*************<>**********<>*************Pisca. Tinha as mãos cheias de sangue.
Pisca de novo. Tinha um coração nelas. Ainda batia, fraco, mas batia.
A sua frente um espelho. Nele, o seu reflexo.
Encara-se dos pés a cabeça.
Os pés pequeninos, descalços. Usava um vestido branco, que ia até aos joelhos. No peito, no lugar do coração, uma mancha vermelha.O coração em suas mãos da mais uma batida.
Os olhos. Que belos olhos. Negros. Opacos. Perdiam a vida. A pupila dilatava-se aos poucos.Mais uma batida, fraca.
No chão, um corpo.
Era ela, em adulta. No mesmo estado. Sem coração, olhos sem vida.Mais uma batida?
Não. Parou. Não bate mais.
Parou.
E Jane abre os olhos.
Nem pisca. Está acostumada a sonhar consigo mesma: a criança matando a adulta. Duas, e uma só. Mas ambas mortas.
Encara o relógio ao pé da cama. Cinco da manhã. Em breve partiriam.
Verifica o celular. Uma única notificação. A que esperava.Uma ordem foi dada, e uma decisão foi tomada. A tal horas, a família de Kris já deve ter virado churrasco. Mortos. E Kris também. Morto para o mundo. Ele poderia culpá-la quando se reencontrassem. Talvez no inferno.
Mas não havia nada que ela pudesse ter feito para os salvar. Nada exceto trair a organização.
E trair a organização é o mesmo que assinar a sua sentença de morte e escolher a frase para a lápide.Se é que teria direito a uma.
Talvez não tivesse. Arderia. Nas chamas do inferno.⏳⏳⏳
Uma missão simples. Talvez um pouco demorada.
Mas demorou mais do que o necessário.Ser uma agente requer responsabilidade. Cumprir ordens. Fazer tudo na perfeição.
E Jane falhou desta vez.
Pelos céus. Só demorou mais do que o necessário.
Horas a mais. Apenas isso.Merece castigo? Não. Mas terá.
É filha de um dos superiores mais importantes da organização, e por isso, deve fazer tudo na perfeição. Mais do que os outros.
Sem falhas. Sem atrasos.
Sente o suor escorrendo. O calor assando os seus órgãos. Os pulmões ardendo.
E de repente... o frio.Começa arrefecendo num ritmo acelerado. Mais frio, mais e mais frio.
Até o suor se transformar em gelo. Até os dentes baterem uns contra os outros. Até nem conseguir respirar, por ter o pulmões congelando.
Todo agente passa por isso. Durante o treinamento para agentes. Isso permite ao corpo habituar-se a mudanças repentinas de temperatura; isso torna o corpo mais resistente a temperaturas, quer altas, quer baixas.
Depois de se formarem, somente têm que passar por isso uma vez por mês, para o corpo não se desacostumar.
Mas como é doloroso. Dói até os ossos. A alma.
É um dos treinamentos mais pesados e que os agentes mais odeiam.
Não somente por ser difícil suportar, mas pelas consequências que vêm depois.
E por isso, aplicam como castigo.
Não é o único, mas um dos mais odiados.
Quem se permitirá errar quando sabe o que lhe espera?Quatro horas. Em pleno sofrimento. É o que o corpo aguenta antes de entrar em estado crítico.
Até faltar pouco para o coração parar...e a pessoa morrer. Muitos já morreram assim.
A partir dos catorze anos, todas as crianças iniciam essa fase do treinamento, quando o corpo já é mais resistente.
Mas Jane desde os oito anos. Passou de quinze minutos para trinta. De meia hora para uma hora. De uma hora para hora e meia. E por aí em diante, até alcançar as quatro horas, e ultrapassar.
Seis horas. É o que seu corpo aguenta.
Resistente por obrigação. Sempre teve mais treinamento que as outras crianças.
Claro. Por ser filha de um dos superiores.
Mas ela sabe que é mais do que isso. É mais do que só um pai querendo a perfeição. Muito mais do que puro ego por ser pai de um dos melhores agentes.Eles sempre quiseram criar uma máquina para matar. Mas porquê ela?
Está em segundo lugar dos melhores. Felizmente ou infelizmente, não está em primeiro.
Mas mesmo em segundo, qualquer erro e é-lhe atribuída uma punição.
Das mais pesadas.Afinal, os melhores têm que dar o exemplo, certo ?
Já nem sente o corpo quando, ao alcançar o tempo que lhe foi estipulado, o mecanismo de mudança de temperatura desliga-se, e a porta abre-se.
Ninguém para lhe tirar dali. Ninguém para a ajudar.
Não precisou de ajuda para errar, pois não? Então também não precisa de ajuda para aguentar as consequências.Quarenta minutos. É o que precisou para ganhar o mínimo de força que a permitisse se arrastar dali para fora.
Felizmente, é hora morta. Quando todos os agentes devem estar nos devidos quartos.
Assim não tem que se cruzar com nenhum metido. Assim ninguém a verá em tal estado lastimoso.Uma das melhores, arrastando-se pelos corredores. Inadmissível.
Chega na enfermaria, atirando-se para a primeira cama que encontra.
Mas nem tempo tem para se ajeitar, vira-se de lado e vomita. Vomita tudo o que não comeu. Somente a água que ingeriu antes de entrar na sala térmica.No mesmo instante, é ajudada por duas enfermeiras com expressões neutras.
Já a conheciam. De todas as crianças, Jane era a que mais frequentava a enfermaria. Desde o início do seu treinamento.Mas o que fazer? São pagas para a tratar, não para demostrar afeto.
Pois se o fizerem, pagam com a vida.Por vezes a vida consegue ser mesmo cruel.
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Killer Girl, Agent 007
Science Fiction"Tenho pais ?? Tenho irmãos ??Estão vivos ?? Quem sou eu?? " São perguntas sem resposta que passam frequentemente pela mente de Jane, que a única coisa que sabe sobre si é o nome. Jane não sabe quem é, e tudo o que aprendeu foi-lhe ensinado dentr...