1. A entrada

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Sentia, há muito, o peso do amor comprimir as artérias de meu peito. Cada fibra sofria ante a compressão do amor platônico, do desejo, do desapontamento. Jovens, quando amam, se lançam a um limbo negro e sem gravidade. É uma suspensão dos sentidos que o corpo se anestesia e a mente amplia; em suma, é um vácuo de existência.

Minha querida Elisa, minha querida diretora...

Meus colegas e outros adolescentes se apinhavam no pátio externo, logo à entrada do colégio. A multidão, ao longe, parecia um quadro monocromático e rígido em um corpo silencioso e chocante. Achei aquilo tudo estranho. Um comportamento que nunca havia presenciado. Fiquei apreensivo, embora meu propósito ainda se mantinha firme, ainda desejava levar a cabo o mais insano dos empreendimentos. Contudo, aquele comportamento, o comportamento de meus colegas de escola, me perturbava de tal maneira que me fez esquecer de outras coisas mais importantes.

Continuei minha caminhada rumo à entrada do colégio, assim fazia todos os dias. A diferença estava em que ninguém vinha falar comigo, todos já estavam lá, no pátio externo, em silêncio... silêncio... era um silêncio estranho, não se tratava de uma ausência de alarido de alunos sonolentos antes das sete horas da manhã, era uma coisa provocada por perplexidade, por espanto, por inação ante a surpresa.

Quanto mais me aproximava, mais perturbado me sentia. As impressões daquele quadro estranhíssimo demovia-me para o encontro do desconhecido, do insondável. Tanto estava impelido para aquele lugar, agora inóspito, quanto desejava ainda estar em casa, dormindo e sonhando com cenas proibidas e pouco pudicas.

Não havia outra decisão a tomar, senão continuar minha trajetória e conhecer a razão da aglomeração singular daquela manhã fria de segunda-feira...

Assassinato no ColégioOnde histórias criam vida. Descubra agora