Fase dois - 1%

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    No dia seguinte, Kenma esperava acordar fora do jogo e se frustrou. Assim que abre os olhos de manhã, a primeira coisa que ele vê é a foto de Hinata no móvel de cabeceira. Ele bufa antes de levantar.
    Hoje é o dia de folga de Kenma, quinta-feira, mas ele vai até a cafeteria se encontrar com Hinata e Kageyama, eles vão para o jogo juntos.
    Hinata está animado e enjoado, Kageyama está aéreo e concentrado em um brinquedo em seu chaveiro, que é uma vagem e quando apertada deixa as sementes pularem para fora. Kenma está aliviado que Kageyama não parece querer o ameaçar mais vezes.
    — Tô nervoso — Hinata confessa no transporte público, ele está sentado do lado da janela e apoiando a cabeça no vidro. — Esse é meu último campeonato do ensino médio, e se a gente não conseguir se classificar para as nacionais?
    — Você está pensando muito a frente — Kenma diz. — Vamos pensar nos jogos de hoje primeiro.
    — O jogo do Kageyama contra o ex dele — Hinata ri, olhando para o lado. Kageyama está sentado no banco ao lado de Kenma, com olhos fechados, fones de ouvido e ainda brincando com o chaveiro.
    — Vou fingir que não te ouvi — o moreno diz. Hinata ri.
    Eles fazem o resto do trajeto em silêncio, Shouyou tomba a cabeça para o lado de Kenma e se apoia no ombro do namorado, procurando pela mão dele. As duas têm quase o mesmo tamanho, mas a de Kenma é maior.
    As bochechas do garoto coram, ele nunca ficou de mãos dadas assim com alguém, nem demonstrou afeto em público, pois acha meio vergonhoso. Ele só não afasta Hinata para não parecer rude.
    Quando chegam no lugar onde os jogos vão acontecer, é a hora deles se separarem. Kageyama e Hinata vão se juntar ao resto do time e Kenma vai para a platéia assistir. 
    — Minha barriga tá estranha — Hinata reclama, acariciando a região citada. 
    Kenma segura uma risada. Tem uma missão no jogo onde Yachi tem que correr para comprar um remédio para o enjôo de Hinata antes que o amistoso com outra escola comece, o tempo é cronometrado e ela tem que correr para achar uma farmácia em uma parte da cidade que não conhece. 
    — Você trouxe remédio?
    — Acho que não — Kenma responde, mas mesmo assim começa a abrir a mochila para conferir.
    Para surpresa dele, tem uma necessarie em sua bolsa com vários remédios e um deles é para enjôo, além de também ter uma garrafa de água. Deve ser a magia do jogo operando, já que Kenma nunca leva nada para os lugares além de seu celular, carregador e fones.
    — Obrigado — Shouyou agradece depois de engolir o remédio. — Vou me juntar aos garotos.
    — Boa sorte no jogo. 
    — Pode me dar um beijo de boa sorte?
    A pergunta pega Kenma de surpresa, suas bochechas assumem a cor de um tomate e sua mente para de funcionar por um segundo. É claro que Hinata iria pedir um beijo, eles são namorados e é isso que namorados fazem, Kenma só tinha se esquecido disso. 
    — Boa sorte!
    Ele diz isso depois de dar um beijo na bochecha de Hinata, o que definitivamente não é o que o ruivo queria. Kenma corre para longe após isso, fugindo de perguntas ou mais dores de cabeça. 
    Enquanto o jogo não começa, Kenma observa as pessoas da torcida, ele consegue encontrar alguns rostos conhecidos ao seu redor, como a mãe de Tsukishima e o pai de Yachi. Algumas fileiras atrás dele tem uma mulher jovem muito parecida com Kageyama, provavelmente irmã dele, conversando com uma mulher com o rosto cheio de sardas, talvez a mãe de Yamaguchi. 
    Ele consegue identificar os parentes de todos os terceiranistas, menos os de Hinata. Ninguém na torcida tem os cabelos ruivos ou as maçãs do rosto salientes como Shouyou. Kenma é o único ali por ele.
    Uma voz robótica nos alto falantes anuncia a entrada dos jogadores para o aquecimento. Os garotos da Karasuno vestem uniformes pretos e laranjas enquanto os da Aoba Josai, brancos e verde água.
    Durante o aquecimento, um dos jogadores da Aoba Josai acena para Kageyama, sorrindo de um jeito brincalhão. Inicialmente, Kenma acha que é uma provocação ruim pelo jeito como Kageyama reage, ignorando e focando em levantar bolas para Hinata, mas depois percebe que aquele pode ser o garoto com quem o Tobio ficou. Os garotos de ambos os times estão rindo e fazendo piadas com os levantadores.
