Um Sabor Amargo

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Com tantas dimensões e lugares para ir, aquela seria minha nova casa, olhei para os quadros fofocando sobre minha presença, eu seria considerado um aluno de intercambio, que por ventura era como irmão mais novo de Tom, tinha como ficar pior? 

Claro que tinha, estava totalmente deslocado, e a empatia que todos sentiam por mim na minha era havia sumido, assim como a minha fama, não ligava muito e até me sentia incomodado com toda aquela atenção, porem eu tinha alguns aliados que sempre estavam ao meu lado, tinha meus melhores amigos, sozinho. 

Tom parecia estar em um desfile de moda, enquanto andava sua capa esvoaçava de forma bastante chamativa, ele era mesmo um exibido de meia tigela. 

— Harry, acredito que possa encontrar seu dormitório sem ajuda, já estamos na porta mesmo, agora tenho que resolver uma questão pessoal. — Ele nem se dignou a me olhar ao soltar suas palavras, notei que o diário estava em suas mãos, senti um frio na barriga ainda maior, pois agora sabia do meu futuro, o chapéu tinha me contado tudo, eu sabia pra que ele usaria o diário. 

— Tom... não vai por favor. — Pedi, sem ter a mínima noção de que desculpa eu usaria. 

— O que disse? — Ele se virou serio, seu olhar transbordava uma frieza incomum, aquele ódio e desprezo que eu via em Voldemort eu via também nele. 

— O chapéu me disse que você era gentil, você pode ser gentil comigo hoje? pode me ajudar a arrumar minhas coisas aqui? — Não havia nada para ser arrumado, essa foi a melhor desculpa que encontrei, talvez eu levasse uma surra desse cara, mas já que todos diziam que ele era gentil, talvez eu tenha julgado mal... 

— Você vai entrar na casa da sonserina, sozinho e mais uma vez analisando todos os possíveis significados da palavra silencioso como um cadáver, fui claro senhor Dursley? 

— Foi... mas queria que fosse comigo Tom... — Falei fingindo que começaria a chorar, como se isso fosse realmente funcionar. 

Ele me encarou com raiva, sua face parecia transmutada. 

— Eu entro com você — Bufou parecendo exausto. 

Ahh, ele me pegou de surpresa, achei que ficaria a noite toda tentando convence-lo a me acompanhar,  claro que eu não queria a companhia dele, mas precisava impedi-lo de usar aquele diário pra qualquer coisa que fosse, o chapéu me mostrou o que seria feito, eu não iria deixar isso acontecer. 

entramos em silencio, todos os dormitórios tinham pelo menos quatro alunos, mas no nosso era apenas nós dois, isso era estranho, mas vindo de Tom nada mais me surpreendia. 

— Chegamos, agora se arrume para dormir, volto logo. — Sem dar tempo para que eu rebatesse sua fala ele saiu trancando a porta. 

"Maldição" — Como ele me deixou trancado aqui? 

O pior de tudo é que se fosse na casa da grifinoria eu saberia como sair de um quarto trancado, mas ali era a sonserina, eu não conhecia nada sobre aquela casa e mesmo que conhecesse muita coisa muda em cinquenta anos, sem contar que essa era outra dimensão, uma na qual eu não iria nascer. 

uma pequena janelinha oval me chamou atenção, eu certamente passaria por ela, fiquei receoso, ao colocar a cabeça para o lado de fora, vi que se viesse a cair iria morrer de imediato, onde diabos minha vassoura estava quando mais precisava dela? Ah, sim claro em outra dimensão. 

mesmo que sobrevivesse aquilo, ainda tinha que descobrir aonde Tom estava, mas isso seria como procurar uma agulha dentro do palheiro. 

Não tinha o que fazer, eu estava completamente perdido, meus planos foram todos por agua a baixo, não tinha como seguir Tom, não tinha como voltar pra minha era, eu era Harry Dursley naquele lugar, um idiota que foi atingido por um feitiço irreversível. 

