Um Beijo Inesquecível

563 52 20
                                    


20 de fevereiro de 1870

Sim, eu sabia que teria que reconquistar minha esposa, mas percebi que não seria tão fácil quanto eu havia pensado. A tarde que tivemos no jardim a alguns meses atrás tinha sido incrível, pela primeira vez em muito tempo, houvera um instante, um breve instante, em que ela parecera estar tão feliz comigo quanto eu estava com ela.

Porém, com o passar dos dias percebi que nossa vida cotidiana havia sido estabelecida de acordo com um padrão incapaz de fazer qualquer tipo de paixão ressurgir. Nossas conversas à mesa do jantar, por exemplo, estavam engessadas pela rotina. Acredito que tenhamos nos acostumado com esse estilo de vida, mas estava disposto a tornar isso diferente.

Depois da conversa que tive dom Caxias, passei a mudar alguns hábitos meus. Como ele mesmo falou, meu perdão teria que vir em forma de atitudes, só assim Teresa se apaixonaria por mim novamente. E assim eu o fiz.

A noite em vez de ficar trancado em meu gabinete como era de costume, eu passava mais tempo com Teresa, elogiava-a com frequência, e quando ela contava sobre como tinha sido o seu dia, escutava com atenção.

Eu não tinha qualquer ilusão de que alguma dessas soluções fosse recriar a paixão de Teresa por mim como num passe de mágica e tampouco achava que a situação se resolveria em pouco tempo. No entanto, ainda que as coisas estivessem melhorando um pouco, o progresso foi mais lento do que eu esperava.

Com tudo, cheguei a conclusão de que, além dessas mudanças cotidianas, eu precisava fazer alguma outra coisa, algo dramático, que mostrasse a Teresa que ela ainda era e sempre seria a pessoa mais importante da minha vida. Foi quando certa noite, já bem tarde, enquanto analisava algumas fotografias que eu mesmo havia tirado, uma ideia começou a surgir em minha mente.

Acordei no dia seguinte cheio de energia para colocar meu plano em prática. Sabia que tudo teria de ser executado em segredo e de forma metódica, para que saísse perfeitamente incrível, assim como ela merecia.

...

Mais tarde, ainda no mesmo dia, decidi convidar Teresa para passarmos a tarde no jardim. Da última vez que fomos não tivemos a oportunidade de ver o sol se pôr, e hoje seria o dia perfeito para isso.

Como sempre, Teresa estava no museu analisando algumas peças que haviam recém chegado da Europa, e apenas pareceu sair de seus devaneios quando me aproximei repentinamente - o que não a deixou surpresa, pois ultimamente, eu visitava mais aquele cômodo do que qualquer outro.

- Teresa... desculpe te incomodar. Mas eu estava pensando em fazermos um piquenique hoje a tarde no nosso lugar. O que acha?

- Nosso lugar? Temos um lugar agora? - Ela sorriu sem desviar os olhos da peça que analisava com uma lupa.

- Eu disse que dividiria com você.

- Não achei que estivesse falando sério...

- Mas estava... E estava falando muito sério! - enfatizei a minha fala - E então, o que a imperatriz me diz?

- A imperatriz adorou a ideia do imperador! - Ela entrou em minha brincadeira - Vou terminar de examinar essas peças e já lhe encontro. Peça a Celestina para preparar uma cesta para nós.

- Ah, não se preocupe. Eu mesmo faço.

Teresa finalmente desviou os olhos da peça que segurava e me encarou.

Recomeço - Pedresa Onde histórias criam vida. Descubra agora