Querido diário, foi no dia 21 de abril de 1996, em uma terça-feira que eu me apaixonei.
Hoje, dia 13 de Julho de 1996, sexta-feira, cometi meu primeiro assassinato por amor.O que poderia deixar alguém tão assustado quanto matar outro ser humano?, talvez para seriais killers seja um tanto quanto animador, mas para alguém como eu, que sofre com a ausência de amigos e padece de coragem, é muito mais assustador do que se pode imaginar.
Mas naquele momento em que uma raiva intensa me tomou e por impulso levou-me a assassinar uma amiga do meu "namorado" senti uma sensação gratificante. (Claro que Gabriel ainda não tinha conhecimento de que era meu namorado). Uma garota excêntrica e zombeteira, cujas características foram vista somente por uma pessoa: eu.
O mais assustador pra pessoas como nós é ter que explicar pra um monte de pessoas que não fomos nós quem matou tal ser humano desprezível. vivendo esse momento tudo que consigo pensar é "O que farei com o corpo?".
Apesar de nunca ter desejado isso, ainda sinto uma leve felicidade súbta e incompreensível. Enquanto o sangue de Lisa escorre por entre os meu dedos e o cabo da faca, sinto a ponta do meu nariz gelado por causa da geada lá fora, porém o líquido ainda está quente e continua se esvaindo do corpo dela.
O que estava feito não tinha volta, eu matei Lisa Rose e isso era um fato que não poderia ser desfeito, nem por mim e nem ninguém, somente se sei lá, um ser divino quisesse me dar mais uma chance e me providenciasse uma máquina do tempo - não que isso me faria tomar uma decisão diferente- , mas não, eu era um assassino enciumado e ninguém teria compaixão, somente pensariam no quão horroroso foi o que eu fiz.
Amanhã eles estarão anunciando o pesar da situação e muitos alunos estarão chorando por uma pessoa que nem se quer conheciam, Gabriel também choraria?
Na sala de música da Universidade estava eu em pé e lisa sem vida no chão. Pego meu celular e entro no Google pois sempre escutei que o tio google sabia de tudo então tinha chegado a hora de realmente me ajudar, entrei na barra de pesquisa e digitei "como me desfazer de um corpo", muitas coisas úteis de fato.
As manchas de sangue permaneciam na tela do meu smartphone quando levantei os olhos para averiguar o recinto, como se alguém tivesse chegado e lá estava ela, de pé. Lisa estava de pé olhando pra mim com aqueles lindos olhos esverdeados, seus fios louros não estavam manchados com seu sangue mas, ela estava lá e também estava no chão.
Eu sabia que estava alucinado, uma pessoa que cursa medicina certamente tem um conhecimento sobre o cérebro humano, e naquele momento eu estava literalmente delirando. O mais bizarro de toda essa situação é que na minha cabeça não é nada demais ela estar de pé e ao mesmo tempo no chão morta, mas então eu cheguei a conclusão quase que na mesma hora, eu não aguentaria ter que suportar duas dela e que eu nunca conseguiria me livrar de Lisa e sua cabeleira loura.
Ela então olhou em meus olhos, depois olhou para si no chão e em seguida para suas próprias mãos, como se estivesse tentando se reconhecer e entender a situação.- O que você fez? - ela perguntou, sua voz estalava um eco na sala de música vazia. Já era passado das 23 horas, porém Lisa não estaria ali se não fosse pelo bilhete que recebera na manhã do mesmo dia. - Onde está Gabriel?
-....- Sua voz era um som como de muitas pessoas falando. Um fantasma- concluí por fim.
- Me responda seu antissocial retardado, o que fez comigo?
Não queria dar satisfação de minha ação para ela e uma onda de borboletas voaram em meu ventre produzindo uma vontade imensa de rir, foi tudo o que consegui produzir de minha boca para fora, uma gargalhada, que fluía do mais intimo de meu ser.
- Por que você fez isso? Foi porque eu joguei água suja em você? ou porque eu derramei suco em você propositalmente? - ela correu até mim sem produzir som algum no chão de madeira encerada da sala de musica.
- ...Meu- sussurrei com a cabeça baixa após perder as forças por causa do riso. Levantei o rosto para encarar os olhos esverdeados de Lisa e abri o sorriso mais horrendo que já havia produzido, seguido pela frase que seria a ultima coisa que ela escutaria, estando viva ou morta.- Ninguém cobiça o que é meu.
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O diário de um assassino ( cartas para Gabriel )
RomanceNo dia em que Nicolas percebeu que não valia a pena continuar postergando o final de sua vida, ele conhece Gabriel. O menino mais famoso da faculdade no curso de medicina. Em cima da beirada de uma ponte que dava para o rio, Gabriel roubou o coração...