    O clima de brincadeiras acaba junto com o aquecimento, quando o apito do início do jogo soa, Yamaguchi não demora muito para marcar um ponto de saque. Ele faz isso inúmeras vezes durante a partida e Kenma não se surpreende muito, no jogo, Tadashi era sempre descrito como um ótimo jogador e quase impecável no saque. Por isso ele é o capitão do time.
    No meio do jogo, Kenma nota um padrão nas vezes em que Yamaguchi pontua. Todo o time comemora com ele, inclusive Tsukishima que parece querer esconder um sorriso grande sem muito sucesso. Esse sorriso desaparece sempre que Yamaguchi olha para Yachi ou corre até ela para bater suas mãos juntas em comemoração. Quando isso acontece, Tsukishima desvia os olhos para a rede.
    Kenma imagina que não deve ser fácil ser apaixonado pelo melhor amigo e ver ele completamente rendido pela sua irmã, ainda mais quando Tsukishima está muito longe de gostar de Yachi.
    Deixando os dramas deles de lado, Hinata é outro terceiranista que brilha durante o jogo, bloqueando junto de Tsukishima ou fazendo jogadas malucas com o auxílio de Kageyama. Ele faz jus ao título de ace.
    Em todos os seus pontos, os olhos de Hinata se voltam para Kenma na platéia, querendo saber se o loiro viu o que ele acabou de fazer. E é claro que Kenma viu, ele está com os olhos grudados em Shouyou desde o início do jogo, tanto que não pode deixar de notar uma coisa em particular no garoto.
    Essa coisa fica martelando em sua cabeça até o fim dos dois jogos do dia, a Karasuno venceu ambas as partidas e se classificou para a próxima fase do campeonato.
    — Você foi ótimo! — Kenma diz ao encontrar Hinata depois dos jogos. 
    — Você viu? Primeiro eu fiz ban, depois pow e depois bang! — Hinata diz, mexendo as mãos para simular jogadas. 
    — Hinata, isso foi maravilhoso! — Yachi se aproxima deles para elogiar, trazendo a bolsa de Hinata.
    — Você viu, Yachi?
    Hinata está radiante agora, sorrindo a todo momento e saltitando de um lado para o outro, ele fica falando sobre o jogo com Yachi e Kenma durante um bom tempo, o que não deixa Kozume fazer a pergunta que o atormentou na última hora.
    — Chuveiro liberado — Kageyama diz, parando atrás de Hinata. Os cabelos escuros estão úmidos e ele está cheiroso, diferente de Hinata que está suado e fedendo um pouco. — Você tá fedendo!
    — Eu estou com cheiro de vitória, Kageyama — Hinata infla o peito para dizer.
    — Vitória não tem cheiro e se tivesse não iria cheirar tão mal.
    — Hinata, vai tomar banho logo — o treinador Ukai os interrompe. — Quero o time todo reunido em 10 minutos.
    — Sim, treinador!
    Yachi, Kageyama e Ukai seguem para um lado do corredor e Hinata para outro, Kenma vai atrás do ruivo, selecionando as palavras certas para fazer uma pergunta.
    — Hinata, eu estava vendo você jogar e notei uma coisa — Kozume começa.
Eles entram no vestiário masculino e Hinata coloca a bolsa sobre um banco no meio do recinto, perto da área dos chuveiros. 
    — Que coisa? — o ruivo indaga, começando a tirar a camiseta.
As palavras fogem da boca de Kenma, o deixando incrivelmente vermelho enquanto Hinata tira toda a roupa antes de ir para a área dos chuveiros.
    Acontece que durante o jogo Kozume notou um volume no peitoral de Hinata, coisa que ele não tinha percebido antes, mesmo ficando perto do ruivo. Ele pensou em uma coisa, mas logo a descartou porque achou impossível, para sua surpresa o impossível é realidade, ele teve a confirmação assim que Hinata começou a tirar a roupa.
    Hinata é um garoto transgênero assim como Kenma. O loiro só não notou antes porque Hinata devia estar usando binder sempre que eles se viam, mas durante o jogo ele não usou porque é perigoso comprimir os seios enquanto pratica esportes.
    — Ken? — a voz de Hinata o traz de volta à realidade. — o que você notou?
    Kenma se senta no banco, ao lado da bolsa de Hinata e virado de costas para a área dos chuveiros. 
