"Envenenadores são naturalmente severos e rigorosos. Eles podem, com um olhar, cortar tão facilmente quanto com uma faca."E eu sabia disso, cresci escutando isso. Não é como se eu fosse um leigo no assunto, eu era formado, graduado nessa matéria.
Na mesma proporção que eu consigo manipular os elementos, os envenenadores conseguem manipular os venenos existentes. O ponto que nos difere, é o fato de, se por ventura, eu venha a duelar ou acidentalmente eu tiver contato com algum elemento, eu posso me afogar, queimar, e até mesmo perder o ar. Mas se um envenenador é envenenado, não acontece simplesmente nada.
Eles são imunes a todo e qualquer tipo de veneno.
Eles são imunes a uma das armas mais letais e práticas desse reino.
Eles são imunes.
Imunes.
Parece até piada, como eu que sou limitado a controlar os elementos a minha volta conseguiria resistir a alguém desse modo? Eu também não sei.
Mas para coroar-se um rei, não basta ter nascido na família real. Deve-se lutar por esse posto, no que não é apenas um jogo de ganhar ou perder: é uma batalha de vida ou morte.
E na hora de reinar, só um restará.
Tenho plena certeza que a prisão começa depois do duelo.
Uma prisão na escuridão, sem respirar, sem falar, uma súbita noite. Um sono sem fim.
Ou uma prisão na claridão, com um peso na cabeça, uma coroa espinhosa que me lembrará toda vez o sangue que eu irei carregar em minhas mãos.
Acordo de meus pensamentos e volto a minha realidade.
Realidade essa que consiste em ter uma mordaça úmida em minha boca, úmida de suor ou de outra substância eu já não sei responder. Como eu estava dormindo ao lado de Niall vim parar aqui?
Sinto uma asperidade em minhas costas, minha camiseta é muito fina, consigo sentir a textura do tronco. Sinto o sol queimar em minha face, que a esse ponto deve estar corada da insolação.
Consigo abrir meus olhos e tento identificar minha volta, tentativa essa falha. O sol está realmente forte e meus olhos estão fechados tempo suficiente ao ponto que não consigo, de uma primeira vez, saber onde me encontro.
Tento novamente, agora com mais calma consigo entender. Não vejo barraca, fogueira e muito menos Torpedo. Meu coração se enche de um sentimento que a algum tempo não costumava sentir. Medo. Estou tremendo com a possibilidade de meu cavalo estar sozinho com medo pela floresta. Tento tirar o pano que cobre minha boca. Meus braços não obedecem, estão amarrados.
Gelado, aqui o vento está gelado.
Preso, sem conseguir verbalizar um grito, sentado e com calor.
Tento friccionar a corda contra o tronco, e invoco uma mínima chama para que acelere o processo e ela se desfaça. Funciona, consigo me soltar.
Alguma castanha cai em minha cabeça, e é como se tivesse um epicentro se formando em minha cabeça. Minha cabeça dói em uma magnitude 7, o constante sol e essa maldita castanha contribuíram para tal fato.
Desamarro a mordaça e um forte cheiro invadiu minhas narinas, um cheiro não costumeiro. Esse cheiro está começando a me tontear, arremesso a mordaça longe.
Quando vou pegar a castanha, observo que a terra está mais avermelhada e sem tanta grama como geralmente é em Aire. De imediato estranho, eu não vim tão longe com Niall. Na fronteira, estou na fronteira. Como eu vim parar aqui?
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desenlace ✧ l.s
RomanceFim. substantivo masculino momento ou ponto em que se interrompe algo; termo. O fim de uma vida, o encerramento de um ciclo, o fim de um teste, o fim do ano. Tudo isso mostra trajetórias finalizando, então seria essa a solução? o fim? Naquela em que...