Capítulo 8 - É um castelo de cartas

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— Quem ele pensa que é, porra? — Os passos brutos de Yeojin incendiavam a casa inteira. Ela estava andando em círculos e falando sozinha desde que Yerim apareceu ali pela manhã. Desde então, e talvez até um pouco antes, ela estava evitando toda e qualquer chance de se acalmar. — Minha irmã me abandonou duas vezes sem mais nem menos. Eu não preciso de outra pessoa me fazendo sentir sozinha pra caralho.

Yerim engoliu seco. Yeojin tinha um jeito ácido e raivoso de encarar toda a situação. Era positivo de alguma forma, pois assim, ela não mantinha suas mágoas em segredo como costumava fazer. Mas todo aquele ódio aceso também deixava Yerim meio preocupada.

Parecia que Yeojin precisava quebrar um carro. Com uma marreta.

— Será que você pode, por favor, não se esquecer de que eu tô aqui? — A melhor amiga tentou lembrá-la, apesar das circunstâncias. — Sei que fiz besteira nas últimas semanas, mas eu quero estar do seu lado. Não vou deixar você descontar tudo isso nas... coisas ao seu redor.

Yerim observou os lençóis jogados, as almofadas esmurradas, alguns lápis dos materiais da escola quebrados e espalhados no chão, e as feridas chamativas que Yeojin possuía nos nós dos dedos. Quando ela havia aprendido a socar paredes?

Yeojin afastou seus próprios cabelos longos. Seu rosto pedia por ar.

Ela odiava aquele sentimento horrível. Odiava saber que Chenle era como ela — orgulhoso demais para consertar os próprios erros.

Ele não a procuraria com a cabeça abaixada nem se Yeojin passasse um milhão de anos o ignorando, fazendo-o sentir a dor da perda.

Chenle era do tipo que preferia se destruir aos poucos, sozinho, tentando se convencer de que tudo era irreparável.

Por que ele não podia ceder?

Era tão difícil assim deixá-la saber o que estava sentindo? Caramba, Chenle e Yeojin namoravam agora, mas eram amigos confidentes desde que seus caminhos se cruzaram.

A distância doía muito, porque tudo aquilo parecia uma pintura fresca. Estavam juntos a tanto tempo que cada célula do corpo dos dois estava mesclada por pincéis, tornando impossível o ato de ver suas cores individuais. Longe dele o mundo se tornava um vácuo entre o amarelo e o azul.

Começava como uma coceira no peito, se espalhava pelo corpo, transformava suas ideias em fogo. Sufocava daquele jeito em que ninguém quer amar.

— Minha cabeça dói. — Yeojin sentou-se na ponta do colchão, debruçada sobre o próprio colo. Dentro de segundos, o rosto de Yerim apareceu em seu campo de visão, ajoelhada em frente à ela para limpar as lágrimas que restavam em seus olhos. Ela também acariciou aquele rosto inchado de tanto chorar, lentamente, com o cuidado que Yeojin necessitava.

— Você não pode continuar assim, meu amor. — Disse Yerim. Seus olhos transmitiam uma preocupação sincera. — E também não dá pra ficar aqui o dia inteiro com esse fedor de cigarro. — Com isso, ela conseguiu arrancar uma risadinha da parte da mais nova. — A gente devia sair um pouco...

Yeojin enxugou o rosto em sua camiseta.

— Não dá, você tá de castigo. — Lembrou-a.

Yerim, agora, não tinha mais namorado, depois de ter sido descoberta pelo pai. Yeojin até tinha ficado um pouco feliz em saber que aquele cara pé no saco ficaria longe por um bom tempo, mas não gostava de ver a liberdade da amiga ser podada daquele jeito, por um pai controlador. Conhecia bem a situação.

— Eu sei, ué. Tô cumprindo com o castigo. — Ela se defendeu, séria. Yeojin estranhou, mas tudo voltou ao normal quando Yerim abriu um sorriso travesso e falou num tom igualmente malicioso: — Só vou estar desobedecendo se meu pai descobrir...

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