    — Acho que nunca perguntei porque você se interessou pelo vôlei — o loiro diz a primeira coisa que vem à mente. Agora não faz mais sentido perguntar se Hinata é trans, talvez não fizesse nem antes disso.
    — Eu vi um cara jogando na TV em um campeonato nacional e pensei que era legal, então queria fazer igual — Shouyou responde.
    — Só isso? Depois você virou um ace?
    — Não mesmo. Foi difícil no começo, quando eu ainda fazia parte do time de vôlei feminino. As garotas eram tão mais altas e maldosas, elas transformaram minha vida em um inferno!
    — Imagino — Kenma murmura. Ele sabe como é ser atormentado por alguém que acha que é melhor que você.
    — E quando eu passei para o time masculino não foi diferente, foi até pior — ri sem humor. — os terceiranistas do ano passado eram os piores comigo, dei graças a Deus quando se formaram. 
    — E você nunca pensou em desistir do vôlei? — o loiro indaga, olhando para trás por cima dos ombros. 
    Ele não consegue ver Hinata dali, mas pode imaginá-lo passando sabonete pelo corpo e pensando em uma resposta. 
    — Acho que sim, mas eu nunca quis isso. — o som da água caindo no chão cessa. — vôlei é uma paixão minha, eu provavelmente morreria sem isso.
    — Uma paixão tão grande a ponto de te dar força para superar todo o bullying e a transfobia? 
    Kenma ouve os passos de Hinata antes de vê-lo, o ruivo aparece na sua frente com uma toalha branca envolvendo o corpo e os cabelos úmidos penteados para trás. 
    — Pode-se dizer que o vôlei era uma paixão que estava me matando na época, mas já passou — dá de ombros. 
    Hinata diz que já passou, mas Kenma sabe que isso nunca passa de verdade. Hinata não é mais infernizado por querer jogar vôlei, no entanto deve haver alguma parte dentro dele que ainda se lembra da sensação e o tortura com isso.
    Kenma sabe porque vive o mesmo. Ele não vive mais com a mãe e a  irmã, se livrou delas no exato instante em que sua avó morreu e deixou de herança o apartamento em que ele vive hoje, mas os fantasmas das palavras das duas nunca vão abandonar Kenma. 
    Ele provavelmente vai se achar inútil e descartável até o final da vida..
    — Vamos?
Ele ergue os olhos e encontra Hinata sorrindo para si, a mão estendida no ar e esperando pela de Kenma. Enquanto Kenma divagava, Hinata se vestiu.
    — Vamos.
Os dois dão as mãos antes de deixar o vestiário. O time da Karasuno tem uma rápida reunião com o treinador antes de serem dispensados para comemorarem a vitória. Kenma não deixa de notar que Tsukishima e Yamaguchi pareciam ter planos juntos e que o capitão quis adicionar Yachi nesses planos.
    — Tudo bem, se você quer que ela vá — é o que Tsukishima responde, desviando os olhos. 
    — Valeu, Tsuki! — Yamaguchi responde antes de ir até Yachi. 
    Kei observa o amigo se afastar enquanto solta um suspiro, ele desvia os olhos para Hinata, que está ao lado dele falando com Kageyama, e aponta para um ponto na camiseta do ruivo.
    — Tá sujo aqui — Tsukishima mente, quando Hinata abaixa os olhos, o loiro ergue o dedo e o bate no queixo e nariz de Hinata. — subiu.
    — Idiota! — Hinata murmura, batendo na mão do colega de equipe. — Kageyama, é só dar um fora nele, o Oikawa não morde! — volta a falar com o melhor amigo.
    — Na verdade morde sim — Kageyama passa a mão no pescoço. — Eu não posso só ignorar ele até que ele desista?
    — Pode, mas você quer fazer isso?
    O moreno revira os olhos antes de se afastar, indo na direção de outro grupo de pessoas, os jogadores da Aoba Josai. Três minutos depois ele volta, o capitão do time adversário parece arrasado.
    — Kageyama honrando o posto de partidor de corações! — Tsukishima zomba.
    — E você honrando o posto de garoto mais chato!
    Kageyama e Tsukishima sustentam uma briga idiota até a saída do lugar, Kenma e Hinata observam tudo e Yachi e Yamaguchi mal prestam atenção, eles estão conversando entre si. 
    Quando chegam na saída, o grupo deles se separa, o triângulo amoroso favorito de Kenma vai para a casa de Yamaguchi comer e maratonar um anime, Kageyama vai para casa e Hinata e Kenma vão fazer alguma coisa de namorados.
