A primeira carta

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" Porque quando a morte chega, é melhor estar rodeado com pessoas em meio ao silencio, do que estar sozinho envolto também na solidão" - C.M.C

Gabriel sentia seu corpo suar frio quando acordou naquela noite, ele sentia que todo seu corpo tremia e sacudia. Havia passado das 23 horas quando por fim ele havia se acalmado do pesadelo que o acordara.

Quanto tempo fazia que ele não dormia perfeitamente bem? Após a morte de seu pai há dois anos, não havia uma noite sequer em que ele não via, dentro do clouset escuro, uma corda envolta do pescoço do homem que era sua inspiração. O suicídio do pai se tornou motivo de sussurros pela pequena cidade que residiam, sussurros de indignação dizendo que ele havia se matado pois a esposa era infiel, ou que uma pessoa que nasce perdedora morre de um jeito perdedor, mas nunca se colocaram no lugar da família na hora de sussurrarem suas idiotices.

colocando os pés no chão, Gabriel andou até o parapeito da janela e se recostou sobre a cornija. Olhou para o céu e avistou a grande nuvem se aproximando, carregando uma grande queda de água que cairia em menos de 20 minutos.

- Gabriel?- a mãe bateu na porta, levando o eco das batidas pelo quarto.- Você jantou? acabei de chegar do hospital.

- .....- Gabriel ficou em silêncio, não queria conversar no momento.

E então, ela se retirou. Por que ela continuava pegando os turnos da noite? Se parasse de ser tão coração mole muitas coisas seriam diferentes, mas ele sabia que não adiantava pensar assim pois, o que podia dizer quando na verdade era idêntico à ela. Com passadas lentas, Gabriel andou até a escrivaninha branca no canto do quarto, abriu uma gaveta de baixo e retirou um caderno encapado com um couro marrom. Pegando uma caneta detalhada com dourados, ele começou a escrever:

" 13 de julho de 1996, sexta-feira. Querido diário, hoje eu não consegui dormir, meu pai apareceu no meu sonho. Eu o via andando por uma grande e enorme pedra que levava ao abismo, eu corri em sua direção para segurá-lo, mas era como se eu tivesse preso em um rio de piche e lama, mas foi estranho, no momento em que meu pai caiu no abismo, eu gritei, quando finalmente consegui pular atrás dele, eu não mais o vi, mas caí em um rio. Embaixo da água eu vi um garoto se afundando, seus olhos estavam abertos mas estavam sem vida e inexpressivos, um preto tão escuro como a obsidiana.

Nadei em sua direção e colei meus lábios aos seus para que pudesse ter um pouco de ar para respirar e conseguir chegar até a superfície ainda com vida. Seu corpo estava mais gelado do que a temperatura da água, seus lábios eram macios e seu corpo era tão pequeno perto do meu. Agarrei seu pequeno pulso e nadei em direção à superfície, quando retiramos a cabeça pra fora do rio, ouvi ele arfar pelo ar que lhe faltava.

Virei meus olhos para encará-lo e seus olhos brilharam quando me viram, seu cabelo estava colado à testa e sua pela era branca como porcelana, nunca em toda minha vida eu havia me encantado em um homem, era o garoto mais lindo que já havia visto. Nesse sonho, quando finalmente consegui perguntar seu nome, senti uma forte dor no peito, o que me levou a acordar subitamente..."

- Haaaa...- Jamais imaginei que sonharia com o dia em que salvei o maior antissocial de nosso curso, após esse dia, nunca mais o vi no lugar em que sempre se sentava e quando passava por mim era com a cabeça baixa e sem expressão.

Com o pesar pesando meu coração, me levantei da cadeira em que eu havia me sentado e guardei a caneta junto ao caderno de couro na ultima gaveta de minha escrivaninha. O sonho era algum sinal? será que estava tudo bem com o pequeno garoto que ele havia salvado? Se for, eu descobrirei na segunda feira, agora irei me deitar e terminar o restante de minha noite. Andando até minha cama, puxo as cobertas para cima e finalmente encosto minha cabeça no travesseiro afofado, apreciando o som das primeiras gotas de chuva que batiam em minha janela.

//S2//

Pela manhã, Gabriel desceu as escadas que dava para a sala de estar, andou por entre os sofás e poltronas do local e avistou jogada no chão, um envelope em cor mascavo, que foi deixada através da entrada do correio. Com passadas lentas dos seus passos, Gabriel se abaixou e pegou o pequeno envelope, passou os olhos pelo papel e percebeu que tinha uma pequena orquídea imprenssada no lacre e um leve cheiro de canela exalava até suas narinas.

Dentro do envelope, uma carta escrita à mão, com uma linda e delicada caligrafia.

"  É com pesar que te informo, meu querido Gabriel, que hoje se inicia uma nova etapa em nossas vidas!

Com amor, seu admirador secreto."

- O que significa isso? - Sussurrou para si mesmo.

Gabriel, foi até a cozinha e deixou a carta na bancada enquanto coloca seu café para fazer. A cafeteira estalou seus barulhos e soltou o cheiro da fragrância colonial, os raios de sol entravam pela janela da cozinha e aquecia a manhã de sábado, a torradeira saltou os pães já torrados e o rádio falava em baixa som, trazendo vozes e risos dos radialistas.

O que significa essa carta? Gabriel pensou, pensou e pensou consigo mesmo, não havia sentido. Hoje é sábado, o correio não trabalha e ontem isso não estava aqui, então é certeza que isso foi entregue no período da noite ou da madrugada. Um stalker talvez? Mas ontem choveu horrores...

Seus pensamento são interrompidos pelo som do telefone tocando na sala, Gabriel andou até a sala de estar novamente, andou até o canto da sala, onde havia uma mesinha redonda de madeira, que continham um telefone residencial, uma agenda preta e uma caneta azul.

"Clack"

- Alô?

-.....

- Alô?- repetiu, porém Gabriel não ouviu nenhuma palavra, apenas o xiado do telefone e um suspiro de leve antes de perceber que o telefone foi desligado.

- Que merda. Mas o que foi isso?

Antes de ter tempo de volta à cozinha, o telefone tocou novamente.

"Clack"

- Alô?

- Alô, gostaria de falar com Gabriel Spancer?

- Sou eu mesmo, quem é?

- Meu nome é Sara, sou detetive particular contratada pela Família Rose, estou encarregada pelo caso referente ao desaparecimento de Lisa Rose e gostaria de sua cooperação no caso.

- O que?...- Gabriel sentiu que seu chão havia sumido.

Lisa era sua amiga, as vezes irritante em alguns casos, mas nunca causava nenhum mal específico.

- Alô? Sr. Spencer?

- Sim, claro, terá minha total cooperação.

- Obrigada, gostaria de ter uma conversa com você pessoalmente, tudo bem?

- Claro.

- Maravilha, estarei no seu endereço as 14 horas. Lamento pelo desaparecimento de sua amiga, mas garanto que traremos ela sã e salva.

- Certo, obrigado!

A detetive desligou a ligação e Gabriel foi invadido por dúvidas e pensamentos divergentes. O que aconteceu com Lisa? O que a carta misteriosa tinha a haver com o caso? E a ligação estaria sendo tudo peça de um mesmo quebra cabeça?

Continua...

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Obrigada por lerem meus xuxus, desculpa a demora❤

Domingo será minha data de postagem, que é o dia que eu tenho folga kkkk

Feliz ano novo povo, que 2024 seja cheio de paz, saúde e dinheiro ❤❤🤩

O diário de um assassino ( cartas para Gabriel )Onde histórias criam vida. Descubra agora