Capítulo 03

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- Não, Mia. Não teve beijo. - Suspirei e coloquei mais um livro dos muitos que estavam apoiados no meu braço em sua devida prateleira.

A professora de literatura havia me pedido encarecidamente que eu guardasse os livros usados na aula de hoje, e eu como uma boa aluna que sou, aceitei de bom grado e cá estou eu, com um carrinho cheio de livros para arrumar e uma amiga tagarelando sobre o meu "encontro" mais que inesperado.

- Nenhunzinho? - Ela perguntou novamente.

- Nenhum, Mia. - Balancei a cabeça e ela me olhou meio desanimada, mas logo sua expressão mudou, dando lugar a um sorriso malicioso. - Mia?

- Mas você bem que queria né, sua danadinha. - Mia sorriu e começou a cutucar minhas costelas, fazendo cócegas.

- Mia Kim! Pare já! - Rindo de suas gracinhas, consegui afastá-la dando um beliscão na sua bochecha com a minha mão livre.

Quando demos por nós, o sinal havia batido e já era hora do intervalo, avisei à minha amiga que iria faltar hoje, pois ainda não havia guardado todos os livros e gostaria de terminar aquilo o quanto antes.

- Tudo bem. - A morena sorriu e me abraçou. - Te vejo na aula!

Me olhando uma última vez, a morena se despediu e rumou para fora da biblioteca, me deixando sozinha entre aquelas muitas prateleiras e mesas espalhadas por toda a sala. Suspirei e arrumei os livros nos meus braços, o peso deles estava começando a me incomodar, mas coloquei na cabeça de que quanto mais cedo eu começasse, mais cedo iria terminar.

Alguns minutos depois, eu estava finalizando o meu trabalho, só restavam mais alguns e eu estaria livre. Agradeci mentalmente e foi quando minha barriga roncou, me lembrando de que provavelmente não conseguiria ir lanchar hoje. Soltei um muxoxo, estava com fome.

- Acho que tem alguém faminta por aqui.

Meu corpo inteiro gelou. Torci o pescoço vagarosamente em direção à porta da biblioteca e o que eu vi não foi a madeira cor carvalho escuro, mas sim um par de olhos esguios e um palito de pirulito pousado nos lábios.

- Jay? - Perguntei surpresa e antes de me responder, o moreno ergueu uma caixinha de leite na minha direção. - O que...

- Mia me disse que estaria aqui, então eu trouxe. - Balançou a caixinha na minha frente.

Peguei o objeto com um pouco de relutância, estava tímida de mais e ao que parece ele percebeu, pois girou o palito com a bolota doce de um lado da bochecha para o outro, enquanto um fio repuxava o canto dos lábios.

- Não precisava se preocupar... - Sussurrei e apertei a caixinha levemente entre meus dedos.

- Você tem que se alimentar bem. - Jay colocou uma mão no bolso da calça escolar preta, e eu sei disso porque simplesmente não conseguia encarar seus olhos.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, sua mão livre foi rápida em agarrar os livros que ainda estavam em meus braços, os levando para si. Olhei-o surpresa, mas um tanto aliviada por ter sido salva do peso deles.

- O que está fazendo? - Questionei.

- Vou ajudar você a terminar? - Perguntou de volta, como se fosse óbvio.

- Não precisa, de verdade! - O respondi, balançando os braços na frente do corpo. - Eu já estou quase acabando, e você vai se atrasar para a aula...

- Você sempre nega minha ajuda, até parece que não gosta de mim. - Brincou e eu me engasguei com minha própria saliva.

- N-Não é isso... Eu só...

- Tome isso e terminaremos juntos. - Apontou com a cabeça para a caixinha de líquido branco que ainda estava lacrada em minhas mãos.

Suspirei e acatei a sua "ordem". Peguei o canudo embalado na parte de trás da caixa e furei o lacre com a ponta, levando até a boca em seguida.
Jay olhava atentamente meus movimentos, como se não quisesse perder nenhuma ação, me deixando totalmente sem graça.

Depois que terminei, joguei a embalagem em uma lixeira próxima à porta, e retornei ao lado do moreno, para podermos terminar de guardar os livros.
Graças a ele, o serviço foi bem mais rápido do que o esperado e terminamos bem mais cedo do que provavelmente seria se fosse eu sozinha. Resolvemos sentar em uma das mesas para descansar um pouco e aguardar enquanto o sinal não tocava novamente.

- Ainda temos alguns minutos. - Jo sacou o celular do bolso e olhou para o relógio desenhado na tela acesa.

- Obrigado por isso, Jay! - Agradeci novamente o outro. - Acho que teria demorado bem mais sem a sua ajuda.

- Você é sempre certinha assim? - Ele indagou sem mais nem menos.

Pisquei os olhos algumas vezes, o encarando totalmente confusa. Jay por outro lado, parecia bem são e consciente quando arrastou sua cadeira para mais próximo da minha, como se quisesse me encarar mais de perto, e sabendo todo o efeito que causava em mim.

Estávamos sozinhos naquela biblioteca. E eu sinceramente estava com medo e a ansiedade me consumia, criando mil e uma hipóteses do que poderia ou não acontecer.

- C-Como? - Perguntei.

- Você agradece e se desculpa de mais, _____. - Falou simples.

- A-Ah... - Sorri nervosa. - É força do hábito, desculpe! - Mordi o canto do lábio e me xinguei mentalmente quando percebi que havia me desculpado de novo.

Jay soltou uma risada soprada e eu me senti a pessoa mais idiota da face da terra.

- Você... - Começou, atraindo minha atenção para si. - Pode me chamar de Oppa, se quiser.

Dizendo isso, virou seu rosto em direção ao meu, ficando tão próximo que eu podia sentir seu hálito fresco com cheiro de menta contra o meu rosto. Seus olhos encararam os meus e escorregaram até os meus lábios, voltando aos meus glóbulos logo em seguida, num loop que parecia ser infinito.

Minha garganta secou e minha mente começou a rodar, ele estava tão perigosamente perto que me fazia acreditar que ele podia ouvir as batidas frenéticas do meu coração, que batiam incessantemente por ele.

Por algum acaso, será que em algum momento, você conseguiria ouvir o sentimento que bate a todo instante, numa música ritmada que tem seu nome como título?

- Jay...

Murmurei seu nome e ele pareceu se conter - ou tentar, pelo menos - já que sua pupila dilatou como o foco de uma câmera profissional prestes a capturar a mais bela cena do modelo em um ensaio fotográfico.

Eu não podia acreditar no que meus olhos viam.

Ele...

Eu...

Tão perto...

Nós dois...

O silêncio...

Meu coração...

O dele...

Seus lábios...

Os meus...

Meus olhos...

Os seus...

Meu deus...

E quando seu rosto ia de encontro com o meu, o sinal, aquele maldito sinal o tirou de perto de mim, como se o tirasse de um transe com um tapa na nuca. Jay sorriu ao ver meu estado, e se levantando da cadeira, colocou novamente as mãos nos bolsos da rotineira calça estudantil, e com um risquinho nos lábios, convidou-me a segui-lo.

- Vamos para a aula.

Outside Girl - Jay JoOnde histórias criam vida. Descubra agora