Kenma reza para que essa coisa não envolva sexo ou gente pelada. 
    — Hoje meu pai e minha madrasta vão sair para jantar e o meu irmão vai para uma festa — Hinata diz no ônibus, mais uma vez ele está com a cabeça deitada no ombro de Kenma. — Nenhum deles vai dormir em casa.
    — E isso significa que… ?
    — Que eu quero te apresentar a minha casa — ele sorri. — Nós já vamos fazer um mês de namoro e você ainda não foi lá, enquanto isso eu mal saio do seu apartamento.
    Kenma faz uma nota mental para lembrar que eles estão namorando há quase um mês, ele não quer ter  uma futura briga por não lembrar quando começaram a namorar.
    — Não precisa se preocupar com isso — Kozume nega com a cabeça.
    — Não preciso mesmo, já que você vai conhecer minha casa hoje.
Hinata sorri para Kenma, os olhos quase se fechando no processo. Ele é um garoto bonito, Kenma tem que admitir isso, e talvez o fato de ser trans tenha feito Kenma gostar mais 1% dele. Porém, Kenma ainda não consegue entender porque Hinata é tão feliz e sorridente, ainda mais agora que sabe as coisas pelas quais o ruivo passou. 
    Sunshine boys são estranhos.
    Kenma e Hinata vão direto para a casa do ruivo, que fica a poucas quadras da cafeteria onde Kenma trabalha. O lugar é um sobrado com uma fachada bonita, pintada de laranja, e várias plantas meio murchas ao lado da porta.
    — Teve uma época em que a minha madrasta tentou ter um jardim — Hinata conta, tirando a chave do bolso da calça para abrir a porta da frente. — mas ela não levou muito a sério e logo desistiu.
    — Coitadas das plantinhas — Kenma comenta, olhando para uma flor murcha.
    A parte de dentro da casa tem um pouco do cheiro de Hinata, a sala de estar está meio desorganizada, com roupas jogadas para todos os lados e um prato sujo sobre a mesa de centro. Hinata suspira ao ver isso, mas não arruma nada.
    — Eu sei que você odeia chegar da rua e não tomar banho — Ele se vira para Kenma, agarrando o pulso do loiro e o guiando escada acima. Hinata aponta para uma porta no corredor do segundo andar. — Pode tomar banho, vou pegar uma roupa para você.
    — Obrigado — Kenma agradece. Ele realmente odeia chegar em casa e não tomar banho.
    Durante metade do banho, Kenma fica se perguntando como Hinata sabe tanto sobre ele. Talvez Kenma seja muito parecido com o personagem em que encarnou, ou talvez o ser que o teletransportou para aquele universo tenha providenciado todas essas coincidências. 
    Seja lá o que for, Kozume só quer ir embora dali logo.
    Ao desdobrar as roupas que Hinata o emprestou, Kenma se depara com mais uma coincidência: a camiseta é igual a uma que Kenma tem, preta, com dois aliens tomando chá no centro e um furo pequeno na região da barriga. 
Ele nem se abala em perguntar qual a história por trás daquilo, apenas veste a blusa junto de uma calça xadrez laranja e branca, que é a cara de Hinata e fica larga nas pernas de Kenma, mas serve bem nos quadris.
    — Fiz o nosso jantar — Hinata anuncia ao ver Kenma na porta de seu quarto, o ruivo está sentado na cama com dois pratos com sanduíches na sua frente. Ele está vestindo uma  uma camiseta branca e uma calça igual a de Kenma, porém rosa. A diferença dos corpos deles é óbvia, ambas as calças são do mesmo tamanho, mas em Kenma elas ficam largas na área das coxas e em Hinata ficam apertadas.
    O cheiro de Hinata é mais forte no quarto, assim como tudo naquele lugar parece ser a cara dele. À esquerda da porta tem uma escrivaninha bagunçada, com fotos de amigos e posters colados na parede acima. Um dos posters Kenma reconhece, é o próprio Hinata no ar, vestindo o uniforme do Karasuno e se preparando para tocar na bola, foi Yachi quem fez (sob o controle de Kenma, é claro).
    — Hambúrgueres — Kenma diz, se aproximando da cama. — olha, sobre isso-
    — Você é vegetariano, eu sei disso, bobinho — Hinata o interrompe. — Eu acordei cedo hoje para te fazer hambúrgueres sem carne, esses são de lentilha!
    — Sério?
    — É claro.
