HEART OUT OF THE CHEST

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CAPÍTULO NARRADO SOB PERSPECTIVA DO HARRY

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Darcy nasceu às vinte e três horas e sete minutos por parto cesárea de emergência. Não me deixaram vê-la nascer assim como não pude segurar a mão de Louis durante todas as horas seguintes enquanto ele soluçava em silêncio olhando para o teto, incapaz de se mover, a respiração tão fraca que às vezes eu pensava que ele apenas tivesse partido enquanto o observava através do vidro do quarto.

Darcy viveu por vinte e oito minutos.

Eu a segurei em meus braços enquanto tudo o que conseguia fazer era pensar em Louis e em como ele não poderia fazer isso antes que ela fosse tirada de nós, colocada em uma gaveta no necrotério frio e preparada para a carenagem. "Pequena demais para um velório" foi o que a médica disse, além disso era política do hospital. Eu quis tirar uma fotografia da nossa menina, mas não deixaram. Eu quis levá-la até Lou, mas também não deixaram. E então a tiraram de mim como se minha filha não fosse nada além de um maldito protocolo de merda. Eu nunca vi a cor dos olhos de Darcy e ela nunca segurou minha mão. Tampouco a de Louis e, na sala de espera, enquanto sentia meu coração ser despedaçado... droga, tudo o que eu perguntava era o por quê coisas terríveis têm que acontecer com pessoas que não as merecem. Ao meu lado, Liam apenas disse que o acaso é um filho da puta cruel demais sem que eu sequer lhe perguntasse algo. "Não tive como saber até hoje a noite quando o abracei, eu apenas não soube" ele disse e havia tanto pesar em suas palavras que acreditei. Ele não sabia. Ele era a porra de um sacerdote e não sabia que a minha filha viveria apenas por vinte e oito malditos minutos.

Louis ficou no hospital por três dias, ele não comeu em nenhum deles e mal tocou nos líquidos que lhe eram oferecidos. Ele também não segurou minha mão de volta quando entrelacei nossos dedos e tampouco fez qualquer coisa além de deixar as lágrimas correrem livres de seus olhos sem brilho. Quando o levei para casa, Louis me disse para ir embora.

Nós não nos vimos por semanas, acho. O tempo ficou meio confuso enquanto eu corria para o trabalho e tentava decidir o que fazer com a casa, com o quarto de Darcy. De alguma forma, parecia cedo demais para desmontar tudo e tão mórbido apenas deixar lá que eu não conseguia me mover em nenhuma direção. Louis não respondia minhas mensagens e Liam apenas me dizia para dar-lhe um tempo para se recuperar, um tempo para sofrer um luto. Liam nunca pensou que eu também estivesse despedaçado. Eu estava. Estava tão despedaçado que mal fazia qualquer coisa às noites além de sentar no escuro do quarto de Darcy e beber algo barato enquanto encarava as paredes amarelas que nunca estariam sujas pelas mãozinhas dela, nunca estariam gastas e jamais precisariam ser pintadas novamente porque uma adolescente diria que amarelo não é o seu tom. Eu bebia até que meus olhos estivessem turvos e então vomitava no banheiro do outro lado do corredor onde uma banheira de bebê me encarava como um monstro com o qual eu não tinha forças para lutar contra. Depois, eu bebia mais. E dormia no tapete de pelos suaves para acordar com minha cabeça a ponto de explodir e tatuar pessoas que não tinham rostos. À noite, eu voltava para a casa inacabada. Foram semanas assim, talvez meses. Como eu disse, o tempo ficou uma bagunça.

Mamãe veio me ver um dia, na casa que um dia foi dela. Seus olhos estavam cheios de dores que eu não soube dizer ser do passado ou não. Ela andou por todo o lugar, visitou os quartos e ajoelhou-se no tapete de pelos suaves que era para ser tingido por tinta guache por uma Darcy jovem demais para perceber onde ficaria as bordas da folha. Eu me ajoelhei ao lado dela, abraçando-a como se não fosse eu que precisava de apoio. Nós choramos pelo que parecem horas, tantas horas que perdi a conta. Quando saímos de lá, decidi que venderia a casa. Não parecia certo mantê-la especialmente quando me desfazer do quarto de Darcy soava como algo impossível. Além disso, Louis ainda não respondia minhas mensagens. Ele estava bem, de acordo com Liam. Tinha voltado para o trabalho depois de alguns dias em Doncaster. Sua irmã Félicite havia tentado convencê-lo a se mudar com ela para o Colorado por um tempo, Liam disse que ele quase decidiu que iria. Quase.

AEQUALIS // larry stylinson Onde histórias criam vida. Descubra agora