Capítulo 1 - Tudo sobre capôs de carro e corações de plástico

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— É tão... longe. — Chenle olhava para as estrelas, e elas o encaravam de volta. A iluminação colorida ainda os alcançava ali, mesmo que tivesse estacionado o Impala de seu pai um pouco longe do fliperama. Sua fala estava enrolada, pois libertava aquelas palavras de dentro de si sem nenhum tipo de filtro. — Como ainda tentam enganar a gente com essa história de que o homem pisou na lua?

Yeojin riu mole. Seus cabelos longos estavam esparramados no capô do carro, ao lado de Chenle.

— Não é uma história. — Ela balançou a cabeça. — É um fato.

— Ah, é? — Chenle a encarou de soslaio. Em seguida, revirou os olhos e se voltou para a estrelas de novo. — E quem é que te disse isso, hein?

Foi a vez de Yeojin encará-lo por um segundo, sem acreditar. Mas assim como ele, logo, já estava perdida no cenário da noite de novo.

— Você não assiste TV? — Ela perguntou. O clima estava fresco e o vento soprava suave. Aquele momento era tão bom, que mesmo sem perceber, ela havia começado a falar do mesmo jeito arrastado de Chenle. Os pensamentos de ambos fluíam como um rio manso, fazendo suas palavras saírem lentas e baixas. — Os americanos falam sobre isso, tipo... o tempo inteiro.

— Eu tô pouco me fodendo pro que os americanos dizem... — Chenle bocejou. — E de qualquer forma... não assisto noticiários, só MTV. — Ouvi-lo daquele jeito estava tão engraçado que Yeojin riria de qualquer coisa que ele dissesse. Incomodado, Chenle empurrou-a com uma de suas mãos, e o movimento foi tão fraco quanto ele se sentia naquele instante. — Eu falo sério, Yeojin... Até eu pisar na lua, não acredito nessa história.

— Por que a gente é assim? — O sorriso preguiçoso fez os olhos dela se fecharem. — Parece que a gente tá bêbado. Ou chapado...

— Eu estou... — Chenle disse, e Yeojin o fitou com estranheza. Não se lembrava de nenhum momento naquela noite em que Chenle houvesse saído do fliperama para arranjar um pouco de erva com alguém. Então, ele completou a própria fala, fazendo gestos grandes e exagerados. — ...drogado nas minhas ideias, na imensidão na vida e na benção divina dos céus.

Dessa vez, Yeojin gargalhou alto.

Aquele momento não fazia sentido algum.

Não era o humor habitual dos dois, muito menos o tipo de conversa que faria ela esquecer de todo o resto.

Mas de algum jeito, estava acontecendo.

Negou com a cabeça enquanto olhava para o sorriso bobo-alegre no rosto do mais velho — o que também não era, nem de longe, uma imagem comum.

— Voce tá feliz? — A resposta parecia óbvia o bastante, mas mesmo assim, Yeojin perguntou. Chenle assentiu com a cabeça algumas vezes, de olhos fechados. O tom risonho prosseguiu na próxima pergunta. — Por que?

— Essa é a melhor parte: eu não faço ideia. — Chenle riu mais, e mais, até pegar o jeito de dizer algo coerente de novo. — Eu só acordei hoje... e vi tudo em câmera lenta. Qualquer coisa prendia a atenção dos meus olhos. Desde as formigas na parede, até os passos da minha mãe pela cozinha... — Sua mente flutuou para a manhã daquele mesmo dia. Ainda conseguia viver cada uma das sensações. — Tudo tão quieto... Minha respiração, tão suave... Eu só assisti, e senti, cada uma dessas pequenas coisinhas.

Yeojin ouvia, pensando nos poucos momentos em que sentiu algo parecido.

— Eu gosto de dias assim. — Ela tombou a cabeça para o lado, repousando-a no próprio ombro.

— Eu não tenho dias assim. Nem me lembrava de como era sentir isso. — Chenle sorriu, um pouco melancólico, mas bastante realizado por estar vivendo o raro momento. Olhando para a garota ao seu lado, repetiu a pergunta que lhe havia sido feita. — Você tá feliz?

O mundo é pequeno em 89.Onde histórias criam vida. Descubra agora