Adeus

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“Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E, se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você.”

Continuei com dúvidas.

— Mas, há algo que eu não entendi. Como consigo conversar com você conscientemente?

— Eu tenho uma hipótese, que faz um pouco de sentido. A hipótese é a seguinte: você, no momento em que matou Charles, atuou com desejo e querer. Consegue saber se naquele instante, com aquela faca, você se sentiu bem?

Tommy quer saber se eu gostei de matar?

— Por alguma razão, não me importei com ele. Desde o momento em que Charles me disse que eu tinha me envolvido no assassinato de Campbell, só uma coisa veio à mente: uma ideia. E essa ideia foi a de calar Charles, deixá-lo fora do meu caminho. Imaginei, momentaneamente, ele com a língua arrancada e caido — sangrando em meu carpete. — Não sabia que eu, ou você, havia matado Campbell; mas eu sabia que, por mais que eu fosse "inocente", iria virar alvo da polícia e da tal Janet. Foi isso o que eu pensei.

— Então eu estou certo. Você me aceitou. Foi ali que me deixou viver. No exato instante em que pensou em matar Charles e o fez.

— Então quer dizer que eu realmente tenho tendências a assassinar...

— Você não é assassino.

Tudo permaneceu silencioso em meu quarto.

— Thomas, de aqui em diante as coisas mudarão. Preciso que aja indiretamente, pois estarão em nosso pé futuramente.

Tommy me passou ideias, reflexões, instruções, princípios, regras e o plano que ele criou. Nosso primeiro passo era achar Janet, a mulher que sabe sobre tudo que eu e Tommy fizemos.

— Como faremos isso? — Perguntei andando ao lado de Tommy por uma rua solitária no meio da noite.

— Você vai agir como o Thomas normal, apenas. Não esqueça de sua faculdade. Amanhã, irá para as aulas — ele olhou para mim —, e vai agir normalmente. Ouviu?

— Entendo.

Tommy demonstrava em sua fala o quão cuidadoso era ao seguir com um plano de negociar com Janet — uma líder de gangue.

No dia seguinte, eu estava voltando da faculdade — às 16:43h precisamente. Tommy, como em todo momento, estava andando ao meu lado.

— Janet é inteligente. Notará que nosso amigo, Charles, desapareceu. E então, é aí que entramos. Ela buscará os principais locais onde Charles foi visto pela última vez.

— Ela vai nos achar e nos matar — gritei para ele.

— Pare de gritar — ele olhou para mim. — Ela obviamente irá nos encontrar. Janet enviou Charles até nós, lembra? Então, é só questão de tempo até ela mandar mais pessoas para nos matar. Conversaremos mais em casa.

Não entendo porquê de Tommy ser assim. Ele quer que acabemos num funeral como protagonistas dentro do caixão? Acho que isso não passaria pela cabeça dele... não há pessoas para fazer um funeral para nós.

Chegamos em casa e eu continuei perturbando Tommy com perguntas.

— O que faremos?

— Nada.

— Como assim? Você enlouqueceu? — Eu me agitei.

— Não, não estou maluco. Estou completamente são. Lembre-se, Thomas: eu mando em tudo, e você me obedece. Agora é o momento para seguir minhas ordens.

Sem consciênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora