02. A cena

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— Olha, vocês estão muito apaixonadados, como se "tudo fizesse sentido". E todo o sentido se encontra nessa praia e nesse beijo. — Disse P'Aof, entregando uma garrafa de água a Nanon. Para ajudar no beijo, brincou. — Essa cena também vai insinuar que algo vai acontecer depois. Mas não teremos esse tipo de cena na série.

— Certo. — Nanon estrala o pescoço e olha para Ohm, que não prestava muita atenção.

Na verdade, ele não prestava atenção alguma. Ohm estava cansado. As gravações levaram o dia todo, e em meio às corridas na praia, mergulhos no mar, tentativas — falhas — de pesca, trocas de roupa e muito, muito sol na cabeça, ele não pôde cochilar entre as cenas, o que o deixou um tanto exausto para essa noite.

Ele tentava se concentrar, mas se alguém conseguisse ouvir o que realmente passava em sua cabeça, saberia que o olhar distante não era apenas sono ou cansaço, mas sim, a lembrança das risadas dessa manhã, quando brincava de afogar o N. na praia, e da cena que gravaram essa tarde, onde o colega o procurava para consolá-lo pela briga sobre voltar ou não pra Bangkok — não a cena em si —, mas em como o N. ficava fofo interpretando o Pran; ou daquela cena, dois dias atrás, quando os outros amigos da emissora ainda estavam com eles, mas Ohm só pensava na hora em que gravaria com o amigo específico, aquela em que quem se apaixonar primeiro, perde, e ele sabia que já havia perdido apenas por notar como seu sorriso era instantâneo ao vê–lo no mesmo set. E o seu olhar, que estava direcionado para algum ponto entre a areia e o mar, se perdia principalmente, para evitar ao máximo os olhos curiosos desse mesmo amigo, pois ele não aguentava mais esperar pela cena — o beijo — que estava prestes a acontecer. Quebrar o gelo. Derrubar o muro. Beijo é beijo, ele sabe, entretanto, o superfoco do N. em querer fazer a cena perfeita, e por ser sua primeira vez em tela, estava deixando O. um pouco nervoso. Decidiu deixar rolar. E lidar com isso depois.

— Não precisa ter língua, só precisamos de uma imagem bonita de vocês. — Ohm desperta dos pensamentos e volta a prestar atenção no diretor, mas não sai do lugar.

— Eu devo guiar? — Nanon perguta. Ótimo, Ohm pensa, aumentando seu foco.

— Sim, queremos que o Pran seja quem guia nessa cena, — diz Aof, assistindo Ohm, que está olhando para lugar nunhum. Por favor, P'Aof, não me peça para falar nada agora, suplicou O. em pensamento, enquanto olhava N. em visão periférica. — Mas não precisa mudar seu jeito, Non. O jeito do Pran, no caso. — riram — Sejam vocês, meninos!

Sejam vocês? Eu estou sendo até demais, pensou Nanon. Ele e Ohm já haviam gravado algumas cenas da série na cidade, então já estavam bastante conectados. Ohm e Nanon, ou o Pat e Pran. Ou os dois, que seja.

Desde muito novo, Nanon trabalha como ator. E cantor. Sempre soube que essa seria sua área. Sua paixão. E como numa paixão, ele entregava tudo de si a cada personagem que teria que interpretar, ou a cada música que iria cantar, então, ele se propôs a viver como o Pran por um tempo. Dois meses.

Fazem poucas semanas que começaram as gravações, mas desde os ensaios, ele tenta quebrar o gelo. Ele nunca atuou com BL, e seria o quinto do Ohm. Nanon se sentiu um pouco inseguro no começo, até que ouviu nos bastidores, que Ohm só aceitou fazer BadBuddy porque seria com ele. Depois, o próprio amigo o contou. Non fingiu surpresa. Ohm sempre foi muito prestativo sobre tudo que dizia respeito à indústria. Então desde que começaram os workshops, ele tenta aprender tudo o que pode sobre o meio, o mais rápido possível, com o mais experiente — Ohm Pawat.

Ohm conheceu N. em uma série que fizeram juntos anos atrás e por um amigo em comum que os apresentou. Ele não fazia ideia do que esse encontro e do que dizer um "sim" direto quando o P'Aof o convidou para trabalhar em um BL com o Nanon, faria com sua vida. Pat confortou os dias do Ohm por ser tão parecido com ele, enquanto Pran, mostrou a Nanon uma nova maneira de viver a vida.

E eles não sabiam que ela iria mudar tanto.

— Quero que se sintam confortáveis e respeitem o tempo e o limite de vocês. — P'Aof diz, se levantando. — Ohm? Está pronto? — Dá um tapinha em seu joelho e se afasta das pedras.

— Sim P'Aof! — Ele afirma, despertando do transe que estava segundos atrás, tentando manter a calma por saber que em alguns minutos sentiria, enfim, os lábios do Nanon nos seus.

— Agora é a cena do diálogo. — Fala de longe, confirmando com os meninos, e senta na sua cadeira colocando os headphones em volta do pescoço.

Krap — dizem os dois em uníssono e entram nos personagens.

Ação!

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