Capítulo único

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A brisa gélida do vento atingia o corpo masculino repetidas vezes, avisando-o que a tarde fria logo se transformaria em uma noite fria. O Homem-Aranha ergueu levemente o queixo, observando a coloração das nuvens quando o sol começou a se pôr. Assistiu todo o lento processo pacientemente, deixando que a paisagem lhe confortasse e a sua mente agitada. Havia pensado muito nos últimos meses. Até Anna Maria havia notado o quanto Peter ficara distraído e mais ausente que o habitual. Mesmo que ele tentasse esconder e suprimir os próprios sentimentos, sentia que não conseguiria continuar com isso por muito mais tempo. E, na verdade, não queria. Foi essa descoberta que o deixou sem dormir desde a noite anterior. Parker ficou horas rolando de um lado para o outro sobre o colchão até decidir se levantar, vestir o uniforme do aranha, e sair. Eventualmente encontrou alguns vilões no caminho e, como vinha acontecendo com frequência, não foi capaz de se concentrar no trabalho. Até que por fim ele tomou uma decisão. Precisava resolver esse problema.

Com o cair da noite, uma figura um tanto peculiar apareceu para fazer companhia ao super herói sentado no parapeito daquele edifício. O sentido aranha não alertou Peter mas não era como se Deadpool fosse um homem muito discreto, de modo que o herói não se surpreendeu ao ouvir a voz do mercenário soar em um timbre agudo e melodioso.

— Spideeey! Que alegria encontrar com esse seu lindo corpinho por aqui — o mercenário falou, genuinamente feliz enquanto se aproximava. — Faz um tempinho desde nossa última aventura. Como tem passado?

O aranha virou o rosto, observando Deadpool se sentar ao seu lado. Notou que ele carregava uma pequena sacola de fast-food com uma logomarca que Peter conhecia bem. Depois de tanto tempo fazendo patrulha com o mercenário era de se esperar que conhecesse sua obsessão por comida mexicana, em especial as famigeradas chimichangas.

— Estou bem, DP. E você? Como está indo a vida de solteiro?

Peter questionou, curioso. Wade que levantara sua mascara até a altura do nariz, sorriu.

— Ah, muito boa. Estou transando a torto e a direito sem me preocupar com restrições, listas ou regras. Tem sido uma maravilha.

Normalmente Peter teria rido e feito algum comentário sarcástico ou uma piadinha sem graça para complementar a conversa, mas ele se manteve quieto. Aquele era um assunto um tanto delicado. Embora Deadpool insistisse em dizer que foi melhor ter se divorciado, uma vez que seu casamento com a súcubo Shiklah estava indo de mal a pior, Peter sabia que o mercenário amava ela. Mesmo que já fizesse um bom tempo desde a separação, o Homem-Aranha acreditava que o sentimento permanecia ali ainda que o mercenário afirmasse o contrário.

Deadpool, alheio aos pensamentos que rondavam a cabeça do aranha, tirou sua preciosa chimichanga de dentro do pacote e deu uma mordida generosa, soltando um sonoro gemido de satisfação. Na mesma hora Peter desviou o olhar, agradecendo por sua máscara esconder as feições de seu rosto. Bastaria uma rápida olhada para Daedpool perceber o quanto aquele simples gemido mexia com o Homem-Aranha e isso arruinaria tudo.

Peter baixou o olhar para o trafego agitado da cidade, desejando secretamente que alguma coisa acontecesse para livrá-lo daquela situação. Mas nada aconteceu. Ainda estava em tempo de desistir, certo? Ele podia inventar uma desculpa e simplesmente ir. Sim, seria mais fácil.

— Nossa, você está tão sério. Qual o problema?

Wade perguntou após um olhar minucioso pelo corpo do aranha. Ele parecia rígido e tenso e isso automaticamente deixou Deadpool preocupado. Ele deixou a lata de refrigerante de lado, decidindo fazer uma pausa em seu lanche. Diante do silêncio, as vozes na cabeça de Wade ficaram mais altas, dizendo todo o tipo de absurdo, fazendo-o acreditar que aquela era a ultima vez que via seu Spidey.

Confissão - SpideypoolOnde histórias criam vida. Descubra agora