Capítulo 1 - Rouba os meus sentidos

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"E me deixa louca, quando me beija a boca..."

Observando o teto claro de seu quarto, não sabia dizer quanto tempo estava naquela posição. Se fechasse os olhos conseguia sentir sua pele formigar com as lembranças dele próximo demais a ela, a respiração se misturando com a sua, os lábios dele encostando lentamente nos dela e como Leônidas conseguia deixá-la desnorteada com um mero toque. Não foi a primeira vez que se beijaram, na verdade todos já sabiam que estava acontecendo algo entre eles, mas foi a primeira vez que certos limites foram ultrapassados e por ambas as partes, entretanto não foi ela que fugiu dessa vez.

Estava na biblioteca, aquelas noturnas já faziam parte da rotina deles, ambos aguardavam ansiosamente para que a lua apontasse no céu e a casa fosse dormir. Ela o esperava no cômodo, o chá para acompanhar a leitura já se encontrava na mesa de centro, quando o viu entrar.

Tinham adquirido o hábito de lerem juntos, aquele era o momento deles. Ficavam ali, sentados lado a lado, com Heloísa encostada no peito dele, enquanto o ouvia ler. Passavam a madrugada, entre palavras e beijos. Ela se sentia leve, como se aquele instante parecesse certo.

— Que livro vamos começar hoje? – perguntou se levantando e indo em direção à estante, enquanto ele tomava seu lugar no sofá.

Leônidas já sabia de sua história, dos seus traumas e da razão que tinha para odiar o cunhado. Quando contou, pensou que fosse lhe julgar e condenar, mas ao contrário ele a compreendeu e acalentou, como se tomasse as dores para si. Tudo que queria era que alguém tivesse feito isso vinte e cinco anos atrás, quando era só uma menina que não sabia o que fazer. Ele ficou, por ela. A acalmou, afagou seus cabelos e secou suas lágrimas, deixando nas entrelinhas que estava ali para ela, de corpo e alma.

Heloísa percebeu que o homem passou a ficar mais cauteloso com os flertes e sua aproximação, como se seus movimentos fossem estudados para não assustá-la. Sempre que a beijava mantia as mãos em seu rosto. Aquilo estava mexendo com sua mente, precisava de mais. Sentia falta dos toques dele, das mãos percorrendo sua cintura e puxando-a para perto, fazendo suspirar entre os beijos. Precisava do calor dele.

A leitura já estava quase terminando, quando Leônidas percebeu que a mulher cochilava em seu ombro. Era hora de sair dali. A acordou suavemente, explicando que já era tarde e ouviu ela se levantar com um resmungo.

— Eu não estava dormindo, Leônidas, só estava descansando os olhos – argumentou – falta tão pouco para terminar, é um livro curto.

— Sei... mas está mesmo tarde. Amanhã terminaremos – disse isso aconchegando-a em seu abraço.

— Pena que a madrugada aparece tão rápido, eu amo esses nossos momentos – erguendo o rosto para olhá-lo.

— Eu também, minha rosa, eu também – e a beijou, acariciando seu rosto.

A todo instante Leônidas tentava demonstrar seu amor, deixando explicitamente claro que era todo dela. A amaria como nunca, porém não ultrapassaria seus limites, esperaria por Heloísa o resto de sua vida. Amava aquela mulher e era tudo o que importava.

Quando deu indícios de que iria se afastar, Heloísa se enroscou no pescoço dele e o puxou para mais um beijo. Estava sedenta, essa era a verdade. Queria mais dos lábios dele nos seus, a língua explorando sua boca e as mãos fortes marcando sua cintura. Num ousado movimento, mordeu o lábio inferior dele e escutou um gemido escapar da garganta. Aquilo acendeu algo dentro dele.

Não se sabe como, mas Heloísa já estava presa entre uma parede e o peito dele, e a cada momento o frisson aumentava dentro de si. Ele a agarrava na cintura, como se quisesse grudar seus corpos, e ela deixava as mãos se misturarem entre o emaranhado de cachos.

Leônidas desceu os beijos para o seu pescoço e um arrepio cruzou sua espinha. Estava inebriada com os toques dele, a barba por fazer lhe arranhando a pele, os lábios indo em direção ao seu colo, o robe já folgado implorando para ser jogado do outro lado da sala. Mais um pouco e logo estaria tonta com tanto desejo.

Porém, como uma infortuna do destino, um trovão tremeu a sala, avisando que uma tempestade estaria por vir. O barulho despertou Leônidas, era seu juízo retornando ao lugar, e ele percebeu como estavam ali. Com a testa grudada a dela, tentava controlar a respiração e seus pensamentos, porque em sua mente só passava as mil e uma maneiras que podia amar Heloísa naquele cômodo.

— É melhor subirmos, minha rosa – conseguiu dizer, finalmente.

Se despediram, na frente da porta do quarto dela, e ele depositou um beijo em sua testa.

Agora estava ali frustrada, numa insônia tremenda, divagando nos próprios anseios e sem conseguir controlá-los, enquanto escutava a chuva bater em sua janela. Suspeitava que também havia uma tempestade dentro de si. Talvez um banho frio ajudasse a dispersar aqueles pensamentos que rondavam sua mente e o calor insuportável que estava sentindo, ao contrário do clima presente lá fora. Contudo, não foi na direção do banheiro que Heloísa seguiu. À medida que cruzava o corredor, pedia intimamente que o homem estivesse tão acordado quanto ela, tão em chamas quanto ela.

Leônidas saía do segundo banho e esse aparentava estar mais gelado que o anterior, vestiu a calça do pijama e secava seu cabelo enquanto forçava a mente a pensar em outra coisa que não fosse Heloísa. Heloísa tão entregue, a pele dela em seus lábios, Heloísa arranhando sua nuca, o perfume o inebriando, Heloísa roubando os seus sentidos e enroscando seu pescoço, Heloísa, Heloísa, Heloísa... Pombas! Era completamente rendido por aquela mulher.

Mais difícil que dissipar suas lembranças, era controlar a vontade que tinha de correr até o quarto dela e tomá-la em seus braços, perdendo-se nela o resto da madrugada, ou simplesmente, ir até lá para tê-la em seu aconchego até que os primeiros raios de sol cruzassem o lugar. Será que ela o receberia? Será que também estaria acordada como ele? Valia muito a pena arriscar, precisava dela.

Assim que chegou, a porta foi aberta de supetão e a imagem que a mulher viu foi a provável razão da sua tormenta, aquilo não sairia de sua mente por um bom tempo. Os cabelos úmidos, com leves gotas de água escorrendo pelo corpo e o peito subindo e descendo pela respiração falha. Ao retornar os seus olhos para ele, Heloísa era puro desejo.

Rouba os meus sentidosOnde histórias criam vida. Descubra agora