Você se lembra de uma época em que o baque rítmico de sua faca contra a tábua de cortar acalmava sua alma, quando estar na cozinha era uma fonte de relaxamento. Que tola você foi ao sonhar em ser dona de casa, em ser dona de casa de Mitsuya.
Aqui está você agora, obtendo exatamente o que desejou e não pode deixar de desejar ser qualquer outra coisa, em qualquer outro lugar.
Perdido em pensamentos, você não ouve a porta da frente se abrindo, a voz calmante anunciando sua entrada, os passos se aproximando. Você se assusta quando os braços o envolvem por trás, silvando de dor quando você acidentalmente se corta com a faca na mão.
Mas qualquer desconforto é rapidamente abafado pelo pavor quando a mão de Mitsuya percorre seu braço, segurando suavemente seu pulso enquanto ele examina sua lesão.
“Outro corte? Parece que preciso cuidar melhor de você, querida.
Você retoma todos os seus pensamentos anteriores. Ser dona de casa, poder vagar livremente pela sua casa e desacorrentada, poder assistir TV, ler e cozinhar na luxuosa prisão que Mitsuya criou para você ainda é preferível a ser sua boneca.
Lutar só vai piorar as coisas, mas você não pode ajudar os instintos enquanto tenta se afastar de seu aperto firme. Seus apelos desesperados e sufocados caem em ouvidos surdos e tudo o que você pode fazer é soluçar cada vez mais enquanto você é levado ao seu quarto compartilhado, o quarto que você sabe que será sua cela para o futuro indefinido novamente
Mitsuya é tão gentil, tão cuidadoso enquanto cuida de sua ferida, tratando você como porcelana enquanto troca sua roupa prática por outro conjunto de lingerie bonita e delicada que ele criou para você. Você gostaria que ele batesse em você, pelo menos deixasse um hematoma ou até mesmo lhe desse uma palavra mordaz para alimentar a turbulência dentro de você. Mas tudo o que ele faz é murmurar palavras de amor em seu ouvido, acariciando-o suavemente enquanto amarra seus braços e pernas aos postes da cama.
Você odeia como seu coração ainda palpita quando ele olha para sua figura amarrada com adoração e luxúria.
Você odeia saber que só existe amor genuíno no beijo íntimo que ele planta em seus lábios.
Você odeia como seu corpo se inclina inconscientemente em seu toque, silenciosamente implorando por mais, mais, mais.
Mas o que você mais odeia é que você sempre o amará.
Para melhor, para pior, para mais rico, para mais pobre, na doença e na saúde.
