3. O véu de sangue

31 1 0
                                    

Tanto desejei vê-la nua e tanto a vi em meus sonhos que a materialização da utopia distorceu a projeção de minha alma.

Nua ela estava, a pele plenamente negra como ébano, porém manchada de vermelho escuro, vinho tinto coagulado; o sangue derramado da véspera sepultou a vida que havia naquela carne lustrosa e intocada – pelo menos assim imaginava. A cena era tenebrosa para o meu peito, mas havia certa plasticidade artística que a tornava bonita, apreciável; talvez, ali, houvesse romantismo para a presença da morte, porque passar por ela há de ser do melhor modo. Melhor que ter uma vida digna é ter uma morte à sua altura.

Aquela fina flor estava despetalada, mas não estava mal vestida. Cingia-lhe o corpo frio um véu: a vestimenta das noivas. Tão linda, deveria ter se casado comigo, mas não, ela preferiu deixar-se desposar pela Morte a trocar alianças com este jovem que tudo queria aprender dela, minha amada.

Ante a perplexidade da horrenda cena, lágrimas mantiveram-se em repouso no fundo de meus olhos. Era espanto que sentia? Não, aquela linda mulher me surpreendia mais uma vez com seu jeito de ser, mesmo que na despedida involuntária da vida, plantava em mim mais um suspiro.

Tão linda estava minha bela Elisa. Mais do que a dor da perda era a dor de uma vida que ainda se entrelaçaria a minha, sentia da Isa que havia um futuro incomum aguardando por nós, não previa, entretanto, que fosse outro vaticínio.

Isa estava morta, nua, negra, tingida de vinho, vestida para a morte: eis o fato... chorei muito, mas não ali na frente dela, frente a frente a seu corpo insepulto.

Assassinato no ColégioOnde histórias criam vida. Descubra agora