THIS GIRL NEEDS A TEA

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Pego um táxi direto para Doncaster. Não há motivo inicial para isso, claro. Faltam três dias para a virada do ano e mamãe deve estar apenas preparando o almoço com seu avental de flamingos alaranjados, o cabelo preso no alto da cabeça com os gêmeos mais novos brincando na sala de estar ao lado. Papai seguramente está no trabalho agora, sua loja de ferragens não fecha no recesso. E tudo bem, ele é um homem que gosta de trabalhar. Ele é um homem que não consegue permanecer quieto. Ele não é quem eu quero ver agora. Enquanto tento não pensar no alfa - Harry - que supostamente se declarou minha aequalis e tampouco no valor da corrida, apenas observo o mundo correndo através da janela. Ainda visto o pijama dele. E estou sem celular. Sinto-me desconectado em todos os sentidos possíveis. Preciso dela, somente. "Mamãe saberá o que dizer" garanto a eu mesmo. Ela sempre sabe. Quando era criança e quebrei meu braço no balanço, foi mamãe quem se ajoelhou rapidamente ao lado com suas mãos em ambas minhas bochechas e olhos profundos dentro dos meus. A tranquilidade em sua íris quase tirou a dor insuportável por completo, mas foram as palavras que me marcaram por uma vida. "Você é forte, Lou. E se machucou. Tudo bem chorar. Apenas não esqueça jamais que sempre estarei aqui. Hoje e no futuro. Sempre que se sentir quebrado, venha até mim e então vamos te consertar juntos". E é isso que estou fazendo agora, claro. Estou indo até ela. Para quê? Não sei dizer. Apenas preciso vê-la e ser engolido por suas mãos de mãe, seus olhos calmos e cheios de sabedoria. "Ela não vai fazer um grande alarde sobre isso" garanto quando pensamentos ligeiramente ansiosos começam a pipocar dentro ds minha cabeça. "Ela não vai fazer isso tudo uma comemoração" tento convencer-me. E apenas quando o carro para diante da casa no subúrbio é que realmente me dou conta do que fiz. Realmente vim até aqui vestindo roupas de outra pessoa. Realmente vim até ela depois de encontrar aquele com quem devo permanecer por toda a vida. Ele. Um homem. Um alfa. Harry.

Porra, meus olhos ardem.

São quase dez da manhã agora.

Pago o táxi e sinto o frio de Doncaster no auge do inverno cortar minhas bochechas. As pantufas nada fazem para proteger meus pés da neve e sinto quase como se pudesse congelar se permanecer por mais tempo parado onde estou. Entretanto, sinto-me petrificado. Há tantas coisas rondando minha cabeça que não consigo formular qualquer frase conexa. Também não consigo me mover. "Talvez seja o frio" penso. Mas não é possível. Não quando a sensação é ardente e vem de dentro do meu peito. Giro o corpo de pressa apenas para perceber que o carro já está dobrando a esquina. É impossível alcançá-lo agora. E o ponto de ônibus mais próximo fica a três quadras da casa onde cresci. Além disso, sinto como se houvessem dezenas de olhares acusatórios me encarando, devorando minha alma e enxergando através de todas as barreiras que construí com o tempo. "Eu não devia ter vindo" confesso em silêncio. E então estou convicto de que entrar em casa nesse momento não é uma boa ideia. Especialmente não quando mamãe está com as mãos ocupadas. Não quero atrapalhar. Tampouco quero ouvir ela me dizer que devo correr até os braços de um completo estranho e me entregar a ele como se o amasse. É tolice. Toda essa coisa de aequalis e Cosmos, o universo dirigindo nossas vidas como se brincasse com marionetes. Tolice.

O ruído alto da porta se abrindo faz com que eu gire o corpo para frente novamente. Dois segundos de terror se passam até que eu reconheça Félicite. Ela veste roupas adequadas para o frio e seu rosto congela quando me encara.

— Lou? — ela parece em dúvida por um momento, os olhos semicerrados como se não tivesse muita certeza do que estava diante de si. Um lar de segundos depois e estou envolvido em um abraço apertado demais, como o de uma mãe. Seu cabelo cheira a biscoitos de chocolate. Sinto-me em casa. — Que diabos... merda, Lou, o que aconteceu?

Ela é uma boa garota. Está na universidade e tem conceitos únicos sobre a forma que o mundo gira. Talvez seja minha irmã favorita. Fungo alto com o nariz ardendo pelo vento gelado e Fizzy rapidamente tira o próprio casaco de pele falsificada comprado em brechó para jogar sobre meus ombros. Ela parece tão ansiosa agora que desejo não ter saído do carro pouco antes. Definitivamente, vir não foi boa ideia

AEQUALIS // larry stylinson Onde histórias criam vida. Descubra agora