[03] Negócios

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— Porra

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— Porra... — suspirei me jogando de mal jeito no velho sofá branco, mal tive tempo de sentar na parte que ficava de frente para a TV. Independentemente, não era um lugar ruim de se sentar. Das doze poltronas do grande móvel em formato de um C quadrado, acho que graças a meu cansaço, parecia ter pego as três melhores quando me deitei. - Que puta dia.

— Jojo, é você? — ouvi de longe uma vozinha aguda e esperançosa. Gritei um sim cansado e avistei os cabelos loirinhos pulando em minha direção. Sorri mesmo sentindo meu corpo discordar a cada movimento e a abracei, passei a mão em seus cabelos suavemente e tirei do bolso algumas balas e chicletes que havia roubado, já sabendo que era isso o que ela queria.

Há um bom tempo eu havia me tornado um tipo de cleptomaíaco se tratando de doces e brinquedos, às vezes galhos bonitos também.

— Você é o melhor, Jojo! — disse abrindo alguns docinhos para colocar na boca. — vou guardar o resto pra minha amiga — foi o que entendi. Imaginei que fosse outra criança perdida que estivesse ajudando enquanto podia, antes que fosse a hora de livrá-la de seu sofrimento e deixá-la partir.

Fiquei feliz por minha amiguinha, mesmo sabendo do destino da outra criança e também o motivo de estar "perdida". Estava curioso para perguntar quem era essa amiga, mas Sal nunca respondia uma pergunta de imediato. As vezes para poder contar com mais detalhes algo empolgante em outra ocasião, as vezes por medo de coisas que só ela sabe.

No fundo todos nós somos assim, com medos quais ninguém além de nós conhece. Cada um tem seus monstros e eles, querendo ou não, são o que nos molda como somos.
À direita do sofá, no grande espaço do saguão, uma porta ao lado da escada se abriu lentamente. Pude sentir a estática emanando lá de dentro e me chamando para alguma coisa da qual eu não poderia escapar, como sempre. Fechei meus olhos e respirei fundo, caminhando sem muita vontade até lá.

Ele estava como sempre, impecável, acomodado em uma grande cadeira de galhos almofadada para suas costas retas e esguias. Costumava me perguntar como ele sentava de frente a uma mesa tão comum, questão que me foi respondida quando vi até qual tamanho ele era capaz de crescer. Presumi que também pudesse diminuir até um certo ponto.

— Era bom dar um jeito nesses rumores, já deve ser a quinta vez só essa semana — encarei sua sala de aspecto antigo, cheia de livros e artefatos.

— Onde esteve? — sua voz estava em minha cabeça mas parecia mais como se alguém falasse ao meu ouvido.

— Fui invocado por um humano qualquer, nada demais. De novo... - disse tentando não pensar no que vi. Não adiantou muito, já que segundos depois minha cabeça parecia que ia explodir de tanto barulho. Senti algo escorrendo de minhas orelhas enquanto me contorcia, cheguei a bater a cabeça na mesa com força, implorando que aquilo parasse. Quando parou, parecia que eu havia lembrado do que era respirar. Puxei o ar com força algumas vezes, ainda sem encará-lo.

ParadisumWhere stories live. Discover now