Capítulo 7

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Armadilha? Ou Kris quer mesmo ajudá-la?
Usar talvez seja a palavra certa. Usá-la para descobrir no que a família anda metida.

Mas não o pode culpar, pois não? Não quando faz o mesmo.

Desce do carro, encarando o edifício a sua frente. Restaurante cinco estrelas, todo espelhado.

No seu interior, os pais, o avô e irmãos de Kris já esperam pelo casal.
Atrasados? Não, simplesmente são uma família muito adiantada. E talvez ansiosos pelo filho, neto, irmão que apresentará uma garota para a família. Talvez futura noiva.

Finalmente, já suspeitavam da sua masculinidade, pois nunca o tinha feito.
Infelizmente, não passa de uma farsa.

Senhor Riley levanta-se contente, vendo o neto aproximar-se. De mãos dadas, talvez o futuro mais novo membro da família.

No padrão certo. Bonita, com cara de quem não percebe nada de assunto nenhum e mais importante, parece boa para procriar.

A que garantir descendentes, já que Kris é o único que lhe pode dar o que quer. Os outros dois, gêmeos, infelizmente nasceram inférteis. Problemas durante a gestação.

Mulheres, segundo ele, são para ter filhos, de preferência do sexo masculino, para tratar dos negócios.

Jane percebe no momento em que nota a maneira como o mesmo a olha, e tem de se obrigar a reprimir uma careta. Ler expressões faciais por vezes tem as suas desvantagens. Um sorriso, falso. É tudo o que consegue.
Sabe que se abrir a boca estragará tudo.

O primeiro contacto visual é longo, parece que a queria engolir com os olhos. Ótimo, 19% descodificado.
_ Muito prazer, sou Marianne, Marianne Dimitriou_

Nome perfeito para a sua personalidade falsa. Simples, educada, princesinha e de alta classe social.

Dimitriou é um nome pouco conhecido por ele, tirando que Jane não é coreana.

Está fora do seu alcance, longe o suficiente para que seja possível não conhecer a sua família.

Durante o jantar, os únicos a se pronunciarem foram os três homens presentes. Só falar quando se dirigissem a si, avisou-lhe Kris. E a mesma assim faz, respondendo as raras perguntas que lhe são dirigidas.

E como uma boa garotinha indefesa e tímida, come pouco, beberica a água vez ou outra e ignora completamente o vinho branco, por mais que a sua vontade seja de o revirar em um único gole e convidar todos a dar uma volta na merda.

Foi uma surpresa desagradável Arthur dirigir a palavra para si, no momento em que completava a pouco percentagem que faltavam

_ Já nos conhecemos em algum lugar?_

Todos se calam, dirigindo o olhar para Jane. Já se conheciam? De onde? Quando, e porquê?

Qual seria a respostas correta? Sim, já nos conhecemos. No dia em que o envenenei, roubei e deixei num quarto de hotel pelado e algemado ou...

_ Humm, eu creio que não... senhor Arthur_

Como uma garotinha indefesa e tímida, agarra-se ao braço esquerdo de Kris, por mais vontade que tenha de o partir e madá-lo a merda.

Arthur estranha e franze o senho, mas se mantém calado, se focando somente nos seus pensamentos.

Jane mantém um olhar curioso sobre tudo, o que lhe dá oportunidade de encarar senhor Riley vez ou outra. Mas, maldição, o mesmo parece evitar ter contacto visual com a mesma.

Talvez para evitar que o neto perceba que ele lhe quer comer a namorada. Talvez ali mesmo, em cima da mesa, a vista de todos.

Velho nojento. O garfo em sua mão faria um belo trabalho. Arrancar-lhe os olhos e dá-los de comer aos cães.

3%. É o que falta para a barra ficar completa.
Mas o jantar acabou. Senhor Riley prepara-se para ir embora com seus quatro cachorrinhos atrás, e nem digna-se em encará-la.
Mas...

_ Senhor Riley..._ agarra-lhe a mão, impedindo o mesmo de continuar_ Hum, desculpe, só..._ finge respirar fundo e encara-o, fingindo timidez_ obrigada pelo jantar, foi um prazer conhecê-los_

Voz doce... olhar tímido. Sente vontade de vomitar.

O velho faz um aceno de cabeça, virando-lhe as costas e indo-se embora.

Jane não consegue reprimir o ar anojado que faz, limpando a mão com que o tocou ao vestido.

Vai tentar não pensar que tocou na mesma mão que o velho asqueroso usara para apalpar as bolas sempre que a encarava.
Nojento.

_ Conseguiste o que querias ?_ Kris a encara, notando que a mesma tinha um olhar assassino, como se lhe quisesse matar o avô a dentada.

Talvez o fizesse, mas não com os dentes. Um contacto físico tão superficial como apertar as mãos já é nojento o suficiente.

_ Claro que sim_ responde o encarando.

Kris é tão diferente do resto da família.
Diferente ao ponto de repudiar a própria família, ao ponto de querer ter nascido em outro seio familiar.  Mesmo com tão pouco tempo juntos, conseguiu perceber isso.

Mas mesmo com tudo, ainda são a sua família.
E mesmo que as vezes odeie esse facto, a verdade é que os ama.

Afinal, família é família, certo?

Queria ela saber o que é isso. Ter uma família.
Sem que perceba, suaviza o olhar, encarando o mesmo de forma... protetora.

Jane, que nunca teve uma familia, pensa que no mundo somente existem pessoas, e cada um que cuide de si. Isso de família? Preocupação desnecessária.

Kris franze o senho, estranhando a forma como Jane o encara, e a mesma se dá prestando mais atenção no mesmo.

Em como se formam vincos na sua testa, em como as suas sobrancelhas se curvam, a forma como os seus olhos quase se fecham com o gesto do mesmo.

Morde os lábios com força, impedindo-se de lhe tocar, e Kris sorri, levando o gesto como uma expressão de desejo sexual.

Parados, no meio do restaurante, não percebem que as pessoas presentes os encaram.
Para eles, naquele momento, não existia mais ninguém ali.
Somente os dois.

Killer Girl, Agent 007Onde histórias criam vida. Descubra agora