Agora que você já sabe o que aconteceu essa manhã, acho que podemos continuar a partir deste ponto.
De onde saíram aqueles policias Otto não sabia, mas tinha certeza de que alguma coisa estava errada. Primeiro o ataque, depois Artie falou sobre um cheiro estranho, pimenta e algo queimando – cheiro característico da poção queima-coração. Essa substância causa uma raiva incontrolável na pessoa ou ser que a ingerir – por último, um único dardo tranquilizante conseguiu derrubar uma criatura de mais de dois metros de altura. Definitivamente, algo nessa situação toda não estava certo. Mas Otávio não poderia fazer muito na forma em que estava, abriu um dos olhos, viu o céu azul e umas poucas nuvens, estava deitado no chão, o corpo dolorido devido aos cortes e perfurações causadas por Arthur em sua forma monstruosa.
— Tellus, cape me puellis. Plantae in processu sana me — Sussurrou Otto para que ninguém percebesse. Um leve tremor fez o chão abaixo dele se abrir, plantas envolveram o seu corpo e o puxaram para o fundo do buraco, com outro tremor o chão se fechou de modo que parecesse intacto.
Na sala do zelador um outro tremor abre um outro buraco no chão, vinhas começam a sair dele e a se enrolarem uma sobre as outras como uma cobra. Elas fazem isso até formarem uma espécie de casulo grande o suficiente para caber uma pessoa de porte médio, com um novo tremor as vinhas se desenrolam e voltam para o chão, o deixando como se nada tivesse acontecido. Otto que estava dentro do casulo está agora curado de todas as suas feridas.
— Garotas? — Ele diz em voz alta. — Vocês estão por aqui? — Sem resposta ele abre a porta da sala em que se encontra e começa a procuras pelas amigas. Por sorte sua busca não foi extensa, logo as encontrou na sala dos armários. — Jessie, Anna. Aqui estão vocês. — Diz Otto. Ao vê-lo elas se aproximam, Anna com cara de furiosa olha no fundo dos olhos do garoto e desfere um tapa contra a pele de sua face.
— O que foi isso? — Ela diz irritada e confusa, mas logo se acalma. — Que história é essa de você fazer magia? — Jessie cutuca a amiga.
— Deixa a DR para depois, Otto, você está bem? E o Artie cadê? Não me diga que eles o levaram? — O rosto de Otto fica pálido. É claro, pensou ele, só pode ser isso. — Otávio, essa sua cara de quem esqueceu o forno ligado só está piorando a situação. — Jessie olha para Otto e pergunta com os olhos já merejados de lágrimas. ‒ Levaram ele, não é?
— Sim, eles o levaram ‒ diz ele em estado de choque com a realização do que de fato aconteceu. — Levaram o Artie bem debaixo do meu nariz, sem que eu nem percebesse. O plano dos terroristas foi impecável, só entendi agora o que aconteceu. — Anna cai de joelhos no chão com os olhos cheios de lágrimas. Jessie por outro lado começa a estapear o loiro enquanto chora.
— De que adiantou você nos tirar de perto dele, e dizer que ia ajudar. — Um tapa acerta o rosto de Otto. — De que adianta saber magia se não consegue nem ajudar o seu melhor amigo a escapar de um grupo de terroristas. — Disse Jessie entre soluços. — Ele foi levado e aqui está você, sem um único arranhão.
— Não é verdade, pelo menos não tudo. — Ele diz entre os golpes. — Eu me curei com magia enquanto estava procurando vocês, eu quase morri tentando ajudar o Artie, eu quase morri pelas mãos do próprio Artie — Fiz uma pausa — Minha sorte foi que usei um feitiço de resistência aprimorada, senão eu seria um dos nomes na lista de óbitos. — Jessie parou de golpear o amigo.
— Artie não tentaria te matar, em nenhuma hipótese. — Falou Anna já de pé enquanto acalmava a amiga.
— Ele não — respondeu Otávio — mas a fera em que ele se transforma quando fica muito irritado só pensa em sangue. Para sorte dos outros e azar do Artie alguns policiais apareceram e acertaram com um dardo tranquilizante, ele voltou a ser humano pouco antes de cair no chão e ser levado preso pela polícia.
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Arthur Wulf: Entre Humanos e Demônios
FantasyO que você faria se aos 17 anos um segredo que você escondeu desde a infância viesse a tona por conta de um evento desagradável e irritante?