14 - A verdade

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Era verdade que Jungkook tinha medo da conversa, mas também sabia que ela era necessária. Ao dar seu consentimento para o diálogo, notou que Namjoon também estava nervoso, porque estalou as juntas das mãos, como fazia sempre que precisava tocar em algum assunto delicado. Um pouco trêmulo, ele abriu a garrafa de vinho e serviu o conteúdo nas taças, todos os gestos desacompanhados de explicação, deixando Jungkook mais e mais tenso. Como se precisasse de um pouco da bebida na garganta antes de falar qualquer coisa, o mais velho tomou um grande gole e voltou a encarar o outro.

"Jungkook, eu..." Namjoon fez uma pausa para um suspiro grave e tomou mais um gole do vinho.

"Eu sei o que você vai dizer e eu entendo se você não qui-"

"Jungkook, você disse tudo que queria dizer da última vez. Agora é minha vez."

Jungkook tomou um gole do vinho também, percebendo que suas mãos pareciam fracas, quase incapazes de levantar o peso leve do cristal e do líquido dentro dele. O líquido de sabor forte parecia prepará-lo para o gosto amargo do que pensava que ia ouvir.

"Foram muitos anos de sentimentos guardados. E... eu acho que te devo desculpas. Eu nunca soube lidar muito bem com sentimentos e sou lento pra processar emoções, espero que você entenda..."

Não foram palavras tão amargas assim, e Jungkook sentiu que podia ficar a vontade para ser suave também.

"Hyung, você não tem que pedir desculpas..."

"Te devo desculpas sim, Jungkook. Você esteve sofrendo todo esse tempo por um sentimento que eu nem sabia que existia."

"Eu é que não sabia me expressar," Jungkook trouxe as mãos ao peito, como que tomando a culpa para si "mas eu devia ter falado antes, não é? Quando você era livre e desimpedido."

"Eu ainda sou livre. E não tem nada que me impeça de fazer o que eu bem entender com a minha vida, nem minha filha nem a minha ex-mulher. Elas são parte da minha vida, mas nessa área..." Namjoon hesitou pela primeira vez, mas depois retomou a firmeza "afetiva sou eu que tomo as decisões. E, bem, eu é que não soube me expressar e talvez eu tenha deixado você entender outra coisa por todos esses anos. Na verdade, não é nem que eu não soubesse me expressar. Eu nem sabia o que eu sentia pra poder dizer... Mas agora eu sei."

Jungkook esvaziou a taça quase toda com um grande gole. Estava pronto para receber sua sentença. Se não fosse exilado daquela casa, pelo menos ganharia uma ordem de restrição ao coração de Namjoon. Estava certo que seria condenado de alguma forma.

"Por todos esses anos, eu nunca mantive o contato com você, não é, Jungkook?!" O rapaz fez que sim com a cabeça. "Eu sempre soube que você sentia alguma coisa por mim. Nunca passou pela minha cabeça que fosse interesse romântico ou... sexual..." Jungkook sentiu o rosto quente e Namjoon também desviou o olhar para a comida sobre a mesa. "Eu achava que era só uma admiração muito grande, e nunca senti que seria capaz de responder."

"Era admiração também..." confirmou o mais novo.

"Bem, essa coisa que eu via que você sentia me deixava desconfortável, e eu preferia não alimentar o sentimento, mesmo pensando que era só admiração. Eu não sou perfeito, nunca fui e continuo não sendo, e, por conhecer tão bem os meus defeitos, eu não achava que eu merecia uma coisa tão..." Namjoon segurou a taça, mas não a levou a boca, só trouxe para mais perto do peito. "Pura, bonita. Mas ao mesmo tempo, eu gostava daquele tipo de atenção. Eu via seus olhos brilhando quando você olhava pra mim e me sentia bem em saber que você me confiava um lugar tão... elevado."

Jungkook estava desconfortável com todos os adjetivos. Se sentia exposto, como se algo muito íntimo estivesse sendo revelado e, de certa forma, era um alívio que Namjoon estivesse dando atenção ao que sentia. Mas não deixava de ser embaraçoso que o outro soubesse que era um sentimento tão grande e, de fato, ingênuo, como Namjoon bem descreveu.

Bebê a bordo | NamkookOnde histórias criam vida. Descubra agora