O mar está turbulento

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O mar está turbulento
Depois de ventos frescos
Amenos e convidativos
O mar está turbulento.

Selvagem, numa fúria cortante
Inunda-me e afoga meu ser
Náufrago de um mar sem fim
Um pirata a deriva no céu

As estrelas refletem nas águas
Num instante é calmo e sereno
Noutro retumbante quanto às vésperas da guerra
Não há como prever suas águas

Não há como domar sua natureza
Apenas alinho-me com suas ondas
Tento firmar-me, mas não encontro onde pisar
Só há imensidão, o vazio e o cheio
Embaixo e em cima, refletindo-se.

O horizonte é o mesmo e mescla-se
De dia, sol a brilhar exuberante
De noite, a escuridão e a lua como orquestra
Desse concerto de que chamamos natureza.

O mar como melodia, suas ondas
Marcam as vibrações dos sons
Abarcam a todas as coisas
E inundam toda a terra a frente

Vira e revira milhares de vezes
E no clímax, engole seus filhos
Transforma toda a terra numa Atlântida
Porque a ela lhe pertence

Os ventos, impacientes, rondam-me
Na esperança de contar, de arrastar-me
Às ondas, às promessas do imprevisível
A excitação do desconhecido

O mar está turbulento hoje
O mar está turbulento sempre
Não há leitura para suas linhas
Nem nada que possa capturar

Com destreza sua melodia
Não há padrões nem tempo
Aliás, este, é irrelevante
O tempo congela no mar

Ele nos enche e nos seca
Retira o ar de nossos pulmões
Ontem, estava sereno com o sol
Mas hoje, o mar está turbulento.

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