In another life...

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Foi no verão depois que terminamos o ensino médio, quando nos conhecemos por acaso. Ele era mais velho do que eu, mas morávamos no mesmo bairro e não paramos de nos ver mais. Às vezes pelos amigos em comum, às vezes pela rotina parecida, ou quando passávamos pela mesma loja de conveniência e o assunto não acabava mais. Era natural para gente.

Mantendo a distância ou tentando dizer a mim mesmo que nossa relação era algo platônico, unilateral, não teve como evitar o que estava óbvio desde o início. Eu já tinha me apaixonado muito antes dele perceber que gostava de mim também.

Andávamos pelas ruas lado a lado durante o dia, como bons amigos, mas nos beijávamos no seu Mustang ouvindo a estação de rock que tocava nossas músicas favoritas toda noite.

No meu aniversário de 19 anos, nós fizemos tatuagens combinadas e nunca me arrependi da dor, ou do dinheiro gasto, nem mesmo da bronca que levei, pois ele estava lá comigo para beijar meu pulso tatuado com nossas digitais em forma de coração.

E assim como os filmes de comédia faziam nossas tardes de fins de semana, também costumávamos roubar as bebidas dos pais dele e subir no telhado para ver as estrelas. Conversamos muito sobre nosso futuro lá, como se soubéssemos de algo. Sim, planejamos de tudo, mas eu nunca planejei que um dia eu o perderia. 

Talvez, em uma outra vida, eu seria seu garoto para sempre. Nós manteríamos  todas as nossas promessas, faríamos elas acontecerem e seríamos nós dois contra o mundo todo.

Em uma outra vida, eu teria feito diferente para não ter que lidar com a saudade que ainda sinto.

Como uma dupla de filme, nunca alguém nos encontraria sem o outro, nós fizemos um pacto silencioso diversas vezes sobre como jamais deixaríamos um ao outro. Todas as declarações em voz alta selavam isso, mas não mantivemos nossa promessa. Eu não manti a minha.

Às vezes, quando eu sinto sua falta, eu escuto aquelas músicas antigas e lembro exatamente de como eu me sentia ao seu lado. Fico me perguntando como ele está hoje. Ou aonde. Ou com quem.

Alguém me disse que ele removeu a tatuagem. O viram no centro da cidade, cantando música ao vivo em bares e restaurantes. Acho que está na hora de encarar os fatos, eu não sou mais a inspiração dele.

Em uma outra vida talvez fosse diferente...

Mas ainda nessa, eu entendo que não pudemos fazer mais naquela época. Eu não pude. A gente precisava de um tempo, eu precisava estar longe e ele não merecia esperar de olhos fechados e de braços abertos até que eu voltasse.

Só que agora todo esse dinheiro não pode me comprar uma máquina do tempo, não. Ele provavelmente ficaria orgulhoso se ouvisse sobre mim.

Mas não posso substituir Minho nem com um milhão de relógios de marca.

Eu deveria ter contado o que ele significava para mim enquanto tínhamos tempo para mudar alguma coisa, e agora eu pago o preço.

Em uma outra vida, eu seria seu marido, como costumávamos imaginar. Talvez teríamos um filho, alguns gatos, uma casa nossa, e por mais cansativo que meu dia poderia ser, eu ainda me sentiria satisfeito e feliz ao deitar ao seu lado.

Nós manteríamos todas essas promessas, seríamos nós dois contra o mundo, mesmo que me fizesse perder tudo. Porque, ainda assim, eu teria ele comigo.

E em uma outra vida, acima de tudo, eu teria ficado para não ter que dizer que fui eu quem fui embora.

The one that got awayOnde histórias criam vida. Descubra agora