    Olhando o hambúrguer de perto, Kenma percebe que não tem cheiro de carne. Não tem nada de carne ali.
    — Obrigado — Kenma sorri para Hinata, que já começou a comer o próprio hambúrguer, também de lentilha.
    Kenma se sente estranho sobre isso, ninguém nunca se esforçou para fazer algo vegetariano para ele, as pessoas nem lembram que ele não come carne. 
    — Tá uma delícia — Kozume elogia depois da primeira mordida. 
    — Ainda bem, foi um sacrifício fazer isso ficar na consistência necessária — Hinata conta, as bochechas sujas de mostarda. — Depois eu te mando a receita. 
    Eles comem iluminados pela luz da TV, que está exibindo um desenho animado qualquer, a noite já caiu e a temperatura mudou, deixando o ambiente mais frio. Vagarosamente, Hinata se aproxima de Kenma e gruda seus corpos sob um cobertor vermelho, é quente e estranho ao mesmo tempo.
    Estranho porque Kenma sabe que não é quem Hinata queria que fosse, ele pode ser igual ao namorado do ruivo, mas não é ele. Isso faz toda a diferença.
    — Seus pés estão frios — Shouyou resmunga ao tocar os pés de Kenma com os seus. Eles já terminaram de comer e agora estão deitados.  
O ruivo se debruça sobre o corpo de Kenma, o assustando. Ele abre uma gaveta na lateral da cama e tira duas meias de lá, ambas pretas. Uma ele veste, a outra é para Kenma e o próprio Hinata as coloca nele.
    Isso faz Kenma se sentir mais estranho ainda. Hinata é tão bom com ele.
    Shouyou parece sonolento pelo modo como está aconchegado no corpo de Kenma, a cabeça deitada sobre o peito dele e as pernas enroscadas em uma bagunça. Já não está prestando atenção no desenho e os olhos estão cada vez mais fechados. Kenma achou que o veria cair no sono, mas antes disso um barulho soa no andar de baixo.
    Em um piscar de olhos, Hinata se põe de pé e corre pela porta do quarto, ele vai até a escada rapidamente e depois volta resmungando. 
    — Meu irmão voltou e trouxe uns amigos — ele explica, trancando a porta. — Eles provavelmente vão ficar no quintal dos fundos usando narguile, é só a gente não fazer barulho e fingir que não estamos aqui.
    Hinata diz isso desligando a TV e fechando as cortinas da janela sobre a cama, só depois ele volta a deitar ao lado de Kenma, parecendo bem menos relaxado e à vontade do que antes. 
    — Desculpa por isso, eu achei que ele fosse passar a noite fora.
    — Não precisa se desculpar, eu não me importo.
    — Mas eu sim — Hinata murmura.
Do quarto eles conseguem ouvir o som abafado de risadas e conversas, todas as vozes são masculinas.
    — Finge que eles não estão aqui — Kenma aconselha, levando a mão até o cabelo ruivo de Hinata e começando a passar os dedos entre os fios. — só relaxa e descansa, você teve um dia cheio.
    O carinho de Kenma faz Hinata relaxar um pouco, voltando a se derreter no abraço dele e a ficar sonolento. Antes de se render ao sono, Shouyou ergue a cabeça e beija a bochecha de Kenma. 
    — Boa noite. 
    Kenma não responde. Hinata logo começa a roncar baixinho, deixando o loiro sozinho.
    As risadas não muito longe fazem Kenma pensar que talvez Hinata também tenha uma Nanako, uma pessoa que faz da vida dele o inferno e é a favorita dos pais. Será que o irmão de Hinata é tão ruim quanto a irmã de Kenma era? Ele também se esforça para tirar tudo de bom do irmão e acabar com todas as esperanças?
Kenma olha para Hinata, que está dormindo de um jeito fofo sobre seu peito. Ele se aproxima da cabeça do ruivo e inala o cheiro que os fios macios emanam, é um aroma gostoso.
    Parando para pensar, Kenma conclui que Hinata sempre tem cheiro bom, menos quando está suado, é claro.

[♡]

Estou tendo sérios problemas com esse site porque ele simplesmente não deixa minha formatação de um jeito só, ele insiste em bagunçar tudo. Desculpa caso o texto esteja estranho

Esse irmão do Hinata hein 👀👀👀

Pergunta do dia: se você fosse teletransportade para o último jogo que jogou, em qual jogo você estaria?
Eu estaria no LOL e estaria fodida

A próxima att é segunda, beijos 🥰

Cara metade ♡ kenhinaOnde histórias criam vida. Descubra agora