Antes que eu pudesse começar a me lamentar, escutei o barulho da tranca na porta, corri para debaixo do cobertor e fiquei quieto ali, não foi minha melhor ideia, já que esqueci a janela aberta e estava bem frio naquela noite. 

— Não perca seu tempo fingindo que está dormindo, eu escutei seus passos correndo para cama, agora me diz uma coisa, aonde queria ir? — Tom parecia animado, toda sua irritabilidade de antes parecia ter desaparecido, como se tivesse outra pessoa no lugar dele. 

— Só estava reconhecendo o lugar, tudo aqui é muito parecido, mas um detalhe ou outro. — Olhei para a janela vi que flocos de neve começaram a passar por ela, senti um arrepio na espinha. 

— Acho que Dumbledore foi bem claro ao te dizer que não tem como voltar... 

— Eu sei! — Falei serio interrompendo a calmaria irônica que saia da boca de Riddle. 

— Calma... não vou te ameaçar outra vez. — Tom tirou sua varinha de dentro de suas vestes e colocou em cima de um móvel, eu queria naquele momento conhecer um feitiço muito bom de perda de memoria, se ele não souber quem é talvez não faça mal a ninguém. 

Fiquei receoso olhando para ele, não era a minha dimensão de fato, talvez aqui Tom, fosse alguém diferente? não, nem mesmo meu subconsciente acreditava nessa baboseira. 

— Tom, todos dizem que você é gentil, mas comigo não foi gentil... — Falei fingindo estar magoado. 

— Não fui mesmo, pequeno Harry, eu não gosto de ser desafiado e foi exatamente isso o que você fez mais cedo, você me desafiou. — Ele não parecia ser o Tom de antes, mas eu agora via que podia ter causado essa situação. 

— Você estava bem irritado até antes de sair, agora que voltou parece ter um humor melhor... — Comentei me encolhendo na cama, eu não estava mais amedrontado como antes, mas estava nervoso com tudo aquilo. 

— Sim, Eu tinha que perguntar algo ao professor Horácio, algo que tem me chamado atenção, ele se desviou um pouco da resposta que eu desejava, mas agora parece estar me ensinando a chegar aonde eu quero. 

De acordo com o chapéu era assim que ele conseguiria realizar um dos passos de seus planos malignos, senti o gosto amargo na boca, ele seria o senhor das trevas aqui, talvez ele seja mesmo gentil, contudo ele espera trazer o mal. 

— Pode me falar sobre o que é? 

— Não, isso é algo pessoal pequeno Harry, mas acredito que isso um dia possa me deixar mais forte... — Tom se virou de costas tirou o diário de dentro das vestes e colocou ao lado da varinha. — Infelizmente certas coisas requerem paciência. 

— O diário... isso é um diário não é? — Inqueri me levantando. — O que gosta de escrever nele? — Me aproximei um pouco mais, vi seu nome gravado na capa. 

— Você é muito curioso, estou tentando algo muito difícil, algo que descobri recentemente, já ouviu falar em crianças sem amor? — Seus olhos pareciam ter mudado de cor, tamanha era a força de seu brilho. 

— Bom, eu cresci desta forma... — Murmurei me lembrando dos meus tios.

— Então, eu não tive muito da vida, quero ser mais forte, independente do quão sujo é o sangue do meu pai que corre em minhas veias. 

Fiquei em silencio, não podia fazer muita coisa para convence-lo de seguir um plano diferente, me senti exausto, o sabor amargo ainda estava em minha boca, todas as palavras pareciam ter desaparecido. 

— Tom, pode sempre contar comigo. — Não sei o motivo, mas acredito que essa frase não foi irônica, eu estava mesmo me oferecendo. 

Me aproximei do móvel e peguei o diário, era o mesmo que eu tinha visto na minha dimensão, com o diferencial de que esse estava escrito, ali parecia conter o dia a dia de Riddle. 

— vamos dormir pequeno Harry, aos poucos eu falo mais sobre meus segredos... — Tom deu um sorriso meio sem graça, até achei estranho de primeiro momento. — Me desculpa por hoje a tarde. 


Visiting the Space Of Time - ( Tomarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora