DUDU
Na manhã seguinte ao título, uma segunda-feira, cheguei em frente ao portão do cemitério antes mesmo que ele fosse aberto, era bem cedo, mas na noite anterior tinha sentido que deveria ir até lá, deveria fazer uma visita à Clarissa, confesso que não fazia isso há uns meses.
Assim que foi aberto, adentrei pelo grande portão, deixei meu carro estacionado do lado de fora, resolvi que andaria até o túmulo, não era tão longe. Ao chegar no local deixei um buquê de flores sob o túmulo, eram iguais as flores que eu levei no dia que descobri seu falecimento, suas favoritas, margaridas.
O túmulo de Clarissa estava bem limpo, impecável, sinal de que alguém tinha passado por ali recentemente, fiquei feliz em saber que além de mim alguém vinha se lembrando dela.
— Oi minha princesa. — Encostei minha mão no azulejo gelado. — Você nem sabe o que me aconteceu, ganhei mais um título, um paulistão, queria tanto que você estivesse aqui, tenho certeza que iria estar bem feliz.
Me ajoelhei perto da porta do túmulo, mas continuei com a mão no azulejo, era o único jeito de ter contato com minha amada, eu tinha certeza que ela estava ali comigo.
— Se passaram três anos, mas nunca me esqueci de você e nunca vou, eu te amo tanto. — Acariciei o túmulo. — Ainda dói muito, o Verdinho ainda sente muito sua falta.
Eu mal sabia o que falar para Clarissa, sabia que ela tinha conhecimento de cada coisa que se passava em minha vida, ela estava comigo a todo instante, era o que eu sentia.
— Dudu?. — Ouvi uma voz conhecida me chamar.
No mesmo instante coloquei a mão em meu peito, eu não esperava que alguém fosse aparecer ali, assustei com o chamado repentino, olhei para cima e vi dona Helena parada me observando.
— Me desculpe te assustar meu filho. — Se desculpou.
— Não tem problema dona Helena. — Dei a ela um sorriso leve.
A mulher retribuiu o sorriso, colocou um vaso de planta sob o túmulo, limpou as mãos uma na outra, a essa altura eu já tinha me levantado de onde estava.
— Quanto tempo. — Abriu os braços para um abraço, qual eu dei bem apertado.
— Ainda dói muito. — Falei tentando segurar minhas lágrimas. — Eu mal sei olhar para a senhora sem chorar.
— Demorou muito para eu conseguir melhorar querido. — Passou os braços envolta de meu corpo. — Consegui acalentar toda a dor que sentia, mas a cicatriz nunca vai se curar.
Eu não falei mais nada, deixei minhas lágrimas escorrem ali, dentro do abraço de minha sogra, foi nos braços dela que me deixei desabar mais uma vez, chorei alto e de soluçar.
— Vamos tomar uma água, que tal? Você precisa se acalmar. — Falou enquanto acariciava minhas costas.
— O-ok.
Respirei fundo, tentando retomar o fôlego após tanto chorar, me sentei em um banco próximo ao túmulo de Clarissa, dona Helena se sentou ao meu lado, me ofereceu uma garrafinha de água e eu aceitei, me ajudou a me acalmar e melhorar a dor que sentia na garganta.
— Eu vi uma mulher muito parecida a ela ontem. — Somente após terminar de beber toda a água, confessei.
— Por isso não parecia tão feliz na comemoração, não é? Eu assisti tudo querido, parabéns a vocês, fiquei muito feliz com sua conquista.
— Muito obrigado. — Murmurei. — Eu desabei ontem, por isso estou aqui, senti que tinha vir falar com ela hoje.
— Eu venho aqui duas vezes por semana, converso com ela sempre, tenho certeza que seja lá onde ela esteja, Clarissa ama ter nossa presença aqui. — A mulher olhou para frente, parecia ir longe com a mente.
— Tenho certeza que ela ama, mas eu queria ter a presença dela, não me conformo nela ter morrido tão cedo, faltavam apenas vinte dias para o nosso casamento. — Senti meus olhos marejarem, ergui a cabeça olhando para cima, não queria chorar novamente.
— Ela estava tão alegre com isso, queria tanto se casar com você Dudu, mas eu tenho certeza que ela gostaria que você seguisse em frente.
— Ainda não é o momento dona Helena, eu não superei Clarissa, nunca vou, não quero ninguém, queria ela. — Olhei novamente para a mulher ao meu lado, agora ela também me encarava.
— Eu sei, mas ela precisa descansar. — Colocou a mão em meu ombro.
Apenas a encarei, não disse nada para dona Helena, talvez ela estivesse certa, eu precisava deixar Clarissa ir, mas como eu disse aquela não era a hora, na hora certa eu nos libertaria, mas por agora eu queria apenas ficar com os flashbacks de minha amada, me lembrar de cada detalhe seu, lembrar de cada detalhe que acertamos para o nosso casamento, nossa casa, onde agora eu morava sozinho, queria continuar lembrando do seu sorriso doce e voz mansa, ainda não estava preparado para achar outra pessoa, não estava preparado para abandonar Clarissa, queria levá-la comigo para a eternidade, assim como ela levou um pedaço de mim consigo.
FIM
➸ Agradeço a todos que leram minha história, peço que deixem seus votos e indiquem para outros :)
➸ Logo logo mais um conto será postado.
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Flashback | Dudu Pereira
NouvellesUm conto de apenas dois capítulos, onde Dudu encontra uma mulher parecida com sua noiva falecida. ❝...Encontrar com a irmã de Piquerez me lembrou muita coisa, olhar para um rosto tão parecido com o da minha eterna amada era estranho, mas me fazia re...