Capítulo 8

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 Estamos os dois fechados num armazém, ela está amarrada a uma cadeira e eu estou em pé, á sua frente.

- Alex, isto é muito engraçado, mas já me podes soltar. - Ela ainda está em choque e não acredita que isto lhe possa estar a acontecer, mas mesmo as pessoas mais priviligiadas podem ser atingidas.

- Primeiro, isto não é nenhuma brincadeira, foste raptada e podes cá ficar durante algum tempo. Depois, o meu nome não é Alex, podes continuar a chamar-me assim, mas é só para ficares informada.

 Vejo uma lágrima cair por debaixo do pano que está à volta dos seus olhos.

- Lamento que isto te tenha acontecido, mas prometo que te vou tratar o melhor possível.

- Como sei que posso confiar em ti? Mentiste sobre a tua identidade, e está bem que só te conheço faz menos de uma semana, mas ainda assim, é chocante.

- Sei que é difícil de acreditar, mas nós vamos passar algum tempo juntos, suspeito, é bom que nos demos bem. - Não recebo nenhuma resposta, então continuo. - Sei que gostas de ler. Que livro queres que te traga?

- Como sabes?

- Estás sempre a ler nos intervalos. 

- Oh, sim, claro. - ela para para pensar. - Podes me trazer O príncipe cruel?

- Sim. O que queres jantar?

- Pode ser comida tailandesa?

- Claro.

 Estou a tentar uma diferente estratégia com ela, normalmente eu rapto pessoas que tenho que assustar, matar ou torturar, ainda não sei o que tenho que fazer com ela, mas estou a tentar matê-la calma para que não tenha nenhum ataque.

- Podes-me tirar a venda, por favor? - pergunta ela quando estou mesmo na saída.

- Tiro, mas eu tenho câmeras neste armazém. Caso tentes fugir, saberei logo. - Felizmente, a pessoa que me contratou já tinha instalado câmeras e deu-me acesso às imagens, por isso saberem todos os seus movimentos.

 Tiro-lhe a venda e saio para ir comprar comida. Enquanto vou a caminho do restaurante, ligo à Mrs. Smith.

- Lâmina. - Todas as chamadas que realizamos para um membro da companhia, tenhos que dizer a palavra chave. Por vezes esqueço-me e isso complica muito o meu trabalho, porque depois tenho que responder a um enorme questionário para confirmar quem sou.

- John?

- Desculpe incomodá-la, mas queria que mandasse o meu duplo ir às aulas por mim. Por enquanto estarei ocupado e preciso que pensem que eu ainda estou nas aulas para não levantar suspeitas. Logo enviar-lhe-ei um documento com tudo o que aconteceu nos dias em que estive presente para a ajudar.

- Farei os possíveis. Quando voltar a estar disponível avise. 

- Ok, agradeço.

 Desligo a chamada, pego na comida e no livro e trago um para mim também. Vamos ambos ficar lá fechados durante bastante tempo, não convêm usarmos telemóveis para não sermos localizados, tanto que vou colocar ambos os nosso telemóveis numa caixa isolante, é melhor levar algo para me destrair, aproveito e também levo logo o segundo da coleção.

 No carro, verifico as camêras para ver se ela ainda está onde a deixei e fico feliz por ver que sim. Ela está a chorar e a tremer. Aí é que me lembro, tenho de levar alguma roupa para ela se trocar e uma manta, algumas almofadas, e alguns produtos necessários, vamos lá passar a noite.

 Volto para a loja e compro o necessário, entro no carro e volto para o armazém.

- Trouce-te o livro, trouce também o segundo da coleção, algumas trocas de roupa, um saco cama, alguns produtos de higiene, uma manta e uma almofada.

 A última coisa que eu quero é que ela esteja de mau humor, acabará por descarregar em mim e não tenho muita paciência para essas coisas.

- O-Obrigada. - ela olha à sua volta e depois pergunta. - Podes-me soltar para trocar de roupa?

- Sim. A casa de banho fica naquele canto, não tem janelas nem sítios por onde fugir por isso nem vale a pena tentares, só se quiseres gastar energia em vão.

- O-Ok. 

 Ela fecha-se na casa de banho e sai já vestindo o pijama.

 Ela vai em direção ao seu saco cama e começa a preparar-se para dormir e eu faço a mesma coisa.

- Até amanhã. - ela diz antes de pegar no seu livro e começar a ler.

 Esta noite vou dormir num armazém, fechado com uma rapariga que mal conheço e com a qual vou ficar, muito provavelmente, algum tempo. Parece que esta noite vai ser a primeira de muitas.

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