Bem Casados (Casamento por Contrato - Crazy For Hot Books) [NA AMAZON]

Capítulo 6

Trilha Sonora: All for us - Labrinth
Fernanda

Estávamos do lado de fora de uma cafeteria, em uma área com mesas ao ar livre, havíamos pegado um lugar que tinha uma vista para as  montanhas. Sentados ali, bebendo de bebidas quentes conversávamos de coisas aleatórias, ainda preguiçosos da noite passada, eu estava sentada com a cabeça apoiada sobre o seu peito, levando de momento a momento a bebida aos lábios. O olhava falar, sentindo os seus braços me comprimirem mais em um abraço involuntário, fazendo com que eu me aconchegue cada vez mais junto a ele. Ele me ouve atento, fazendo um cafuné que por pouco não me distraía, hora seus dedos desciam por meus braços, acariciando a minha pele exposta e me fazendo arrepiar. Determinado momento eu só fechei os olhos, aproveitando, me sentindo cuidada e amparada... protegida.

Seus lábios se grudaram aos meus em um beijo leve que mesmo assim despertava em mim as mais diversas sensações. Seus dedos continuavam me acariciando, deslizando pela pouca pele exposta do meu pescoço e aos poucos desgrudando nossas bocas, parando ao deixar selinhos sobre.

— Qual é o seu livro preferido, pivete? — pergunto, ainda o encarando e vendo sua expressão de confusão e divertimento em face. Mas mesmo confuso ele me responde. 

— "O ovo e galinha", Clarice Lispector... — me responde, parecendo que naquele momento se distraiu, onde mergulhava nas lembranças que aquela obra lhe trazia.

— Tá querendo me conquistar, é? — pergunto, dando um leve tapa em seu braço com um tom zombador, que escondia a minha aprovação diante da sua resposta.

Ele riu, entendendo a minha brincadeira, me beijando novamente em seu riso.

— Eu já não conquistei? — perguntou agora galante, voltando a depositar um beijo em meus lábios.

Eu volto a bater em seu braço, novamente ouvindo a sua risada.

— Até parece... Vocês, homens, metem essa pra conquistar as meninas aos montes que eu sei, viu? Clarice deve revirar no túmulo cada vez que um homem usa o nome dela pra comer uma boc...

— Mas é sério. — me interrompe. — Eu tenho tendência a me apaixonar por coisas que eu não entendo, que acabam se tornando um mistério pra mim, uma simples incógnita que me encanta e me prende... — a intensidade de suas palavras me atingiram, só não mais que as esferas azuis que me puxavam para o seu oceano límpido e claro, como os mares de ilhas caribenhas ou até mesmo Maldivas.

— E quando você descobre você deve se afastar, aquilo não te parece tão interessante que você se enjoa e descarta — fisicamente me afasto dele diante da minha constatação, deixando de o tocar e quase me levantando de seu colo, mas sendo presa pelos seus dedos que continuam a me rodear.

— Pelo contrário, a perplexidade que me segurou até aquele instante na minha busca por entendimento me encanta e me conforta, me fazendo ter vontade de ficar. Mesmo que para contemplar a resposta que por muito trabalhei. Sou um homem que aprendeu com determinados momentos marcantes da vida, que mesmo ruins, pôde tirar proveitosos ensinamentos, até mesmo respostas para mistérios que me pesam a mente. Mistérios esses que mesmo depois de resolvidos lá ficam, simplesmente pela presença, simplesmente como um ponto que marcou tanto aquele lugar que o seu posto sempre vai estar lá, aqueles mistérios que respostas milagrosas me deu em determinados momentos, já tenham se tornado atemporais para todo o sempre, um refúgio em momentos de turbulência em minha vida. Sou um homem apegado, "O ovo e a Galinha" é a minha obra preferida de todas há mais de quinze anos e mesmo que antes já tenha lido outros livros nenhum ocupou essa posição, Clarice não fica atrás, tornando em determinado momento a voz que guia as minhas ações poéticas ao ponto de que às vezes me sinto um simples personagem de mais um livro seu. Sou um homem de entrega, Fernanda, por isso se me dou a algo, não tem volta.