Depois que você começa a viver a paixão que sonhou a vida inteira por, em pouco tempo percebe que a vida não faz mais sentido sem aquilo. Nunca mais o dia vai ser tão calmo quanto antes, nunca mais o céu vai ser tão azul, ou as noites tão completas.
Foi assim que me senti desde a primeira vez que fiz amor com ela, eu não sabia como ela se sentia, claro. Fomos melhores amigos a vida inteira, mas sua vida na cidade grande para fazer faculdade, um emprego estável e uma carreira de sucesso a fez se afastar. Com isso me casei com outra grande amiga tive dois filhos lindos e esperei envelhecer, não fazia sentido amar outra pessoa.
Então quando fizemos amor pela primeira vez ela iluminou e destruiu a minha vida, me mostrou que o que eu sempre sonhei era possível, e que esse sonhos seria destruído tão breve. Quando ela voltasse ao mundo real tudo iria se desmoronar.
Nossa rotina estava estável, fazíamos amor ao menos uma vez por dia sem falta, ela dizia aos pais que iria me visitar, mais nunca conversávamos muito. Ela acredita que ninguém desconfia, mas eu já acredito que os vizinhos começaram a suspeitar. Não que importasse muito, todo mundo já sabia que eu a amava, só ela que não.
Converso sobre tudo, sobre como eu estava levando a vida desde a última vez que nos vimos, como ela levava a dela, mas nunca sobre o que viria, eu sabia que esse dia chegaria, e estava me preparando. Não podia dizer a ela que a amava assim, iria assusta-la e não queria perdê-la nunca mais.
Era uma folia fora de época na casa do Sr. Antônio, nosso vizinho mais antigo da região quando fugimos das festividades em minha caminhonete antiga, que já foi de meu pai, e fomos para o ponto mais alto da região, que ficava nas terras de seu pai.
Lá gostávamos de ir na adolescência para conversar enquanto olhávamos as estrelas longe das luzes das casas e das pessoas. Chegamos e ela já desceu do carro para subir no capô, já tínhamos feito isso diversas vezes, o carro velho aguentava nosso peso.
“Hoje a noite está tão linda, príncipe!” ela observou enquanto se deitada em meus braços olhando para o céu. “sim, acho que é uma das noites mais lindas desse verão” falei observando as estrelas iluminando a noite sem lua. “sabe o que isso me lembrou?” falei me recordando de nossa infância, ela me olhou pra indicar que não sabia e que eu deveria continuar “ me lembrei do porque eu te chamo de anjo” a olhei e beijei sua testa em forma de carinho, “sabe, faz tanto tempo que não lembrava se tinha uma razão” ela se aconchegou mais em meu peito “me conta” ela falou. “te chamo de anjo porque você sempre me fez bem, sempre que eu precisava de alguém, você estava lá, sempre que eu estava triste, você estava lá, você sempre era meu anjo, você chegou pra me fazer feliz” falei e beijei sua testa mais uma vez.
Ela ficou pensando por um tempo, parecia que nunca tinha parado pra pensar no motivo, mas lá estava, uma razão, aquilo era o mais próximo de uma decoração de amor que eu poderia dar a ela.
“isso é lindo, príncipe!” ela disse, “ e você sabe porque eu te chamo de príncipe?” ela tentou fazer mistério? “sim, você sempre me disse a vida toda, eu te trato como uma princesa e por isso eu era seu príncipe” ela levantou e colocou seu peso nos cotovelos para me encarar de cima.
“Não, na verdade a razão é outra” do me olhou envergonhada, “ mas você sempre me disse isso” a olhei confuso, “ eu te chamo de príncipe porque um dia quando lia um romance qualquer a protagonista descreveu seu príncipe encantado, e eu disse que não queria alguém como ele para ser meu príncipe, eu queria alguém como você”.
Ficamos nos olhando por um bom tempo depois daquela afirmação, pensando hoje acho que ali ela também se declarou da forma que conseguiu para mim, mas éramos dois adultos inseguros no quesito amor, jamais teríamos dito as palavras certas.
Não, não tivemos mais grandes momentos, ela foi embora eu continuei minha vida e aguardei a volta dos meus filhos, agora aqui estou com as crianças e minha vida pacata seguindo em frente depois de ter vivido o grande amor da minha vida em pouco menos de um mês.
Quando Nicole veio entregar as crianças ela insistiu que eu procurasse meu anjo, mas eu não seria capaz, de entregar a ela a vida que ela merecia, eu tinha muito amor para oferecer, mas não dá pra viver de amor quando se é uma grande mulher como meu anjo, ela merecia o mundo, e eu só poderia oferecer o meu mundo.
Já tem alguns dias que Nicole passou por aqui, depois de ir embora deixando para trás meu coração e qualquer chance de falar o que eu sentia para meu príncipe, eu estava de volta ao emprego dos sonhos, a vida dos sonhos, mas não estava feliz.
Agora pensando naquela noite na colina mais alta da região, eu fiz o que pude para dizer a ele que o amava, mas não conseguiria, ele não era o homem que me amaria, ele queria calma e uma vida boa aos filhos, o que eu poderia dar a ele? Nem sabia o que fazer se vivesse naquele lugar.
Eu o amava, não eu o amo, de todo meu coração e de todo o meu ser. Sempre o amei, mas ele jamais olharia para mim e por isso eu agia daquela forma? Eu acreditava mesmo que o amava como um mero amigo? Como um irmão? Era nele que pensava em todas as vezes que beijava outro, que era tocada por outro, e depois de tê-lo ali em meus braços, jamais poderia ser tocada ou beijada por outro.
Nicole me disse para ir lá, viver com ele, escreve no jornal local da cidade mais próxima, eu inclusive recebi a proposta de emprego. Eu sou uma boa profissional, poderia fazer isso, mas ele iria me querer? Cheia de dúvidas sai do trabalho mais cedo, e fui para meu apartamento vazio, sem vida, sem cheiro, sem um carpete peludo na sala, sem uma cozinha cheia de cheiro e vida, sem ele.
Me levantei fiz minhas malas e sai de casa, não podia viver mais em dúvida, ou não saber o que fazer, eu tinha que tomar uma atitude.
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Contos de Verão
Short Storydiversos contos do envolvimento amorosos de um suposto casal, o clichê nunca foi tão previsível e delicioso de ler. Os dois estão descobrindo como se apaixonar e entendendo as nuances de um romance no auge da vida, os 30 anos. venha se deliciar com...