A Descoberta

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# Você encontrou a cozinha - ouvi uma voz rouca e cansada dizer, era a velha do 333, não tinha como não reconhecer aquela voz, ela continuou - Fazia tempo que eu queria encontrar você por aqui, delicinha. Não somente eu.

Eu odiava com todas as forças a forma 'carinhosa' como ela se referia a mim 'delicinha', mas não queria argumentar sobre isso de novo, muito menos naquele lugar

- Com licença, eu preciso ir.

Ela se pôs na minha frente.

# A porta está fechada, delicinha, vamos esperar os outros chegarem.

Apesar daquela senhora não ser um oponente físico pra mim, eu não consegui fazer nada, nem responder ela, nem me mexer. Nada! Eu poderia dar um soco que arrancaria a mandíbula dela fora, não haveria resistência, mas eu não consegui. Depois de algum tempo que podem ter sido 10 minutos ou 4 horas, já haviam outras pessoas no local, a maioria de idade avançada, discutindo quem eles convidariam para o jantar de gala.

Enquanto todos conversavam eu ainda estava paralisada perto da churrasqueira, me perguntando por que eu precisava estar ali para eles combinarem uma festa do condomínio, eu nunca ia em nenhuma mesmo. Minha mãe entrou rapidamente pela porta, bateu a mão no interruptor e ligou o restante das luzes do local, olhei no canto da churrasqueira e vi alguns ossos "Estes ossos parecem estranhos." meus pensamentos foram interrompidos. Minha mãe veio em minha direção falando alto.

- Moramos aqui, estão malucos?

Um senhor que estava no canto disse. - Odeio concordar com ela, mas ela está certa.

A senhora do 333 retrucou. - Se mudaram há alguns meses, não eram daqui.

% Moram aqui! temos regras, ninguém que faz parte da comunidade deve ser servido. - Retrucou o senhor

# Nunca deveriam ter aceitado uma restrita nos banquetes. - A senhora do 333 argumentou em tom rabugento e de acusação.

Este diálogo estava fazendo tanto sentido que parecia confuso demais, eu queria que ele fosse confuso, eu não queria entender, mas depois da fala da minha mãe não tinha como negar.

- Eu fui casada com ele, todos sabem, eu não queria deixar ela dentro disso, por isso eu morei fora daqui, mas vocês começaram a cogitar trazer ela pra cá e não como convidada. - Minha mãe foi interrompida.

Uma jovem com certeza menos de 30, talvez a pessoa mais jovem do local, deu um pequeno grito, parecendo um cantor de chamamé. Chapéu de couro, calça jeans, botas de couro simulando cobra, e uma fivela maior que uma tampa de bueiro. E eu posso jurar que ouvi esporas, mas minha mente não estava confiável naquele momento. - Sem disfarce, todos sabemos que o apelido dela aqui é delicinha porque ela seria a refeição principal.

Minha mãe tentou interrompê-la, dizendo. - Cuidado com o que você vai falar. - Mas a garota falou mais alto.

& Ela está do lado de uma churrasqueira cheia de ossos humanos, ela já sabe o que está acontecendo - ela caminhou em minha direção, eu estava sentada no chão, encostando a ponta da unha embaixo do meu queixo ela me pôs em pé - Você sabe delicinha... cê mora aqui... ainda não faz parte da comunidade, mas pode fazer... não podemos fazer nada até você decidir. Agora que você sabe de tudo deve decidir.

Ela falava tão calma e pausadamente, que isso fazia o discurso parecer muito mais incisivo e agressivo. Olhei para minha mãe, ela não disse nada olhou para baixo, tudo estava confirmado.

A vaqueira da cidade era fisicamente uma oponente que talvez oferecesse alguma resistência, talvez por isso eu não tenha hesitado em nocauteá-la com um soco. - Parece que as aulas de Karatê serviram pra alguma coisa, hora de soltar o BRUCE LEE de dentro de mim. - Juro que ouvi alguém dizer que Bruce Lee lutava wushu, mas talvez tenha sido só minha consciência me corrigindo, eu nem havia percebido que tinha falado e não apenas pensado nessa frase.

Naquele dia, sem remorso algum, quebrei alguns ossos de velhos, e com muito prazer eu desloquei o maxilar da velha do 333, eu sabia que conseguia, ela foi a única que recebeu uma frase junto com o chute - 'Fala delicinha sem queixo agora velha filha da puta'.

Fechei a porta, ouvi as batidas, ouvi os gritos para abrir, ouvi as súplicas culinárias, ouvi as promessas de morte, ouvi as maldições, ouvi elas pararem, ouvi o silêncio, ouvi botas e esporas, aquele som ficando lentamente mais alto era mais ameaçador do que todas as palavras que haviam sido ditas. O barulho da bota dela ecoando pela sala parou atrás da porta, um arrepio subiu pelas minhas costas, eu ainda estava encostada na porta sem saber como agir.

& Irmãzinha, papai era dono disso, não é só um grupinho, tem muito mais, cê deveria se juntar a nós. - Alguém resmungou alguma coisa, não pude ouvir, mas ouvi a resposta dela. - Shiiiiiiu, ou cê vai ficar muito pior depois de eu enfiar minha bota no seu cu. Irmãzinha, sempre quis te conhecer, se você sair daqui vai ter que fugir pra sempre, se você se juntar a nós, nunca mais vai precisar fugir de nada, e terá uma comunidade inteira pra te ajudar, sem preocupações, quem você acha que sustentou a boadrasta todo esse tempo depois da morte do papai? A aposentadoria dela? Nós duas somos as herdeiras, chefia, alfas... Toma o controle comigo.

Ela deu uma pausa, batendo a unha na porta ritmadamente, por um tempo que me pareceu uma eternidade - A decisão é sua - Concluiu.

Cheiro Roubado Das RosasOnde histórias criam vida. Descubra agora