Capítulo 1: Princípio Espinhoso

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          Quarta-feira, 14 de março. Mais um pacato e usual fim de tarde no leste de Ōta, Tóquio. Os ventos frios sopravam pelo distrito com o céu nublado em tons azulados que se refletiam pelas ruas iluminadas e movimentadas nas quais as pessoas transitavam agasalhadas pelas calçadas e vias, rumo às suas casas ou indo frequentar algum lugar, enquanto o tráfego de veículos fluía sem problemas em algumas áreas e com um pouco de lentidão em outras.

          Sob aquele ar monótono e melancólico, se encontrava um jovem garoto sentado no degrau de uma pequena escada de madeira branca — que levava à entrada de sua casa —, observando a rua onde ele morava da qual algumas pessoas e carros passavam em intervalos distintos. Trajado com uma peça modesta de roupas escuras e um par de sapatos casuais de couro preto, ele não parecia se incomodar com o frio daquele momento e permanecia com os braços cruzados apoiados sobre suas coxas, imerso nos pensamentos taciturnos que perduravam em sua cabeça desde a última discussão que ele teve com seu irmão mais velho.

          As palavras repletas de frieza e desprezo que ouviu da única pessoa com quem ele morava e cuidava dele ainda ecoavam em sua mente — como uma ferida agonizante que ainda não havia cicatrizado.

          "Não me importa o que você sente, apenas o que você faz. Se não consegue lidar com os seus próprios problemas, você é apenas um estorvo inútil nas minhas costas", lembrou-se de uma das falas cruéis de seu irmão naquela noite de domingo.

          "Até onde você pretende chegar com isso, irmão?", indagou-se, levando o olhar em direção ao céu.

          Sua expressão estava abatida e carregada de estresse diante de tudo aquilo que estava acontecendo com ele.

          "Já faz um bom tempo que você decidiu viver assim, porque sua vida lhe obrigou a isso depois que nossa mãe se foi. Mas eu nunca imaginei que você fosse levar as coisas esse extremo comigo...", e abaixou a cabeça novamente, fitando seu olhar no outro lado da rua na qual uma velha senhora — de casaco de lã marrom, rosto enrugado e cabelos grisalhos curtos — que caminhava lentamente pela calçada, o encarou de forma singela à distância por alguns instantes.

          Foram três dias longe da escola, isolado nas sombras de seu quarto, perante o medo e o desalento que lhe assolavam acerca do destino estarrecedor que estava em suas mãos como uma arma em punho cujo seria escolha dele atirar ou abaixá-la e fugir; em suma, um dilema aterrorizante e doloroso.

          Apesar de tantos acontecimentos ruins que ele vivenciou nos últimos sete anos desde que sua mãe faleceu, jamais se passou pela sua cabeça — sequer em seus piores pesadelos — um dia ter que cometer o que nem seu próprio irmão chegou a fazer diretamente: tirar a vida de alguém.

          Era uma linha vermelha que ele realmente não queria cruzar, embora as circunstâncias críticas que pesavam sobre aquilo. Chegava a ser inimaginável para um garoto de treze anos que ainda tinha uma vida toda pela frente, se tornar um assassino, um sujeito desonrado, fadado prematuramente à repulsa, à reclusão e à morte.

          "Se não quiser ser descartado e desaparecer, dê um jeito naqueles garotos até o fim do mês. Isso não só vai limpar a bagunça deles, como também vai poupar você e algumas pessoas que você preza. Reflita isso o quanto quiser para se decidir, mas não deixe passar dessa semana. Depende apenas de você agora", as últimas palavras de seu irmão ressoaram em sua cabeça.

          Esse era o mandado que estava colocado para ele e que não podia ser evitado...

          "Eu não sei se isso foi ideia sua ou não, porém, apenas me diga... por quê? Por que você chegou ao ponto de me submeter a isso...?", questionou-se aflito.

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