Capítulo 3

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Madu paralisou. Ela não conseguia entender. Então, quer dizer que sua chefe viu o que aconteceu e não fez nada? E ainda a culpou? Essa situação a deixou
atordoada. Não fazia sentido para seu pensamento vanguardista uma mulher questionar tão impiedosamente seu relato. Forças arrebatadoras surgiram junto de ideias, tudo que ajudasse-a superar este novo demônio que perturbava-lhe a mente.

- Maria, se você me permite te chamar assim, não tenho um caso com o Pedro. Foi um estupro. E eu tenho a impressão de que isso não aconteceu apenas
comigo. Obrigada pelo seu tempo, desculpe se atrapalhei sua ocupada manhã.

Se alguém mais a visse falando assim, não diria que ela passou por aquilo. Madu mudou seu tom de voz e engoliu todos os sentimentos. Saiu da sala antes que a presidente pudesse falar algo. Sua determinação
tomou conta. Agradeceu a sua colega pelo favor assim que pisou fora do escritório de Maria Tereza e seguiu para sua mesa. Tinha em mente o que queria, traçou seu plano e o colocou em prática. As horas passaram voando e quando percebeu, estava sendo convidada para almoçar com suas colegas. Ela raramente aceitava os convites, mas precisava distrair a mente e cumprir seu mais novo objetivo.
No restaurante, Madu derrubou as muralhas que construiu. Contou para suas companhias o que aconteceu. E o que ela mais temia era apenas a mais cruel realidade, todas tinham histórias parecidas com a dela. Tirou sua dúvida sobre se era uma situação de
conhecimento geral e, surpreendentemente, todos sabiam menos a presidente, que era a melhor amiga de Pedro Domingos. E tudo fez sentido. Talvez por esse motivo sua chefe desacreditava de suas palavras. Convenceu, com muito esforço, suas colegas a relatarem para Maria o que passaram nas mãos de "uma das pessoas mais respeitosas da empresa."
Em mais ou menos três semanas, todas as mulheres da empresa já sabiam do plano de Madu. E felizmente, muitas delas concordaram em fazer parte.

Descreveram, sem detalhes sórdidos, e imprimiram as situações que passaram e também existia uma lista
com o nome de todas as mulheres que já foram violentadas, abusadas ou assediadas por Pedro. Marcou outro horário com sua chefe. Um mês depois da primeira reunião que teve com ela. Assim que deu o horário, às nove e quarenta e cinco da manhã, Madu estava na porta de Maria Tereza, com uma pasta cheia de papéis. Assistiu o homem que assombrava seus sonhos sair da sala, deixando a porta aberta para que ela entrasse. Não agradeceu, apenas adentrou a sala de sua superior.

- Maria Eduarda. Você, de novo. - Ela não parecia feliz em cruzar os olhos verdes de Madu novamente. - Em nosso último encontro, você não foi tão
agradável. O que faz aqui?
- Trouxe essa pasta. Gostaria que você visse o conteúdo. - Disse Madu. Sem pressa, sem nervosismo, como se fosse um documento que precisasse de apenas um minuto de atenção.
- Aprecio a educação. Devo abrir na sua frente? - E depois da aprovação silenciosa, Maria abriu e leu cada relato. Parecia não ter pressa e sua feição permanecia a mesma. No final da pasta, encontrou a lista. Fechou a pasta, respirou fundo e direcionou seu olhar para Madu.
- Por favor, me diga que é uma piada. - Pela primeira vez, a figura imponente da presidente parecia implorar por algo.
- Não é. Eu sei que ele é seu melhor amigo. Mas também é um monstro que aterroriza todas nós.
- Estou enojada. Sinto muito por ter desacreditado de você. Imagino que você tenha algo em mente. Me deixe saber seu plano.

Aquele sentimento de vitória não anulava de forma alguma a situação terrível que Madu passou. Mas, com certeza, lhe fazia acreditar em dias melhores. Fé no futuro, pensava ela.

Medusa do séc. XXIOnde histórias criam vida. Descubra agora