› A WHOLE UNIVERSE OF PROMISES

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Não falamos sobre o episódio no banheiro desde então. Fazem dois dias. Também não voltei a me encontrar com Harry, simplesmente apaguei depois de tanta carga emocional e Liam me colocou na cama adequadamente. Na manhã seguinte, meu apartamento cheirava a um belo café da manhã e todas as coisas forma silenciosamente ignoradas com algum sucesso. Não que isso tenha me impedido de pensar sobre. Claro que não. As imagens que meu melhor amigo fez flutuar para dentro da minha cabeça ainda queimavam em memórias. Sim, Liam tinha razão. Os deuses eram grandes filhos da puta, no final. Ainda assim, permiti a ele o silêncio. A intrusão nunca me foi uma característica, latente ou não, especialmente quando se tratava do meu melhor amigo possuidor do Grande Dom. Eu sabia que ele falaria quando estivesse pronto e se viesse a estar pronto algum dia, tudo havia um tempo certo para acontecer e, se eu realmente o conheço bem o bastante, entendo que esse tempo pode nunca chegar. É difícil ser amigo de alguém como Liam, tanto quanto é maravilhoso. Mas, para ser justo, não consigo pensar em como deve ser estar sob sua pele. Ver o que ele comumente vê sobre todos ao redor e também sobre si próprio. Deve ser o inferno, suponho. "Está muito mais próximo do que uma maldição terrivelmente pior do que carregar uma aequalis do que um maldito dom" penso enquanto termino o jantar. Ele está dormindo no sofá a alguns dias já e, como o esperado, faz tudo para compensar a pressão ardente que é tê-lo por perto. Não que seja necessário, contudo assim é Liam. Cheio de poder, sim, mas coberto de complexos muito maiores. Comemos lado a lado no sofá, Cliff está deitado aos pés de Liam e quase ronronando. Na tv, um programa de culinária no qual não estou realmente interessado está rolando em som mínimo. Não é exatamente uma tensão que nos cerca, está mais para o desconforto de uma conversa que precisa ser iniciada sem nem ao menos se ter uma ideia de como. Uma olhada para o lado e o vejo com suas bochechas coradas, minhas defesas estão erguidas e ainda assim sou mais do que capaz de imaginar o que está acontecendo. Quero abracá-lo e dizer que tudo vai ficar bem, mas seria mentira. E ambos sabemos disso.

— Então... — coloco meu prato meio vazio sobre a mesa de centro, a cerveja está ligeiramente gelada e quando o líquido desce pela minha garganta, sinto o alívio percorrer todas as terminações nervosas ariscas. — Ainda tendo as mesmas visões?

Liam segue meu exemplo antes de responder, seu prato está intocado e as mãos tremem ao levar a cerveja em direção à boca. Sinto meu estômago revirar meio ansioso, por ele, claro.

— Um pouco.

— Considerando os fatos atuais, quais a chances de não acontecer? — o conheço bem o suficiente para saber que ele não quer que o futuro dentro se sua cabeça se concretize. Quer dizer, como ele poderia ter aquele tipo de relação com uma pessoa quando seu toque é quase insuportável? Ainda assim, há algo mais em seus modos. Com as bochechas coradas e olhos meio nervosos, quase reconheço algo de esperança. Liam se sente sozinho, isso é um fato. — E, bem, quais as chances de realmente acabar acontecendo?

— Eu não sei — ele não olha para mim em nenhum momento, apenas acaricia Clifford como se pudesse lhe trazer algum conforto. — O futuro não é linear, Lou, você sabe. Às vezes tudo não passa de pequenas hipóteses que não realmente vão vir a acontecer. É tudo sobre inconsistência.

— Ele parece ser um cara legal — termino a cerveja e arrasto o assunto para um campo que espero ser mais confortável. — E é livre.

— O quê?

— O cara na sua visão — digo. — É livre. Ele me disse. Um erro entre milhões de acertos.

— Oh.

Não preciso reconhecer a excitação formigando em minha pele para reconhecê-la no rosto de Liam. Somos amigos a tempo suficiente para que toda a coisa com ele esteja além de seu dom e, se suas bochechas agora completamente vermelhas são um indicador claro, o vislumbrei de esperança que vi em seus modos agora tomou formas mais adequadas. "Seria de fato possível?" não posso deixar de perguntar-me. Quero que ele seja feliz acima de qualquer coisa e, desde que se tornar um sacerdote não está mais em seus planos – provavelmente nunca antes esteve –, então que Liam possa encontrar outros meios de felicidade.

AEQUALIS // larry stylinson Onde histórias criam vida. Descubra agora