O que aconteceu aqui?

76 6 0
                                    

O que aconteceu aqui? Não pode ser real. Alguém esteve dentro da minha casa. Me aproximo aos móveis da cozinha, não encontrei ninguém; vou para meu quarto e igualmente não há ninguém lá. Minha casa é menor que o tradicional das casas do EUA, nenhum humano de tamanho normal poderia se esconder por aqui. Verifiquei meu guarda-roupa, de porta a porta, mas não há ninguém nesta casa além de mim.

"E agora... e agora..." - soltei essas palavras em voz alta, trêmulo.

Se eu ligar para a polícia, eles me acusarão e eu serei o principal suspeito. Não posso ser preso, não agora que as coisas estão funcionando (elas estão funcionando de verdade). Minha namorada não pode vir para cá hoje; ao ver isto não acreditará em mim quando eu afirmar que sou inocente. Eu tenho que fazer algo!

Porém, como me desfaço dessa situação? Que irritação! Eu não preciso disto para minha vida! Estava indo bem; minha faculdade, que consegui entrar; meu relacionamento... céus. Será que eu devo esconder ou deixá-lo aqui? Eu tenho que sumir com esta coisa imunda! (Estava fedendo demais).
Mas como? Não existe lugar, não tenho amigos, eu não tenho contatos... estou sozinho nessa. Como devo prosseguir de aqui em diante? Meus olhos assombrados pela imagem aterrorizante daquele cadáver, deixaram-me em conflito à mente. Eu não sei o que posso fazer neste momento, é um mistério sobre o quê e como devo realizar.

Por que eu deixei a porta destrancada? Sou um grande idiota! É inútil, inútil! (Fazer mais e mais perguntas, elas não retirarão esse homem do chão frio de minha cozinha). E ficar aqui parado como um choramingas não irá me ajudar a sair desta situação. Eu preciso agir, o quanto antes!

Tentei tirar o homem com minhas próprias mãos, porém meus braços são fracos, magros - ao ponto de eu não ser capaz de tirá-lo do lugar. Então me atentei, como se fosse um gato espionando em noites escuras, e busquei algum meio de locomoção. Por sorte! Tenho um carrinho de supermercado - com algumas sacolas em cima. Trouxe o carrinho de mercado que havia na cozinha, para o lugar exato ao lado do homem. Tirei as sacolas, deixei-as no chão e levantei aquele defunto com um esforço enorme - tive que tentar 2 vezes até conseguir -, e o coloquei ali dentro. Não sei se consigo fazer isso sem gorfar o meu almoço; já estou com ânsia. Parei de olhar e tentei me acalmar por um momento.

Só imagino o quão absurda é a ideia de uma pessoa ter adentrado minha casa sem eu conseguir achar teus vestígios. Isto só poderia ter ocorrido quando eu não estava aqui hoje, das 11h às 20h; é tempo suficiente para matar um homem e escapar sem deixar o mero resquício dirigido à sua presença.

Logo depois de colocar o corpo no carrinho, me joguei ao sofá e fiquei olhando para a lâmpada desligada da cozinha.

Desleixadamente no sofá, contestando o que aconteceu em minha casa, começo a me questionar se estou ficando louco. Não, não, eu não matei ele. Eu estive sóbrio o tempo todo, apenas bebi um pouco!Não pode ter sido tanto assim, eu nem conheço esse homem. Mas... quem...

Fechei os olhos, respirei fundo para tentar aliviar o estresse, porém não me contive. Abri os olhos e percebi que minha cabeça estava se despedaçando em tantas indagações.

"Quem pôde fazer isso, afinal? Se não fui eu, quem?! Dentro de minha casa... não poderia ter sido em outro lugar? Ah! Que azar! Eu não sei o que fazer. Já são 22:34h, e esse corpo está matando toda a aura perfumada da minha casa. Isso fede demais!" - disse para mim mesmo em uma tonalidade de raiva. "Pare de reclamar, tolo!" - Continuei -, "Faça algo relevante ou ao menos levante do sofá!"

Após essa sessão ridícula de encorajamento, levantei do sofá e em sincronia com os espasmos - sentia os músculos de meu rosto como se houvesse um cão mordendo-o -, andei até o corpo. Meu coração está batendo lentamente, mal parece que estou querendo chorar. Fiquei cara a cara com ele, encarei-o tempo suficiente para me decidir a empurrar o carrinho para o banheiro.

Sem consciênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora