Coincidências

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Confusa, imersa em seus pensamentos, a jovem mulher levanta-se e caminha em direção à padaria mais próxima, comprar alguns pães para o café da manhã.

O estabelecimento era amplo, dividido por longas prateleiras imaculadamente limpas, com aperitivos organizados em grupos.

Perdida em meio aquela variedade de doces e salgados, ela vai direto a vitrine a qual uma moça estava a atender uma cliente. Distraída, a garota não percebeu a aproximação de Júlia, que deu um pequeno grito de espanto quando viu que a atendente era Yara.

-Júlia.-Yara diz, com a voz neutra.-Em que posso ajudá-la?-Completa, gentilmente.

-Cinco pães francês e quatro pães de queijo, por favor.-Diz, em tom maquinal, ainda incrédula com aquela coincidência.

-Aqui está.-Diz, entregando a sacola para a menina. Nesse momento, as mãos das duas garotas se encontram instantaneamente, bem como seus olhares cheios de juventude.

-Ah, obrigada.-Diz Júlia, enquanto pegava a pequena mercadoria, afastando as mãos daquela menina cujo rosto de anjo insistia em povoar sua mente.

Com o olhar desfocado, os pensamentos fixos em outro lugar, ela vira-se em direção à saída quando, atrás de si, uma voz hesitante a chama.

-Ei, você se esqueceu do troco.-Grita uma garota um pouco mais alta que Júlia, com algumas moedas em mãos.

-Ah, obrigada.-Agradece, envergonhada, enquanto observava, curiosa, Yara atender um cliente.

Era uma visão encantadora. Vê-la ali, o jeito hábil, o corpo flexível a mover-se ativamente de um lado ao outro, como em uma dança, sob o ritmo dos pedidos, guiado pelo som das moedas que caiam sobre o caixa.

Subitamente, a mesma garota que lhe entregou o troco puxa Yara para trás, fazendo-a rir, um riso maroto, pronta para uma boa travessura.

-Aqui não.-Ralha Yara, rindo.

-Que isso.-Responde a colega, brincando.-Você ficou sabendo? Nosso chefe vai organizar uma festa de fim de ano para os funcionários. Você vai?

-Ah, não sei.-Responde desanimada.-Não tenho ninguém pra levar.-Completa, focada em seu trabalho.

-Não tem é?-Pergunta furtivamente, o ar brincalhão dominando sua voz.-E aquela moça que não para de te encarar? Linda, não?-Provoca em voz baixa, olhando na direção onde Júlia se encontrava, perdida em si mesma.

-É. Pode ser.-Responde, indiferente.

-Deixa de ser difícil. Eu vi a forma como você a observava. Parecia comer a menina com os olhos.-Diz, o tom de satisfação a invadir seu rosto.

-Você acha que ela aceitaria sair comigo?-Yara pergunta à colega, insegura.

-Vai lá xuxu.-Incentiva.-Ela me parece muito bonita.-Admite.-É uma pena que estou em um relacionamento.-Suspira, voltando ao trabalho e deixando Yara ali, imóvel.

Antes que Júlia pudesse sair, Yara a alcança e, ofegante, pergunta-lhe se estaria livre à noite, e se ela aceitaria ir a uma festa organizada pelo dono daquela padaria.

-Claro.-Responde, tentando disfarçar o tom de surpresa com aquele convite inesperado.-Aonde vai ser?-Pergunta, curiosa.

-Em uma casa noturna situada em um beco aqui perto da padaria.-Yara lhe responde, tentando lembrar-se da localização exata do local.

-Até que horas esse evento vai durar?-Júlia pergunta, hesitante.

-Bem, se tratando de uma festa, duas da madrugada é o horário que mais se aproxima do seu término.-Yara responde, categórica.

-Um pouco tarde, não?-Júlia observa, timidamente.

-Sim.-Diz, notando a preocupação da menina.-Você pode dormir em meu apartamento se quiser.-Completa, esperançosa.

-Eu adoraria.-Uma fagulha de alegria brilhou em seus olhos.-Então, nos vemos à noite nesse mesmo estabelecimento?-Indaga, presunçosa.

-Às oito horas.-Yara completa, prontamente.

Após o convite, as duas moças se despedem com um educado aperto de mão, tomando direções distintas: Yara retoma ao balcão da padaria e Júlia, radiante, caminha em direção à pensão a qual estava hospedada.

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