[02] Jogos de azar

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Fazia cerca de duas semanas desde que havia encontrado aquele livro misterioso nos arredores da casa

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Fazia cerca de duas semanas desde que havia encontrado aquele livro misterioso nos arredores da casa. Também andava estudando o fórum que Flora havia me indicado. Pela primeira vez em anos me senti pronta para arriscar entre uma grande conquista ou uma tragédia imensa. Após recitar as palavras uma chama sombria se formou dentro do círculo feito no chao, e em alguns segundos, tive finalmente a imagem do ser que buscava aprisionar. Minha tia ficaria tão orgulhosa...

— Ok, agora só falta a garrafa - disse frenética, observando a criatura à minha frente.

A coisa parecia diferente do que eu havia pesquisado, sua pele pálida e seus olhos azuis não condiziam com o que eu havia visto no livro. Aquilo se parecia mais com um palhaço da cultura gótica ou algo do tipo. A criatura me olhou em notável confusão de dentro do círculo. Fiquei mais confusa ainda, por dois motivos: o primeiro era que sua aparência de palhaço não me causava terror algum, o segundo era que o círculo deveria limitar sua visão a uma redoma escura. Ele não deveria estar me vendo.

— Você é por acaso algum tipo de proxy? — perguntou.

— Você é mais poderoso do que eu imaginei... Meu círculo de demônios foi feito com os melhores ingredientes e com três anos de meditação! - Comentei descontraída.

— Demônio? Ah, não não, você se enganou.
De repente a coisa me arrancou arrepios, atravessando o círculo sem muito esforço. — Eu consigo atravessar esse tipo de encantamento tranquilamente. Não sou um demônio, só fui levemente amaldiçoado, colega.

Pisquei algumas vezes antes de tatear a mesa atrás de mim em busca do livro certo. Assim que senti a textura de couro e as pedras que ornamentavam a capa, corri até a cozinha em busca de uma garrafa de vinho vazia, que havia deixado uma sobre o balcão. Com a garrafa já em mãos, recitei algumas palavras em celta antigo e mentalizei um forte círculo roxo no chão, além de escudos atrás e na frente de minha cabeça, que seriam brancos. Pude escutar passos lentos da coisa em minha direção, e por um momento, cheguei a pensar que era por receio, e não uma tentativa de me fazer temê-la. Uma vez na cozinha, ela me olhou surpresa.

— Você realmente faz... coisinhas, né? — disse o palhaço um tanto quanto surpreso, ou talvez fosse sua intenção parecer que estava.

-— Vocabulário atualizado pra um demônio, hein! Muitos adolescentes invocam você?

— Na verdade, sim — ele deu de ombros, levemente descontraído. — Se você soubesse o tanto de crianças e adolescentes que me perturbam, ficaria surpresa. Mas, na real, o que é você?

Tirei a rolha da garrafa discretamente e a pus em meu bolso.

— Não é óbvio? Uma humana!

— Nunca vi humanos fazerem isso — apontou para o chão e depois para minha cabeça. — Só em filmes.

— O fato de você nunca ter visto um escudo áurico antes é muito suspeito, não vai me fazer te subestimar.

Posicionei a garrafa na minha frente, fora do círculo, logo depois de desenhar nela algumas runas antigas de aprisionamento com marcador permanente. Segurei nas duas mãos um fio de nylon e o enrolei em ambas. O movimento deveria acontecer primeiro para dentro, depois deveria desenrolar e enrolar para fora. O palhaço apenas assistia, intrigado.

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