachi sai baixa e quebrada, os olhos dela estão úmidos e brilhantes, o que denuncia o choro iminente. 
    — Eu não devia ter me metido entre vocês — ela limpa as lágrimas. — Vocês tinham quatro anos de amizade e eu estraguei tudo em semanas. É tudo culpa minha!
    — Yachi — Tsukishima se levanta. Ele vai até a irmã postiça, que está encostada na parede ao lado da porta, e toca os ombros dela. — você não fez nada demais, não é culpa sua.
    — Se eu não tivesse me aproximado dele, vocês ainda seriam amigos, talvez até mais do que isso.
    — Vai saber — dá de ombros. — Não adianta nada ficar imaginando o que poderia ter acontecido.
    — Ainda mais hoje, ainda é seu aniversário, Tsuki — Akiteru lembra. — é o seu dia e você não pode passar ele triste.
    — Tem razão — Kei assente. — Vou dançar Twice até eliminar toda a tristeza do meu corpo.
    Isso faz todos rirem. Um a um eles vão saindo do quarto, Tsukishima fica por último para ajustar os lençóis da cama, Kageyama fica junto dele.
    — Tsukishima — Kenma ouve o moreno dizer enquanto sai. Ele ficou quieto durante toda a conversa anterior.
    — Eu sei que você quer conversar, mas eu prefiro não fazer isso agora — Tsukishima o interrompe. — A gente faz isso outro dia, okay? 
    — Okay.
    Kenma franze o cenho sem entender do que eles estão falando. Na sala, Akiteru já colocou uma música animada para tocar, o que ajuda a espantar a tristeza de Tsukishima. O loiro dança e canta como se não estivesse com o coração partido
    — Você não pode esquecer de pedir o autógrafo antes de sair — Kageyama diz para Kenma, deixando o garoto mais confuso ainda.
    — O autógrafo de quem?
    — Do Tenma, oras! — responde como se fosse óbvio. A cara confusa de Kenma permanece. — cara, é sério? Você não sabe quem ele é?
    Kozume olha na direção da cozinha, onde Tenma está conversando com a sogra. Ele parece apenas um universitário comum, menor do que Kenma e com o cabelo preto ondulado. 
    — Kenma, ele é o pequeno gigante! 
    — Ai meu Deus — Kenma arregala os olhos. — A inspiração do Hinata?
    — Sim, e o Hinata não vai te perdoar se você sair daqui sem um autógrafo!
    Dito isso, Tobio vai sentar no sofá e ver os irmãos dançando. Kenma fica no ponto entre a cozinha e a sala com seu copo de vinho na mão, ele olha Tenma algumas vezes e pensa em como vai pedir um autógrafo. “Olha, meu namorado é super obcecado por você e eu queria que você me desse um autógrafo, por favor.” parece pertinente, mas Kenma tem vergonha mesmo assim.
    Ele queria que Hinata estivesse ali para fazer isso. A festa está legal, mas talvez fosse melhor se o ruivo tivesse ido. 

Cara metade ♡ kenhinaOnde histórias criam vida. Descubra agora