Seria um erro cósmico presumir que Chenle sabia o que estava fazendo quando voltou para a cafeteria no dia seguinte, sozinho.
Sem Yeojin. Sem a filmadora.
Sem pensar.
Porque ele não conseguiu dormir, muito menos imaginar o motivo de ter sido amarrado numa história tão incomum.
Quantas pessoas passaram pela praia naquele dia?
Quantas pessoas poderiam teria achado a câmera e conhecido Jisung através de fitas, no lugar dele?
Chenle se sentia escolhido.
Ele, que nunca se colocou sob holofote algum ou imaginou escrever as próprias linhas. Destoar era um hábito tão natural que corria pelas veias dele junto ao sangue.
E agora ele queria se sentir grande.
Como explicar, para alguém que mal o conhecia, que ele era o motivo dele se sentir grande?
Aquilo era normal?
Tremer, suar, parar. Seu corpo não respondia a estímulos com facilidade.
Era raro. Uma em cem vezes. Um tumulto avassalador, qual Jisung havia conseguido causar com um simples roçar de dedos.
Chenle não conseguia parar de se perder em tantos porquês. Estava enlouquecendo.
Uma destruição causada pelas próprias dúvidas. Cabeça sufocada e coração sem ar. Tirar tudo dali de dentro seria como perder uma parte dele — estranha parte, nova e intrusa, que parecia fazer morada ali para todo o sempre.
Nada disso seria resolvido com o simples ato de vê-lo outra vez. Na verdade, as chances de que isso tudo só ficasse maior e mais deformado, eram crucialmente mais prováveis.
Mas Chenle queria vê-lo.
Isso é algo sobre caminhos sinuosos e destruição: no fundo, todos nós queremos ver onde tudo vai parar.
O objetivo de Chenle não era mais somente devolver a parte perdida da história de Jisung. Ele queria conhecer as partes que ainda não tinha visto, em primeiro lugar. Mesmo que metade dele dissesse que era loucura — pois de qualquer forma, a outra metade dizia que deviam chegar mais perto.
Afinal, não era atoa que suas mãos agiram como imãs quando estiveram próximas. Algo estava tentando dizê-los que deviam orbitar ao redor um do outro.
— Jisung.
O atendente da cafeteria estava parado em frente ao estabelecimento, encostado num poste de luz ainda apagado, após o fim de seu expediente. Esperava por uma carona ou por um táxi e não vestia mais seu icônico avental.
Os olhos castanhos se ergueram confusos. Ficou descrente quando identificou quem estava ali.
— Olha só quem é. — Virou-se na direção do rapaz. A distância entre os dois naquela calçada era razoavelmente grande. — Vai fugir de novo?
A resposta veio em forma de certeza, saindo diretamente de um coração disparado.
— Não, não dessa vez. E meu nome é Chenle. — E enfim, Jisung o conhecia de volta. Ou quase isso. — A gente pode... dar uma volta?
Chenle chacoalhou de leve as chaves em sua mão direita. Havia estacionado bem na esquina da cafeteria, rente ao meio-fio.
— Vamos. — Foi tudo o que Jisung disse.
Então, passou por Chenle e ficou esperando a porta do passageiro ser aberta.
Chenle virou-se nos calcanhares com as sobrancelhas arqueadas.
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O mundo é pequeno em 89.
Fiksi Remajayeojin + chenle | chenle + jisung. shortfic. - Em 1989, Chenle e Yeojin tinham um mistério em mãos. Envolvia uma câmera, um menino chamado Jisung e muitas emoções sem nome. Entretanto, talvez aquele fosse o jeito mais inesperadamente simbólico de en...