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O céu estava claro, sem muitas nuvens, ostentando um lindo azul bebê e um clima mais do que agradável. Uma tarde de sexta perfeita para sair de casa, quem sabe colher algumas frutas. Então foi isso que decidiu fezer. Usando de sua forma alterada preferida, caminhou de cabeça erguida pelas ruas da cidade, sentindo o cheiro de cada uma das pessoas que passavam por você a procura de algum atrativo o bastante para lhe dar algum suco.
Mas os cheiros distintos do centro não tão vazio estavam tornando sua tentativa um pouco difícil. Consegue cheirar o pecado nas pessoas, e quanto mais pútrido, menos lhe sacia - mas como todos o tem, distinguir de onde o mais doce vem no meio de tanta gente é uma tarefa ardua. O pecado reside em todos os humanos, alguns mais do que outros, enquanto há também quem os mascare com uma espessa camada de fé e devoção para com o senhor - seus favoritos -, mas abolir por completo as necessidades e costumes que tornam os seres humanos pecadores, nunca. Uma pena para criaturas como você que a maioria abrace aos pecados que cometem, pois se alimenta do contrário - a graça de sua existência está em corromper o que há de puro nas pessoas, de absorver tudo que há de iluminado.
Por isso, apesar dos cheiros mistos lhe atingindo, seu coração somente palpitou com um em específico. Forte, cheirava como as páginas desgastadas de uma velha bíblia, mas também como produtos de limpeza cheirosos e leves com almíscar frutífero. Uma mistura atípica que a fez parar os passos confiantes e inspirar com mais calma, separando o odor dos civis que desviam de você no centro para focar no homem santo - uma aura cheirando a pureza, não do tipo infantil e sim do religioso, só pode significar que essa pessoa é uma grande devota a Deus ou no mínimo segue a vida esperada na bíblia sem sequer perceber. Independente do que se tratava, você logo se viu seguindo o cheiro e se deliciando com a maneira que ele parecia abrir seus pulmões, como se tornando mais fácil respirar. Foi encantador virar uma das ruas e imediatamente focar num rapaz sentado a um dos bancos abaixo de uma pequena árvore comendo algo.
Um padre. Aquele crucifixo com miçangas debaixo da blusa amarela com apenas dois botões abertos, mais o cheiro e aura brilhante que visualizou por um segundo não poderia ser um engano. Esse é um homem que devotou sua vida ao senhor e isso sabe bem, mas é o que há por baixo de toda essa casca de pureza e lealdade que a faz se aproximar; esse homem loiro, bem arrumado, sereno e dedicado, com certeza absoluta é mais propenso ao pecado que muitos outros que jamais sequer pisaram numa igreja. Está dentro dele, você pôde notar a devoção não por amor, e sim por conveniência. Isso é uma máscara brilhante que Deus parece aprovar por puro narcisismo, e que você faria cair pelo mesmo motivo egoísta.
