Capítulo 1

43 0 0
                                    

*Anny*

- Me espera! - Gritava enquanto corria sorrindo atrás dele. Meus pés descalços tocavam a grama fresca enquanto meus longos cabelos soltos enrolados esvoaçavam ao vento.

- Você é muito lenta. - Ele me olhava sério com aqueles lindos olhos azuis. Seus olhos eram verdadeiramente hipnotizadores, não eram um azul piscina, mas sim um azul transparente que lembrava a água da chuva.

Continuamos a correr pelo jardim até cairmos deitados na grama.

- Você parece uma tartaruga correndo- Ele disse sorrindo enquanto olhava para cima.

- E você parece um zumbi, mal começamos a correr e você desistiu que nem um vovozinho - Falei com divertimento.

- Ta bom, você venceu. - Ele ergue as mãos em sinal de rendição - É estranho, vir aqui todos os dias e não poder saber o nome um do outro. - seus olhos pensativos encaravam o céu enquanto sua voz soava levemente chateada.

Mas ele estava certo, nós estávamos juntos na maior parte do tempo e não podíamos dizer nossos nomes, era revoltante.

Eu ja tinha tentado convencer ele a contarmos em segredo, só que ele levava a verdade muito a sério. Ele dizia que de onde ele vem, o caráter e a honra vem em primeiro lugar.

Sempre achei engraçado a forma dele de falar, ele era muito maduro pra um garoto de 12 anos.

- Eu tive uma ideia. E se a gente usasse apelidos. - Falei com empolgação. - eu tenho um perfeito pra você.

- Sério? Qual? - Ele se levantou do gramado e sentou para esperar minha resposta, cheio de entusiasmo.

- Calopsita! - Sem me conter caio na gargalhada.

Ele que antes demonstrava estar animado me encarou com indignação.

- Ótimo então vou te chamar de polegarzinha, já que você parece arquiteta de lego de tão pequena.

Como ele ousava? sem pensar duas vezes, sai correndo atrás dele enquanto ríamos sem parar.

- polegarzinha? - Ele gritou de longe.

- Fala Calopsita. - Respondi ofegante.

- Vamos ficar juntos pra sempre - Seu rosto expressava um lindo sorriso.

- SIM - gritei alegre.

Essa foi a última vez que o vi antes do tio George pegar em sua mão e o levar embora para sempre.

Dor, angústia, sofrimento e uma saudade insuportável.

Acordo fitando o teto. Meu rosto estava molhado e em meu estômago havia um nó que não seria desatado tão cedo.

Eu tinha sonhos iguais a esse todos os dias, como se fossem lembranças da época em que eu era criança.

Minha mãe contou que há muito tempo, o papai tinha um amigo que eu chamava de tio George, o mesmo, tinha um filho do qual eu havia me tornado muito próxima, mas um dia, sem qualquer explicação, eles desapareceram sem deixar rastros.

O mais estranho de tudo isso, é que conforme fui ficando mais velha, por algum motivo me esqueci completamente deles.

Não conseguia me lembrar de seus rostos, dos momentos, nada.

Minha mãe possuía duas hipóteses: a primeira, era de que na época eu fosse muito nova então as lembranças poderiam ter sido facilmente esquecidas; e a segunda, de que eu poderia ter criado algum tipo de bloqueio referente a estas memórias, pois segundo ela, eu teria sofrido muito com a ausência deles.

THE BEGINNING OF THE ENDOnde histórias criam vida. Descubra agora